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☀️ Como não sermos (ou deixarmos de ser) escravos de robôs? [NFJ#408]

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☀️ Como não sermos (ou deixarmos de ser) escravos de robôs? [NFJ#408]

Antes do ChatGPT, algoritmos e SEO vêm moldando o jornalismo | A necessidade de regulação da IA | A urgência por regulação das plataformas | Os limites do paywall | As discussões sobre produto no SXSW

Moreno Cruz Osório
and
Giuliander Carpes
Mar 17
4
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☀️ Como não sermos (ou deixarmos de ser) escravos de robôs? [NFJ#408]

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Buenas, moçada!

Moreno aqui, abrindo mais uma NFJ e fechando a temporada de verão.

Na semana que vem iniciamos mais um ciclo outonal — embora o calor siga sufocante aqui no paralelo 30. E consta que só chove em São Paulo — ao menos essa é a previsão para o final de semana. Catástrofe climática taí, galera.

Considerem colaborar com $$. É só R$ 5,50 por mês para ajudar uma newsletter que ajuda vocês a pensar o jornalismo há quase 9 anos.

Antes de começar, deixem eu indicar um conteúdo dos nossos parceiros da ServerDo.in sobre como monetizar seu portal de notícias.

Agora sim. Bora. MO pra mim. GC pro Giuliander.


☀️ Algoritmos, IA, jornalismo. Oportuna a última edição da newsletter da Natalia Viana, da Pública, sobre sermos escravos de robôs. E não, ela (ainda) não está falando do ChatGPT. E sim dos algoritmos das plataformas que vêm, nos últimos anos, ditando os rumos das nossas vidas e moldando — pra dizer o mínimo — o jornalismo. Ela lança um olhar em retrospectiva para as principais mudanças realizadas pelas redes sociais e pelos mecanismos de busca em suas dinâmicas de funcionamento para lembrar como o jornalismo se ajoelhou às idas e vindas do Facebook e virou um servo do SEO. 

"No meio disso ficamos nós, jornalistas, que perdemos a tranquilidade de focar apenas na qualidade do produto que a gente entrega. Temos que passar cada vez mais tempo estudando e observando como funciona esse ou aquele algoritmo. Criamos equipes inteiras que trabalham para robôs, que passam seus dias tentando entender por que uma frase funcionou e outra não funcionou para agradar aos robôs que fazem a mediação entre o nosso conteúdo e o público."

Voltando ao assunto do momento, Dominic Ponsford alerta, no Press Gazette, para alguns problemas que inteligências artificiais como o ChatGPT podem causar ao jornalismo, especialmente quando forem incorporadas aos mecanismos de busca (como já está acontecendo com o Bing). Alguns já são conhecidos, como o plágio e a desinformação. Mas o que me chamou a atenção na sua argumentação é a possibilidade de haver uma completa desintermediação entre o público e o jornalismo a partir do momento em que as pessoas começarem a perguntar ao ChatGPT sobre determinados acontecimentos ou notícias. Isso significaria, segundo ele, além de um resultado em si potencialmente problemático — um texto com informações retiradas de várias fontes e sem links —, um desastre para o tráfego dos sites de informação. De quem entende e vem estudando IA aplicada ao jornalismo: no blog da Polis, 5 coisas que Brandon Roberts diz ter aprendido ao ensinar como a inteligência artificial pode ser útil a jornalistas. Roberts é autor do curso JournalismAI Discovery, organizado pela LSE e que teve mais de mil participantes de todas as partes do mundo. (MO)


☀️ do ObjETHOS, Natália Huf, Rogério Christofoletti e Dairan Paul são enfáticos: precisamos regular a inteligência artificial já! Chega de ficar testando o ChatGPT e de ficar dizendo no que ele é bom e no que ele não é. Tá na hora de "discutir os princípios que vão nortear o desenvolvimento desses recursos", escreveram. Afinal, para começo de conversa, ninguém quer que as IAs se tornem máquinas de mentiras. E mais, como fazer com que o jornalismo molde as ferramentas, e não o contrário (como vimos na discussão proposta por Natalia Viana)?, perguntam ainda os pesquisadores. E em seguida dão a real:

"O verbo “regular” gela o sangue dos inovadores, mas é necessário fixar limites em todas as áreas e mercados. Como as novidades surgem a cada segundo, precisamos correr. E mais: participar do processo, listando preocupações, sugerindo e debatendo as condições que podem garantir que essas soluções sejam verdadeiramente boas e cheguem à maior parte das pessoas."

