NFJ#483 🌱 Que tal noticiar a catástrofe climática a partir da saúde?
IA nas redações: desenvolver ou comprar ferramentas? (💎) | Pagar drinks para o público ouvir fatos | Jornalismo comemora volta do X | Eleições 2024: o que precisamos aprender?
Hey!
Bem por aí, gente más linda?
Quando é melhor desenvolver uma tecnologia in house e quando é melhor adotar um serviço externo? Essa pergunta que nos acompanha desde sempre é tema da análise exclusiva para os nossos apoiadores aqui no Substack e no Apoia-se (💎). O Giuliander se debruçou um relatório do Financial Times que procura ajudar organizações jornalísticas a responder essa pergunta a partir do uso de IA nas redações.
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Hoje estamos eu (MO), a Lívia (LV) e o Giuliander (GC).
Bora.
Nosso agradecimento de <3 vai para:
Adriana Martorano Vieira, Alexandre Galante, Amaralina Machado Rodrigues Xavier, André Caramante, Andrei Rossetto, Antônio Laranjeira, Antonio Simões Menezes, Ariane Camilo Pinheiro Alves, Ben Hur Demeneck, Bernardete Melo de Cruz, Bibiana Osório, Bruno Souza de Araujo, Carlos Alberto Silva, Diogo Rodrigues Pinheiro, Edimilson do Amaral Donini, FêCris Vasconcellos, Filipe Techera, Gabriela Favre, Guilherme Nagamine, João Vicente Ribas, Jonas Gonçalves da Silva, Marcela Duarte, Marco Túlio Pires, Mateus Netzel, Milena Giacomini, Monica de Sousa França, Nadia Leal, Pedro Luiz da Silveira Osório, Priscila dos Santos Pacheco, Rafael Paes Henriques, Roberto Nogueira Gerosa, Roberto Villar Belmonte, Rodrigo Ghedin, Rodrigo Muzell, Rogerio Christofoletti, Rose Angélica do Nascimento, Rosental C Alves, Sérgio Lüdtke, Silvia Franz Marcuzzo, Silvio Sodré, Simone Cunha, Suzana Oliveira Barbosa, Taís Seibt, Vinicius Luiz Tondolo, Vitor Hugo Brandalise, Washington José de Souza Filho.
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🌱 O clima afeta a pessoas. Que tal noticiar a catástrofe climática a partir da saúde? Ligar a catástrofe climática à saúde pode ser a chave para chamar a atenção das pessoas para o fato de que O MUNDO ESTÁ ACABANDO. É o que sugere este relatório produzido pelo Information Futures Lab (IFL), da Escola de Saúde Pública da Brown University, em parceria com o Climate Week NYC. O problema é que quase ninguém faz isso. A pesquisa analisou quase 2,4 milhões de postagens nas redes sociais e de manchetes de veículos jornalísticos (em língua inglesa) e descobriu que apenas 3,1% desse conteúdo relaciona os efeitos dos eventos cada vez mais extremos no clima a impactos na saúde e no bem-estar das pessoas. E o que é pior: "A pesquisa também mostra que entre as postagens de mídia social que receberam mais engajamento, mensagens puramente negativas que não ofereciam soluções ou ações eram prevalentes em todas as plataformas, e especialmente disseminadas entre contas operadas por veículos de notícias ou jornalistas". Parabéns aos envolvidos. Mas dá pra mudar, gente. O documento nos lembra que as pessoas se importam bastante com a saúde. O texto, inclusive, salienta o aspecto "unificador" da temática, ou seja, a partir desse enfoque é possível falar com TODO MUNDO – alô, tio do zap negacionista – sobre a catástrofe climática. Uma comunicação efetiva sobre o tema, portanto, "evita mensagens genéricas e, no lugar, menciona o risco ou as ameaças à saúde" e "vai além do enquadramento de 'desgraça e tristeza'", entre outras recomendações. Aliás, o relatório The Untapped Potential of Climate Communication: Harnessing Health to Drive Action ("O potencial inexplorado da comunicação climática: aproveitando a saúde para impulsionar a ação") dedica um capítulo a recomendações de como girar a chave para que a cobertura de clima dê mais atenção à saúde. Por ora, dá pra olhar as sugestões do Poynter para achar enfoques para todo tipo de pauta a partir das mudanças climáticas. Enquanto isso, a gente segue preferindo se arriscar sob ventos de trocentos km/h pra noticiar a passagem do Milton. Como disse a Adriana Carranca, galera, a gente não precisa se colocar debaixo de chuva – levando destroços na cara, como o Anderson Cooper, da CNN – para cobrir um furacão assim como ninguém atravessa as chamas para cobrir um incêndio. (MO)
Se vocês curtirem a ideia, ela será o nosso diamante (💎) nas próximas edições.
