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Buenas, moçada!

Moreno aqui, esperando o jogo do Nadal em Monte Carlo e curtindo a dignidade climática que o mês de abril oferece aos habitantes da latitude onde me encontro.

Querem saber como é estar no paralelo 30 no outono? Deixo vocês com esse trechinho do Tempo e o Vento, do Erico Verissimo, em que o médico alemão Carl Winter discorre sobre o clima no Continente de São Pedro nessa época:

De meados de março a meados de junho a luz era madura e cor de âmbar, e o ar, morno ao sol e fresco à sombra. O vento, que ele tanto detestava, o enervante vento que às vezes o fazia praguejar, amaldiçoando aquela terra e aquele clima - cessava por completo. Os crepúsculos faziam-se mais ricos e longos, como se Deus ou quem quer que fosse dispusesse de mais tinta, de mais tempo e de mais arte para pintar o céu do anoitecer. […] No outono as moscas diminuíam, os mosquitos começavam a desaparecer e aquela luz generosa parecia deixar menos feias as pessoas e as coisas.

Minha tia Ana Lúcia tem razão: o céu de abril é o mais bonito do ano por aqui.

Às vezes a vida dá sinais da sua força.

A NFJ#320 tem curadoria da Lívia, texto dela e meu e edição final minha. Além disso, tem o apoio da ServerDo.in.

Bora.

🍂 As redações ainda não sabem o que fazer quando seus jornalistas são assediados online, especialmente mulheres e negros. No Nieman Lab, a equipe do The Objective relembra o caso da repórter do Washington Post Felicia Sonmez, que foi proibida de cobrir assédios sexuais depois de contar publicamente que ela mesma havia sofrido com isso. Ela rapidamente virou um alvo de ataques nas redes sociais e só bem recentemente o Post acabou com a proibição. Para Elisa Lees Munoz, é preciso uma mudança de cultura na indústria da mídia para levar a violência online tão a sério quanto a violência física. Neste texto para o Nieman Reports, a diretora do International Women’s Media Foundation diz que o aumento da polarização política e do tempo de tela durante a pandemia, além do crescimento de trolls misóginos organizados, exacerbaram o problema. No Afeganistão, em meio ao crescimento de mídias independentes, aumentam também as dificuldades para o exercício da profissão. Este texto no site do Reuters Institute mostra que 65 defensores dos direitos humanos e profissionais da mídia foram mortos entre janeiro de 2018 e janeiro de 2021 naquele país. Aqui no Brasil, a Abraji tem um cartilha que orienta jornalistas a lidar com o assédio online, e ainda lançou esta semana mais duas ferramentas importantes: o Bolos AntiBlock, em parceria com o Congresso em Foco, que mostra se o jornalista foi bloqueado por autoridades públicas no Twitter; e o Programa de Proteção Legal para Jornalistas, que quer garantir assistência jurídica a jornalistas que, em razão do seu trabalho, estejam sendo silenciados por meio de processos judiciais. O programa, feito em parceria com o Instituto Tornavoz e com financiamento da organização Media Defence, também irá acolher profissionais que estejam sendo assediados ou ameaçados e que tenham interesse em processar civilmente os agressores.