Se quiserem ir além, o uso de IA no jornalismo foi tema de ao menos uma mesa no SXSW deste ano: ouçam aqui. E ainda: 20 links sobre jornalismo e IA. (MO)


☀️ Quem regula as plataformas e a disseminação da desinformação? Falando em regular, tivemos essa semana mais um capítulo sobre a questão da regulação das plataformas e a produção de legislação que possa conter o avanço desenfreado da desinformação — uma novela que já se arrasta por muitos anos. A Rede Globo e a Fundação Getúlio Vargas realizaram, no Rio de Janeiro, um evento com muitas das principais autoridades do país para debater o assunto. O problema está nessa foto postada no Twitter por Cristina Tardáguila, diretora sênior de programas no International Center for Journalism (ICFJ): 

Twitter avatar for @ctardaguila
Cristina Tardáguila @ctardaguila
Era pra ser piada, mas não é. HOMENS brancos que JAMAIS estudaram desinformação estão no palco para RESOLVER… a desinformação no #Brasil. É desse tipo de evento que saem ideias absurdas como imunidade parlamentar on-line. Uma pena @FGV. Os alunos na plateia mereciam mais.
Image
1:23 PM ∙ Mar 13, 2023
737Likes85Retweets

Entre os 14 palestrantes havia apenas três (!) mulheres: Patrícia Campos Mello, jornalista da Folha de S. Paulo, Andreia Saad, diretora jurídica tributária, societária e regulatória da Globo, e Caroline Tauk, juíza federal. Não estavam entre os convidados representantes das principais plataformas, que, como todos sabemo,s são os veículos mais importantes de disseminação da desinformação. No evento, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), manifestou apoio ao artigo 38 do Projeto de Lei nº 2.630/2020 (PL 2.630), conhecido como “PL das Fake News”, que tramita no Congresso. O artigo criaria uma espécie de "imunidade parlamentar" para deputados e senadores nas redes sociais, evitando que eles fossem punidos por distribuir conteúdos desinformativos. Ainda sobre o assunto regulação, a Pública entrevistou Francisco Brito Cruz, diretor executivo do InternetLab, para quem "regular as plataformas é uma tarefa da nossa geração". 

"Talvez melhorar esse sistema seja uma tarefa de alguns anos, mas dá para fazer coisas mais imediatas. A Europa tem dado alguns passos interessantes, como o de olhar para a atividade das plataformas de um ponto de vista menos casuístico e mais sistêmico."

(GC)


☀️ E agora, paywall? Vale muito ler a reflexão que Lívia Vieira (sim, a Lívia da NFJ) faz sobre paywalls neste texto publicado no ObjETHOS, onde ela atua como pesquisadora associada. Ela recupera a comemoração dos 10 anos do paywall da Folha de S.Paulo, o primeiro do Brasil, no ano passado, para questionar os benefícios que essa estratégia de captação de receita traz para o jornalismo como bem público. Lívia nos mostra que uma das primeiras referências quando se pesquisa por paywall em mecanismos de busca são alternativas para burlá-los -— o que aponta, segundo a pesquisadora, para a vontade que a informação tem de ser livre. Depois, lista dilemas éticos trazidos pelos paywalls ao longo dessas duas décadas de utilização pelo jornalismo brasileiro, como os problemas enfrentados pelo jornalismo local, a dificuldade que as pessoas têm para manter múltiplas assinaturas e o problema da desinformação. 