🌱 Pagar drinks para o público ouvir fatos. Curti essa ideia do Drinks for Five, o segundo episódio do podcast Question Everything em que o âncora Brian Reed convidou quatro colegas – Ira Glass e Zoe Chace, ambos dos This American Life, Astead Herndon, repórter de política do NYT, e o ganhador do Pulitzer Jonathan Eig – para beber em um wine bar no Brooklyn e discutir o estado atual do jornalismo. Chique. Eles falam bastante do ambiente norte-americano, por supuesto, mas algumas coisas podem ser aplicadas a qualquer contexto atual de (des)informação. Um dos pontos é sobre a dificuldade do jornalismo chegar às pessoas. Glass acha, por exemplo, que ninguém na mídia mainstream está tentando criar um produto que converse com as pessoas que não acreditam na mídia. E que uma saída possível seria apostar na personalidade da pessoa à frente da iniciativa. Eu ouvi alguém dizer influenciadores? No Journalism Resources, a repórter Sundus Abdi pergunta se criadores de conteúdo também são jornalistas. Falando a partir da cobertura de entretenimento, a reportagem sublinha uma rusga comum entre jornalistas e influenciadores: enquanto o primeiro se prepara para fazer perguntas relevantes, buscando, muitas vezes, “encurralar” o entrevistado, o segundo aposta em uma informalidade capaz de deixar entrevistado à vontade. “Eu acho que há valor em entrevistas lideradas por influenciadores. Às vezes, o público quer ver superstars relaxando e se divertindo, para que você possa ver o humano por trás do artista ‘importante’”, disse o jornalista Thomas Hobbs à reportagem. Mas quem vai estar atento aos fatos quando a informalidade é a prioridade da conversa? Voltando ao Drinks for Five, Astead Herndon entende que houve “um grande retrocesso” em relação às conversas baseadas em fatos, e em parte isso foi intencional. “Eu acho que as pessoas ao meu redor que não estão na mídia realmente não se importam mais se é verdade ou não.” Por outro lado, às vezes (muitas vezes? quase sempre?) o jornalismo não sabe chegar às pessoas. Preciso dizer que achei engraçado um email enviado à ombudsman da Folha, Alexandra Moraes, cujo conteúdo ela compartilhou na coluna por ocasião do aniversário de 35 anos do cargo no jornal paulista. "A Folha continua sendo o farol da classe média esclarecida que vê o restante do Brasil como um mar de ignorância e trevas que deverá ser civilizado à força. É isso que vocês não entendem. O Marçal não é antissistema, o Bolsonaro não é antidemocrático... Eles são o subproduto da extensão da democracia a rincões em que ela antes nunca havia chegado.” Olha, difícil não concordar. E experimentem trocar “Folha” por “jornalismo”. Eu diria que essa é uma constatação que pode ser aplicada ao jornalismo como um todo, historicamente falando – especialmente o tradicional, a mídia hegemônica da qual fala Ira Glass. (MO)
🌱 Eleições 2024: o que precisamos aprender? Primeiro, como cobrir Marçal. Neste texto para o ObjEthos, o professor Samuel Lima analisa que “a forma torpe como Marçal hegemonizou o debate e sequestrou as atenções foi, aos poucos, sendo naturalizada pela mídia tradicional”. E destrincha o episódio do laudo falso contra Guilherme Boulos, divulgado na sexta-feira antes do primeiro turno. Para ele, a imprensa acabou sendo cúmplice de um ato criminoso, já que os títulos das matérias ( por exemplo, “Marçal divulga suposto laudo que aponta uso de cocaína por Boulos”, n’O Globo) davam um tom que o próprio texto interno contradizia, pois já havia muitas fragilidades na falsificação. “No dia seguinte, o tom da cobertura mudou. Veículos de imprensa passaram a trazer já no título que o documento era uma falsificação grosseira. O problema é que o dia seguinte quase sempre é tarde demais”, afirma o jornalista André Graziano, do ICL Notícias. Na mesma linha, Reinaldo Azevedo, colunista do UOL, aponta:
“Marçal não é o primeiro. Antes dele, houve Bolsonaro. Também não será o último. Se as redes precisam ser reguladas para combater verdadeiras organizações criminosas que operam no espaço virtual, entendo que o jornalismo deve tomar cuidado para que a atividade não se torne caixa de ressonância daqueles que, triunfando, destruirão o regime de liberdades em que existimos – jornalistas e não jornalistas. Ajudamos a dar corpo a um farsante perigoso. Foi um erro. E sei que vamos repeti-lo muitas vezes. Até quando?”
As checagens de agências especializadas evidenciaram a falsificação, mas também deram a dimensão do estrago. Segundo a Lupa, o laudo falso divulgado por Marçal chegou a cerca de 100 mil pessoas em apps, mesmo após desmentido. O Aos Fatos trouxe o importante contexto de que, desde agosto, Marçal mencionava em discursos ter um “documentozinho guardado” contra Boulos. Neste artigo publicado horas antes do pleito de domingo, Nilson Vargas, gerente-executivo de Jornalismo de Zero Hora, salientou que “em grandes momentos, como uma cobertura eleitoral, o jornalista ganha relevância pelo conteúdo que produz para as diversas plataformas e não por algum holofote que queira atrair para si em nome de personalismo ou ambição de influenciar em resultados. Ele não é um lacrador e não deve engendrar suas pautas com o intento de seduzir algoritmos de audiência”.