🍂 A pandemia de Covid-19 fez o jornalismo de dados entrar na linguagem cotidiana. Quem não se lembra do gráfico sobre “achatar a curva?”. Javier Sauras, da Universidade de Columbia, e Adrián Blanco, do Washington Post, contam na GIJN sobre pesquisa que fizeram com 50 jornalistas de dados de diversos países do mundo. Além dos mapas, gráficos de barras e linhas estão entre as ferramentas favoritas pelos respondentes para descrever a pandemia. Neste outro texto para a GIJN, Rodrigo Menegat, Tiago Maranhão e Vinicius Sueiro contam detalhes da criação de “No epicentro”, mapa interativo da Agência Lupa, em colaboração com o Google News Initiative, que dá aos leitores uma dimensão visual da tragédia com base no lugar onde moram. E já que o assunto é esse, leiam no ijnet dicas para evitar erros comuns em visualizações de dados. Outra consequência da pandemia - essa não tão boa - é o cansaço das notícias. Neste texto, Meenal Thakur, do The European Journalism Centre, pergunta: como podemos garantir que as pessoas continuem engajadas no cenário de informações bastante complexo, mas necessário? Algumas recomendações: pesquise o que o público está procurando além das informações sobre a pandemia; fortaleça as habilidades de SEO do seu veículo; webinars e podcasts com especialistas são uma boa maneira de envolver a audiência. No puroperiodismo, pesquisadores das universidades católicas de Valparaíso, Alberto Hurtado e Austral relatam que as organizações de notícias chilenas priorizaram fontes políticas na cobertura da pandemia nas redes sociais. Enquanto essas representaram 58% do total analisado, as fontes de saúde ficaram em segundo lugar, mas com apenas 13%.

🍂 Vocês lembram do Oversight Board, o conselho de supervisão do Facebook, né? Nosso amigo Mark anunciou que agora a chamada “suprema corte” da plataforma começará a aceitar solicitações de usuários para remover conteúdo prejudicial do Facebook e Instagram. Neste fio no Twitter, Emily Bell avalia que trata-se de uma ampliação importante da competência do conselho, pois Zuckerberg já entendeu que as regras de moderação não são escaláveis. Assim, “ele aplicará o julgamento humano onde estiver sendo criticado publicamente”, diz a professora de Columbia. Ainda sobre o Facebook, esta reportagem do The Intercept Brasil descobriu que José Ziebarth, executivo da empresa responsável por políticas de privacidade, foi indicado pelo governo para o Conselho Nacional de Proteção de Dados. A repórter Tatiana Dias resume: “parece irônico que um dos assentos do órgão seja destinado a um alto executivo de uma empresa que usa dados e informações pessoais justamente para gerar dinheiro – e é”. No UOL, Daniel Castro repercute a parceria inédita entre Globo e Google, que permitirá à emissora ter acesso a tecnologias da Big Tech para modernizar suas operações e criar o que estão chamando de “TV do futuro”. Em sua coluna no NYT, Ben Smith investiga por que a indústria de mídia está tão assustada com o Substack. Para ele, as forças da plataforma de newsletter estão na remuneração a escritores individuais e na possibilidade que eles têm de construir uma base direta de leitores pagantes. Mas a concorrência está crescendo: o Ghost, desenvolvido em código aberto e sem fins lucrativos, captou uma das maiores newsletters do Substack; o Twitter comprou a plataforma de newsletters Revue; e o Facebook está desenvolvendo uma ferramenta de boletins informativos para jornalistas (falamos sobre isso na NFJ #317). Leiam este texto de Damian Radcliffe no Journalism.co.uk sobre a evolução das redes sociais desde a Primavera Árabe, que está completando 10 anos.

🍂 Vamos às notícias da indústria? O site da CartaCapital bateu recorde de audiência em março e ultrapassou 8,7 milhões de visitantes únicos. | Em comemoração aos 10 anos da Agência Pública, Marina Dias escreve sobre o caráter inovador do veículo, que já nasceu sem fins lucrativos.| Casey Newton acaba de lançar, com mais sete jornalistas, o Sidechannel, um servidor no Discord que será uma espécie de redação virtual aberta para assinantes da newsletter Platformer. | Fechado desde 2016, o Gawker, site de notícias e fofocas, voltará com um blog comandado pela ex-redatora Leah Finnegan. [Nieman Lab] | A Reuters News nomeou Alessandra Galloni como editora-chefe. Ela será a primeira mulher a liderar a agência de notícias em seus 170 anos de história. | O Washington Post vai ampliar suas equipes na Europa e Ásia para construir uma redação global de cobertura ao vivo 24 horas. [Digiday] | O BuzzFeed disse que a pandemia de Covid-19 contribuiu para uma queda de 16% nas receitas de suas operações fora dos Estados Unidos. [PressGazette] | The 19th*, startup de notícias sem fins lucrativos lançada no início da pandemia, aumentou seu orçamento em 50% este ano e comemora 10 mil assinantes. [Poynter] | O Independent News & Media (INM), da Irlanda, passou de 0 para 30 mil assinantes em um ano com uma estratégia “digital first” e reavaliação das métricas editoriais. [Journalism.co.uk] | E vejam que curioso: a cobertura da BBC sobre a morte do príncipe Philip foi campeã de reclamação dos telespectadores, que se irritaram com a substituição de diversos programas de TV e rádio pelos tributos reais. [Guardian]