Outro texto, mesmo assunto, mais uma provocação: não estaria na hora de repensarmos a forma de gerar receita para além do paywall? É o que pergunta Cosmin Ene, CEO do Supertab, neste texto para o What’s New In Publishing. Ele traz números do mercado de assinaturas de conteúdos digitais dos EUA — onde menos de um terço das pessoas paga por produtos dessa natureza, mas mais de 80% assinam algum serviço de streaming — e se diz surpreso quando alguém se mostra otimista em relação ao futuro do paywall. Em dez anos, o setor de publicação digital não conseguiu atingir uma fatia de mercado que serviços muito mais novos conseguiram em muito menos tempo. E mais: a mídia digital ignora o fato de que perto de 98% da sua audiência mensal (dados dos EUA) nunca assinou seus serviços — ou seja, chega no conteúdo, mas para no paywall e desiste. ‘’Desse jeito’’, escreveu Ene, ‘’os editores não estão monetizando a maior parte de seu público — estão, sim, ignorando o potencial desses 98% e se concentrando apenas nos 2%, deixando uma enorme quantia de dinheiro pra trás’’. (MO)

Por outro lado, pesquisa recente do American Press Institute descobriu que 60% dos americanos com menos de 40 anos pagam por notícias ou fazem doações de alguma forma para organizações de notícias. "Ao todo, 51% das pessoas da geração Z (16 a 24 anos) pagam ou doam para veículos de notícias, e esse número sobe para 63% entre os jovens da geração millennial (25 a 31 anos) e para 67% entre os millennials mais velhos (32 a 40 anos). Os números sugerem um potencial real de receita sustentável — se as organizações de notícias, sejam elas de legado ou iniciantes, puderem criar conteúdo valioso para os millennials e a geração Z", diz o relatório da pesquisa. O problema é que a maioria (54%) desses pagadores ou doadores da geração Z e millennial admite que, na maior parte das vezes, só tromba com as notícias em vez de buscar por elas ativamente como gerações anteriores. (GC) 


☀️ SXSW23: Será que a "cultura de produto" pode salvar o jornalismo? Não sei vocês, mas o meu feed no LinkedIn anda cheio de fotos de conhecidos no SXSW (South by Southwest), em Austin, no Texas. Embora as discussões, principalmente em torno da IA, o assunto do momento, não tenham trazido muitas novidades, como bem pontua Rodrigo Ghedin no Manual do Usuário, achei interessante um painel que até casa com a reflexão acima sobre paywalls: é sobre a adoção da "cultura de produto" para reimaginar o futuro das notícias — especialmente as locais, uma das ramificações do jornalismo que mais tem sofrido com a plataformização de tudo. A discussão foi totalmente formada por mulheres, todas com um grande interesse por entender como as audiências consomem o jornalismo (um dos pilares da cultura de produto das notícias), e elas compartilharam ideias de produtos que aproximaram as organizações em que trabalham de comunidades que não vinham sendo atendidas por suas publicações.

O Arizona Republic, um jornal de Phoenix, cidade que recebe muitos imigrantes mexicanos, realizou uma ampla pesquisa sobre as principais reclamações desse público em áreas onde a publicação praticamente não tinha leitores. "Esse foi um passo muito difícil do trabalho porque muitas pessoas sequer sabiam da nossa existência", contou Kim Bui, diretora de produto e inovação de audiência da publicação. O resultado prático dessa interação foi (1) a elaboração de um guia que ensinasse essas pessoas a buscar seus direitos diretamente com a prefeitura e o governo estadual; (2) uma ferramenta para apontar para essa audiência conteúdo relevante e responder questões, e (3) a produção de histórias em longform sobre os problemas enfrentados por essa comunidade. "Isso foi basicamente para deixar os meus chefes satisfeitos e podermos avançar nas outras frentes", admitiu Kim, mostrando que ainda é muito difícil transpor algumas barreiras dentro das próprias redações. "Essa é a audiência que mais precisamos para evitar que o jornal morra. Mas queríamos construir algo para o público e não só para nós." 