Ainda sobre eleições, o quinto relatório do Monitoramento de Ataques da Coalizão em Defesa do Jornalismo mostrou que o TikTok está se consolidando como um espaço caracterizado por ataques contra o jornalismo. E vejam só: a adesão de 95% dos jornalistas da EBC à greve que começou em 3 de outubro afetou a cobertura do primeiro turno pelos veículos públicos da empresa – TV Brasil, Agência Brasil, Rádio Nacional e Radioagência. De acordo com esta matéria do Sindicato dos Jornalistas de SP, “a ausência de repórteres, produtores e editores na redação obrigou que todo o trabalho fosse realizado pelos coordenadores e gerentes, profissionais que ocupam cargos de confiança”. Pra fechar o bloco, o jornalista Antônio Laranjeira chama atenção para o formato de mapas na divulgação dos resultados. Aqui, o exemplo de uma reportagem da Mangue Jornalismo, com os dados de Sergipe. (LV)
🌱 “Oi, sumidos!”. Foi com este tuíte bem-humorado que o Estadão marcou sua volta ao X, após o desbloqueio pelo STF nesta quarta-feira. “VOLTAMOS!”, escreveu O Globo, em caixa alta. Usando o mesmo recurso, a Folha brincou: “ALÔ, ALÔ...TESTANDO!”. Os jornalistas também comemoraram o fim da abstinência de 39 dias: “Saudade”, disse Miriam Leitão; “Alô, haters…VOLTEI!”, postou Octavio Guedes. Mesmo com a ofensiva de Elon Musk para destruir o potencial informativo do X, pessoas postaram coisas como “eu nunca fiquei tão desinformada em toda a minha vida como nesse um mês sem twitter” ou “graças a deus devolveram meu jornal matinal”. Esta que vos escreve não disfarça a alegria de ter uma verdadeira linha do tempo cronológica de volta, que privilegia o texto e os acontecimentos em tempo real. Apesar de seu dono. Falando nele, este texto de Maurício Cabrera avalia que o X virou o Truth Social, plataforma social de Donald Trump, e que hoje é a mídia militante mais poderosa do mundo. “Para Elon Musk, o X é uma Fox News de última geração”, diz. E isso afeta a indústria de notícias como um todo, já que o X é também um meio de comunicação que, pelo algoritmo, determina que tipo de alcance é dado ao que uma pessoa decide publicar.
“O X nas mãos de Elon Musk representa o pior da mídia com o mais maquiavélico dos algoritmos. Há meios de comunicação, em diferentes níveis, que sucumbem ao poder, têm preferências. Mas nunca antes eles foram tão poderosos quanto Elon Musk ao usar uma rede social para fazer com que suas mensagens e intenções cheguem aos ouvidos do público. A sociedade deveria ter critérios suficientes para compreender que os excessos do X podem ser combatidos contribuindo para a sobrevivência de meios de comunicação e jornalistas com certo apego às nuances”.
Mas Cabrera diz que, hoje, isso pode ser uma utopia. De qualquer forma, o Threads não parece ser ainda uma opção efetiva ao X. Neste artigo, Adam Tinwoth afirma que “os fios do Threads estão emaranhados”. Extremamente algoritmizado, como gosta nosso amigo Zuckerberg, o Threads está cheio de caça-cliques. Na avaliação de Tinworth, “esses tipos de plataformas de microblog funcionam melhor quando o tempo é o sinal de classificação mais forte, não o engajamento”. Concordo plenamente. (LV)
🌱 Notícias da indústria e links diversos. O Substack quer fazer mais do que apenas newsletters (Semafor) | Francesa Mediapart cria a função de responsável editorial de questões raciais (Laboratorio de Periodismo) | Como atrair 50 mil jovens profissionais em um ano: o exemplo da Morningcrunch (Laboratorio de Periodismo) | O New York Times redesenha seu aplicativo para destacar um universo além das notícias (Nieman Lab) | 20 novas ideias para monetizar produtos e serviços jornalísticos (Revista de Innovación en Periodismo) | Organização da Media Party: "Procuramos que o jornalismo e a tecnologia confluam, se entendam melhor e criem um idioma comum (Revista de Innovación en Periodismo) | Knight Center anuncia as datas do ISOJ 2025: 27 e 28 de março (ISOJ) | Pesquisa do Ibope diz que YouTube é mais visto que Globo e outras TVs abertas pela primeira vez (Folha de S. Paulo) | Gabeira diz que ficou evidente que o X precisa mais do Brasil do que o Brasil do X (Globo News) | Um guindaste atingiu o prédio do Tampa Bay Times durante a passagem do furacão Milton, mas os jornalistas continuaram trabalhando (NYT) | O Financial Times ultrapassa receita anual de £500 milhões pela primeira vez (Press Gazette). (GC)
💎 IA nas redações: desenvolver ou comprar ferramentas? Esses dias, a FT Strategies, espécie de consultoria/think tank do Financial Times, e a Google News Initiative (sempre eles) lançaram um relatório que se propõe a ajudar outras organizações de notícias a responder esse que é um dilema antigo do jornalismo em relação à tecnologia e que se amplifica a partir da disseminação do uso da IA nas redações.
Spoiler óbvio:
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