🍂 Este estudo produzido pelo The Media Insight Project, parceria do American Press Institute com o The AP-NORC Center for Public Affairs Research, abre uma discussão interessante a respeito da confiança do público norte-americano na imprensa. Segundo o estudo, as pessoas estão se afastando do jornalismo mais em função dos seus valores morais do que de suas posições políticas. Ou seja, boa parte das pessoas simplesmente não concorda com os valores jornalísticos porque eles não conversam com seus próprios valores individuais. Não parece bom, né? Como os pesquisadores chegaram a esta conclusão? Colocando lado a lado cinco valores que sustentam a nossa profissão e cinco "valores morais fundantes" - emprestados do psicólogo Jonathan Haidt, que publicou, junto com colegas de área, um trabalho chamado Moral Foundations Theory. E quais valores são esses? Deem uma olhada aqui. Mas aqui vai um resumo. Do lado do jornalismo: 1) factualidade (factualism) - a ideia de que, quanto mais fatos uma pessoa tiver à sua disposição, mais perto estará da verdade; 2) diversidade (giving voice to the less powerful) - a ideia de dar voz aos menos poderosos, amplificar a voz de quem nem sempre é ouvido; 3) transparência (transparency) - a ideia de que quanto mais aberta uma sociedade é, melhor ela funcionará; 4) vigilância (oversight) - a necessidade que as pessoas têm de acompanhar o trabalho do poder público; e 5) crítica social (social criticism) - a ideia de que uma sociedade funcionará melhor se jogar luz sobre seus problemas. Do lado da psicologia: 1) autoridade (authority) - mede o respeito das pessoas à autoridade, à hierarquia, à liderança e à tradição ; 2) cuidado (care) - mede a importância de cuidar e proteger o próximo ; 3) pureza (purity) - diz respeito a como as pessoas se sentem a respeito de virtudes como a santidade; 4) lealdade (loyalty) - mede o quanto uma pessoa está ligada a um grupo; e 5) justiça (fairness) - mede o quanto é importante a justiça, a equidade e o altruísmo. Alguns dos principais resultados: apenas um dos cinco valores jornalísticos tem o apoio da maioria dos norte-americanos ouvidos pela pesquisa (67%). Apenas 11% concordam com os cinco valores jornalísticos. Apenas 29% acham que jogar luz sobre os problemas é o melhor caminho para melhorar uma sociedade. As pessoas que dão mais importância à lealdade e à autoridade tendem a ser mais céticas em relação aos valores do jornalismo. E aí, o que fazer, então? O próprio estudo dá alguns caminhos. Deem uma olhada. A survey ouviu quase 4 mil norte-americanos adultos espalhados pelo país em dois momentos entre 2019 e 2020. Depois, ainda houve uma rodada de entrevistas. Confiram aqui a metodologia. O estudo repercutiu por lá. Mathew Ingram resumiu os principais pontos, na CJR. Margaret Sullivan também, no WP.

