Oi, gente, como estão? Lívia aqui.

Newsletter chegando na caixa de e-mails no início da semana. Aprovaram a mudança? Contem pra gente.

Enquanto o Brasil segue no caos, tentamos daqui contextualizar e dar sentido às mudanças que já estão acontecendo no jornalismo. Hoje a news tem texto meu e edição do Moreno.

Bora?

🍂 Como lidar com informação falsa em um contexto de medo e incertezas? As plataformas têm adotado medidas para conter o avanço da desinformação nas redes. Esta semana, o Instagram classificou como “falsa” uma postagem do presidente Jair Bolsonaro, a partir de verificação feita pela Agência Lupa. O interessante é que não deletaram o post, mas inseriram o aviso em uma tarja, o que possibilita que a pessoa veja a mensagem mesmo sabendo ser falsa. Já o Twitter, que chegou a excluir posts de Bolsonaro, anunciou a criação de etiquetas com advertências sobre informação falsa ou enganosa sobre a Covid-19. Essa questão dos selos de verificação é bastante complexa e subjetiva, né? Fizemos uma boa discussão sobre isso lá em 2018, nas edições #188 e #189, quando analisamos o “caso do terço do papa”, lembram? Pois bem. De lá pra cá houve esforços importantes, como este anunciado na quinta pelo Aos Fatos: agora a Fátima, robô que checa informações, está no WhatsApp. É possível consultar as checagens sobre o coronavírus, bem como solicitar verificações. Mas o cenário é tão complexo que, ao mesmo tempo que anunciamos avanços, percebemos alguns retrocessos. Vocês devem ter visto as críticas que Globo News e CNN sofreram esta semana por convidar o deputado Osmar Terra para participar de debates sobre a pandemia. O deputado, segundo o Aos Fatos, é campeão na disseminação de fake news. Para o jornalista Pedro Burgos, “há debates relevantes sobre as estratégias dos diferentes governos (...). Tudo isso é debatível. Você não chama alguém que não entende o que é ciência para isso”. Em artigo no Intercept Brasil, João Filho afirma que, “em nome de ouvir o contraditório — como se terraplanismos fossem matéria de opinião —, o jornalismo está servindo de escada ao obscurantismo”. Contrapor os dados falsos de um entrevistado como Terra é um enorme desafio e, para citar um bom exemplo, vale ouvir sua entrevista à Rádio Gaúcha. O jornalista Daniel Scola confrontou os argumentos equivocados um a um, como deve ser. E para quem quer se aprofundar no assunto, recomendamos muito esta entrevista com as pesquisadoras Claire Wardle, Joan Donovan e Kate Starbird, sobre a “inevitável crise de informação que se desenrolou em torno da pandemia”.

🍂 A Agência Pública fez uma excelente reportagem sobre o trabalho jornalístico nesta crise, em que profissionais “arriscam a vida em meio a demissões, cortes de salário e agressões do presidente”. Segundo a agência, pelo menos quatro profissionais já morreram durante a cobertura e muitos estão contaminados. Ontem, uma repórter da Band levou uma bandeirada na cabeça (?) durante cobertura da manifestação antidemocrática em frente ao Planalto. Não tá fácil e os passaralhos continuam, aqui e lá fora: chegou ao fim a Rádio Globo em São Paulo; o Diário de Pernambuco, jornal com mais de 200 anos, deixou de circular sua versão impressa; a Vice demitiu toda a equipe editorial no Brasil; o BuzzFeed encerrou as operações de notícias na Austrália e Reino Unido; o Quartz demitiu 80 profissionais; a Condé Nast dispensou cerca de 100 empregados nos EUA. Vejam que os nativos digitais, até bem pouco tempo promissores, também estão enfrentando sérias dificuldades. Para quem perdeu o emprego nesta crise, aqui estão algumas dicas práticas para melhorar o currículo e a presença digital. O Nieman Lab repercutiu os cortes e um memorando do CEO do Quartz, que culpa a perda de receita publicitária durante a crise do coronavírus. “Mesmo após a pandemia recuar, a provável recessão poderá prejudicar a receita publicitária nos próximos anos. As premissas anteriores sobre nossos negócios não se aplicam mais”, disse Zach Seward. O Knight Center reporta que jornalistas da América Latina estão sendo atingidos pelo desemprego, falta de equipamentos sanitários de proteção e precariedade geral. Para rastrear e avaliar os impactos da pandemia no jornalismo em todo o mundo diante de tantas demissões, o ICFJ e o Tow Center lançaram uma pesquisa global (falamos sobre ela na NFJ #274), cujo questionário já está aceitando respostas de jornalistas. Bora participar e ajudá-los a descobrir o que é preciso para manter o jornalismo viável?  E vamos finalizar este bloco com uma oportunidade: a National Geographic lançou um fundo de emergência para jornalistas e está selecionando projetos sobre a pandemia.