Todo o áudio desse e de outros painéis da linha Indústria da Mídia do SXSW23 está disponível no site oficial do evento. Interessado em entender mais sobre o que significa a visão de produto no jornalismo? No fim de 2020, o Knight Lab da Universidade Northwestern publicou uma série de artigos (em inglês) sobre "product thinking". Os textos seguem atuais. Em fevereiro, o Knight Center lançou o curso "Gestão de produtos jornalísticos: Como adotar o 'product thinking' na sua redação". Ainda é possível se inscrever e acompanhar as aulas em vídeo e os textos sugeridos por Paty Gomes, diretora de produtos do Jota. (GC)


☀️ Links diversos. Abertas as inscrições para o 6º Prêmio ABMES de Jornalismo [ABMES]. Curso online sobre novas tendências e habilidades jornalísticas do Laboratório de Jornalismo da Fundação Luca Tena [FLT]. | Um guia do American Press Institute para jornalistas mulheres e pessoas não-binárias se protegerem da violência online [API]. | Uma lista feita pela Global Investigative Journalism Network com 10 erros simples de dados que podem arruinar uma investigação jornalística [GIJN]. | Inscrições abertas para pioneiro MBA sobre jornalismo independente da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) [AJor]. | Inscrições abertas para bolsas de doutorado pleno da Fulbright nos Estados Unidos [Fullbright]. | Uma lista com 7 canais de jornalismo produzido diretamente da Amazônia [Nexo]. | Em seu aniversário de 12 anos, Agência Pública anuncia sucursal em Brasília e chegada de Giovana Girardi [Pública]. | Triste notícia: fotógrafo Felipe Terremoto, do Jornalistas Livres, é morto a facadas no centro de São Paulo [Geledés]. | Jornal O Fluminense suspende circulação após 144 anos [Poder360]. | Ajudem a Raquel Almeida, pesquisadora da PUC Rio, em sua pesquisa de doutorado sobre a potência do jornalismo independente em pautar veículos tradicionais. Basta preencher este [formulário]. | Pra fechar, a propósito da discussão sobre etarismo que rolou na imprensa nos últimos dias, vale ler a provocação do professor Luiz Artur Ferraretto: "A chamada grande imprensa noticiou e criticou o caso das universitárias etaristas (no caso, preconceito contra pessoas mais velhas) do interior de São Paulo. No entanto, nos últimos dez anos, quantos jornalistas perderam o emprego em função da idade?" [Facebook]. (MO e GC)


Perdeu a última edição? Dá nada

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NFJ#407 ☀️ Igualdade de gênero avança pouco entre líderes de redações
Buenas, moçada! Moreno aqui, abrindo mais uma NFJ. Enquanto o verão se aproxima do fim (mas não aqui em Porto Alegre), vamos entrando no ritmo de 2023. O ano começou melhor do que 2022, vocês não acham? É a minha impressão. Mas uma coisa parece não mudar: aquele paradoxo do tempo em que segunda-feira parece que foi um século atrás ao mesmo tempo que a se…
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15 days ago · 4 likes · Moreno Cruz Osório and Giuliander Carpes

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É isso, moçada!

Bom final de semana!

Moreno e Giuliander


Nosso agradecimento de <3 vai para:

Adriana Martorano Vieira, André Caramante, Andrei Rossetto, Antonio Napole, Ariane Camilo Pinheiro Alves, Ben Hur Demeneck, Bernardete Melo de Cruz, Bibiana Osório, Caio Maia, Cristiane Lindemann, Davi Souza Monteiro de Barros, Diego Freitas Furtado, Edimilson do Amaral Donini, FêCris Vasconcellos, Filipe Techera, Gabriela Favre, Guilherme Nagamine, João Vicente Ribas, Jonas Gonçalves da Silva, Luiza Bandeira, Marcela Duarte, Marco Túlio Pires, Mateus Marcel Netzel, Nadia Leal, Pedro Luiz da Silveira Osório, Priscila dos Santos Pacheco, Rafael Paes Henriques, Regina Bochicchio, Roberto Nogueira Gerosa, Roberto Villar Belmonte, Rodrigo Muzell, Rogerio Christofoletti, Roogério Lauback, Rose Angélica do Nascimento, Samanta Dias do Carmo, Sérgio Lüdtke, Silvio Sodré, Suzana Oliveira Barbosa, Sylvio Romero Corrêa da Costa, Taís Seibt, Vinicius Luiz Tondolo, Washington José de Souza Filho.

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