🍂 Fechamos com o nosso bloco de diversos. Segunda e terceira partes das melhores narrativas de 2020, seleção do Máster en Innovación en Periodismo, da Universidad Miguel Hernández. | Como redações podem aprender com outras indústrias, no WAN-IFRA. | A Reuters implantou um paywall a US$ 34,99/mês. | O JSource investigou a relação entre o ideal jornalístico e a prática profissional. | Os funcionários da área de tecnologia do NYT criaram um sindicato. |  Conselhos para evitar o esgotamento com tantas chamadas em vídeo. | Vejam a imagem que ganhou o World Press Photo 2021. | No Novo em Folha, informações sobre nova temporada do podcast Briefing, que vai focar em novos modelos de negócios para a comunicação. | O Marshall Project lançou um projeto para refletir sobre a linguagem usada pelo jornalismo policial nos EUA. | A edição 2021 do Malofiej, o Pulitzer da infografia, está com inscrições abertas. | Tem vaga no UOL. | Saiu a lista dos principais palestrantes do ISOJ2021. | Para o jornalista Chris Blackhurst, a morte das redações significará a morte do jornalismo. "A redação é muito mais do que cobrir um atentado terrorista, um desastre ou um escândalo político. É sobre um buzz, sobre uma química intangível, um perfume intoxicante, é sobre pessoas, jovens e veteranas, provocando uns aos outros, compartilhando ideias, lides e informações, e, sim, é sobre fofocas e risadas. [...] Uma redação é onde as coisas acontecem." Saudade de uma redação, hein! |

É isso, moçada.

Bom final de semana e até sexta que vem.

Moreno Osório e Lívia Vieira

Nosso agradecimento de <3 vai para:

Adri Brum, Adriana Martorano Vieira, Alciane Baccin, Ana Claudia Gruszynski, André Caramante, André Roca, André Schröder, Andrei Rossetto, Ariane Camilo Pinheiro Alves, Bárbara Pereira Libório, Bernardete Melo de Cruz, Bibiana Garcez, Bibiana Osório, Boanerges Balbino Lopes Filho, Caio Cesar Giannini Oliviera, Carina Seles dos Santos, Carolina Oms, Casemiro Alves, Cecília Seabra, Clube do Português, Cristiane Lindemann, Davi Souza Monteiro de Barros, Diego Freitas Furtado, Diego Queijo, Edimilson do Amaral Donini, Eliane Vieira, Emilene Lopes, Estelita Hass Carazzai, Fabiana Moraes, FêCris Vasconcellos, Felipe Branco Cruz, Felipe Seligman, Filipe Speck, Filipe Techera, Flavio Dutra, Gabriela Favre, Giuliander Carpes, Guilherme Caetano, Guilherme Nagamine, Janaína Kalsing, João Vicente Ribas, Jonas Gonçalves da Silva, Jorge Eduardo Dantas de Oliveira, Leticia Monteiro, Lia Gabriela Pagoto, Lilian Venturini Gavaldão, Lucia Monteiro Mesquita, Luiza Bandeira, Marcela Duarte, Marcelo Crispim da Fontoura, Marco Túlio Pires, Margot Pavan, Maria Carolina Medeiros, Maria Elisa Maximo, Maria Inês Möllmann, Mateus Marcel Netzel, Mayara Penina, Michelle Raphaelli, Nadia Leal, Nara Leal, Natália Levien Leal, Nícolas Barbosa, Nina Weingrill, Paula Bianchi, Paulo Talarico, Pedro Burgos, Pedro Luiz da Silveira Osório, Priscila dos Santos Pacheco, Rafael Grohmann, Raquel Ritter Longhi, Regina Maria Pozzobon, Renata Johnson, Roberto Nogueira Gerosa, Roberto Villar Belmonte, Rodrigo Muzell, Rogerio Christofoletti, Rose Angélica do Nascimento, Rosental C Alves, Samanta Dias do Carmo, Sérgio Lüdtke, Sérgio Spagnuolo, Silvio Sodré, Suzana Oliveira Barbosa, Tai Nalon, Tais Seibt, Vivian Augustin Eichler, Washington José de Souza Filho.

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