🍂 Nas últimas edições da NFJ, temos trazido análises sobre como serão as redações do futuro - serão distribuídas, dignas de tal nome? Para o professor Rogério Christofoletti, a pandemia oferece um risco iminente ainda maior: o fim das redações. Segundo ele, o desmonte tem sido gradativo, assim como a precarização do trabalho, e seu temor é que a Covid-19 acelere o fim desses espaços. “É preciso resistir e garantir as redações como espaços fundamentais da prática e da reflexão ética no jornalismo. Não se trata de nostalgia ou ranço passadista. Historicamente, o jornalismo praticado em circunstâncias coletivas tem se mostrado mais cioso, responsável e melhor”, defende. Neste texto bastante crítico, o professor Miguel Carvajal diz que o aumento histórico da audiência dos produtos e programas jornalísticos no primeiro mês de pandemia é de pouca utilidade diante do colapso da publicidade. “Embora as assinaturas tenham se recuperado, não será suficiente para sustentar o peso dos negócios no curto ou médio prazo. E aparentemente, redações distribuídas podem esconder uma tele-precariedade da atividade jornalística”. Mudanças drásticas na indústria da mídia já estão em curso: o Twitter anunciou esta semana que vai permitir que alguns empregados trabalhem de casa para sempre. Será este o novo normal?

🍂 Mais jornalismo e Covid-19: Cíntia Gomes, da Agência Mural de Jornalismo das Periferias, conta que, para combater a desinformação nas favelas, adotaram novas estratégias de comunicabilidade, como o podcast diário Em Quarentena, disseminado principalmente via aplicativo de mensagens de celular. Outro desafio nesta crise é combater a ignorância e, para o professor Jeff Jarvis, a melhor arma contra ela é a expertise. Falei com Jarvis esta semana sobre a lista de cientistas que criou no Twitter e ele deu boas dicas sobre como encontrar o especialista certo para cada assunto, como relatar as conclusões de estudos preprint sem espalhar desinformação e também como cobrir discursos presidenciais enganosos sobre a pandemia. Assistam à live "Futuro dos meios de comunicação após a pandemia", promovida pela Abraji e Embaixada dos EUA. E façam o download gratuito das orientações e glossário para jornalistas que estão cobrindo a pandemia, material criado pela Rede CoVida.

🍂 Leiam este artigo do Journalism.co.uk sobre jornalismo de soluções. A prática tem recebido novos holofotes nesse momento em que o público se diz cansado e angustiado com o noticiário, tão pesado pela natureza da pandemia. Giselle Green diz que, como resposta a esse mal-estar e ao desejo do público de notícias mais positivas, veículos vêm apostando nesta abordagem, definida como uma “cobertura rigorosa e baseada nas evidências das respostas a problemas sociais”. A Marcela Donini escreveu mais sobre o artigo publicado pelo Journalism.co.uk neste editorial da Matinal News. Falando na Marcela, ela também escreveu uma crítica, para o nosso site, a uma foto de capa da ZH que ilustra uma reportagem publicada sob o selo de jornalismo de soluções. O que chamou a atenção de jornalistas e professores não foi apenas a abordagem da matéria, mas a escolha por foto de banco de imagens sobre a qual ainda aplicou-se uma bandeira do RS. Nilson Vargas, gerente-executivo de jornalismo, comentou o caso.

🍂 O Facebook Oversight Board foi assunto na nossa última news e já tem sido alvo de críticas. Emily Bell argumenta que a criação de um conselho para regular a moderação de conteúdo pode ser, na verdade, uma estratégia de lobby de Mark. “A próxima década para o Facebook será decisiva no controle de seu próprio destino, escolha da regulamentação que deseja e manutenção do controle de suas próprias práticas. Vejo o conselho como uma extensão dessa função de lobby com a ressalva de que pode produzir algumas ideias e benefícios”. Margaret Sullivan, colunista de Mídia do Washington Post, duvida da efetividade de um comitê formado por 20 pessoas. “Pior ainda, pode servir a um propósito preocupante: encobrir a necessidade de reformas significativas no Facebook. Seus esforços para evitar regulamentações que dificultam os lucros são bem conhecidos. Agora eles podem apontar e dizer: Veja, nós demos um jeito nisso!”. Aron Pilhofer discorda de Sullivan e pede um pouco de crédito ao Facebook. “Nenhuma empresa na história concedeu a 20 pessoas de fora esse nível de autoridade. Poderíamos pelo menos esperar até que o conselho tenha feito (ou não feito) algo antes de declararmos um fracasso ou uma tentativa de pagar os críticos?”.

🍂 O Atlas da Notícia agora tem uma página em inglês. E o Voz da Comunidade lançou seu aplicativo. Veja esses cases de jornalismo que já tiveram o apoio do Google para criação de projetos em vídeo. A WAN-IFRA lançou um guia gratuito para equipar organizações e profissionais de mídia com ferramentas para melhorar o equilíbrio de gênero no conteúdo. Vejam 10 considerações antes de criar mais um gráfico sobre Covid-19. Lembram do Inumeráveis (falamos sobre ele na NFJ #276)? Desde que foi lançado, o projeto que conta as histórias por trás dos números da Covid-19 teve grande repercussão, se tornou inspiração para esta capa do jornal O Globo e para uma homenagem às vítimas feita pelo Fantástico. Saibam mais detalhes nesta matéria do Knight Center. Leiam o que Angela Merkel disse sobre liberdade de imprensa: para a chanceler alemã, uma imprensa crítica é fundamental em tempos de pandemia, para que possa confrontar governos e munir a sociedade de informação confiável.

É isso, gente. Boa semana pra todo mundo e até segunda que vem.

Lívia Vieira e Moreno Osório

Nosso agradecimento de <3 vai para:

Adriana Martorano Vieira, Alciane Baccin, Ana Claudia Gruszinski, Ana Paula Rocha, Anderson José da Costa Coelho, Anderson Meneses, André Caramante, André Schröder, Andrei Rossetto, Ariane Camilo Pinheiro Alves, Bernardete Melo da Cruz, Bibiana Garcez, Bibiana Osório, Boanerges Balbino Lopes Filho, Caio Cesar Giannini Oliviera, Carolina Oms, Carolina Silva de Assis, Casemiro Alves, Cecília Seabra, Cristiane Lindemann, Davi Souza Monteiro de Barros, Diego Freitas Furtado, Diego Queijo, Edimilson do Amaral Donini, Eliane Vieira, Emilene Lopes, Estelita Hass Carazzai, FêCris Vasconcellos, Felipe Benício da Costa Dias, Felipe Cruz, Felipe Seligman, Filipe Techera, Flavio Dutra, Gabriel Jacobsen, Gabriela Favre, Giuliander Carpes, Guilherme Nagamine, Isaque Criscuolo, Itevaldo Costa Junior, Janaína Kalsing, João Vicente Ribas, Jonas Gonçalves da Silva, Jordana Fonseca, Jorge Eduardo Dantas de Oliveira, Kaluan Bernardo, Leticia Monteiro, Luiz Denis Graça Soares, Marcela Duarte, Marcelo Crispim da Fontoura, Marco Túlio Pires, Margot Pavan, Maria Elisa Maximo, Mayara Penina, Michelle Raphaelli, Nadia Leal, Nara Leal, Natália Levien Leal, Paula Bianchi, Pedro Burgos, Pedro Luiz da Silveira Osório, Pedro Rocha Franco, Priscila Bernardes, Priscila dos Santos Pacheco, Rafael Grohmann, Raquel Ritter Longhi, Regina Maria Pozzobon, Roberto Nogueira Gerosa, Roberto Villar Belmonte, Rodrigo Muzell, Rogerio Christofoletti, Rose Angélica do Nascimento, Sérgio Lüdtke, Sérgio Spagnuolo, Silvio Sodré, Tatiane de Assis, Vinicius Batista de Oliveira, Vivian Augustin Eichler, Washington José de Souza Filho.