NFJ#350 🌼 O legado de Adelmo Genro Filho: como o jornalismo é capaz de transformar a realidade
A cobertura da morte de Marília Mendonça | Os seis anos da Agência Lupa | O lançamento da WikiLAI | Greve dos jornalistas de SP | Segunda edição do Data Journalism Handbook é lançado em português
Buenas, moçada!
Moreno aqui, abrindo mais uma Newsletter Farol Jornalismo de nossas vidas.
Sexta ventosa e ensolarada aqui no sul. Feira do Livro terminando em Porto Alegre, ATP Finals começando em Turim. Perceberam que falta tipo um mês para terminar o ano? A coisa tá ligeira, moçada. A partir de agora, cada final de semana tem evento de final de ano. Pessoal tá ÁVIDO por viver depois que a pandemia deu uma amenizada.
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Agora vamos nessa!
🌼 Cobertura da morte de Marília Mendonça. Uma semana após a morte da cantora sertaneja em um acidente de avião, selecionamos algumas reflexões sobre a cobertura jornalística do caso. A primeira versão da assessoria de imprensa informava que os ocupantes do avião tinham sobrevivido e estavam bem, mas os bombeiros não confirmavam. Isso causou confusão e evidenciou as dificuldades desse tipo de apuração. Em nota divulgada nesta segunda-feira, a assessoria disse que em nenhum momento o equívoco foi intencional e que “fontes confiáveis foram responsáveis pela informação de que havia sobreviventes”. No UOL, Mauricio Stycer destacou que “os momentos iniciais foram marcados por muita desinformação e exageros”. [Aqui vale um comentário nosso: Stycer chama a informação errada de “fake news”, mas não se trata disso. Erro jornalístico não é deliberado e, portanto, diferente conceitualmente de fake news]. O BuzzFeed fez uma curadoria de posts mostrando que “parte da imprensa e dos usuários das redes sociais parecem ter desaprendido a lidar com o respeito ao luto alheio”. A Folha foi criticada por artigo do professor Gustavo Alonso, publicado no dia seguinte ao acidente. O Congresso em Foco compilou algumas delas, que destacam o tom machista e gordofóbico do texto. Esta matéria do UOL chama atenção para a comunicação de tragédias sob o ponto de vista das empresas ou personalidades que vivem momentos de crise. Esperar a confirmação dos dados antes de emitir uma informação oficial, responder os questionamentos da imprensa e agir com rapidez na correção de erros são algumas estratégias indicadas por especialistas. No ObjETHOS, a professora Sylvia Moretzsohn destaca que, em casos como esse, a comoção acaba sobressaindo e é muito difícil fugir à espetacularização. Ela amplia a reflexão para discutir a questão do gosto e da formação de bolhas, referindo-se aos debates sobre a qualidade musical e artística de Marília Mendonça. “A promessa de alargamento de horizontes alardeada pelos entusiastas da nova tecnologia veio a significar precisamente o contrário: a internet explicitou e ao mesmo tempo incentivou um comportamento que já existia no cotidiano, e que talvez não percebêssemos, que é o de fincar pé e reiterar as próprias convicções”, diz. (LV)
🌼 Desinformação e transparência. A Agência Lupa acaba de completar seis anos de atuação em fact-checking. Ao celebrar a data, anunciou a reformulação do Contexto, seu programa de membros, e duas novas ações: o Programa de Estágio em Produto, com três vagas e início em 2022 (o edital da seleção sai em dezembro); e o Mirante, programa de treinamento em checagem de fatos, com 15 vagas para estudantes e profissionais, focadas na cobertura das eleições do ano que vem (inscrições começam no próximo dia 17). Para conhecer mais o trabalho da Lupa, vale ler esta entrevista do ijnet com Natália Leal, diretora da agência e vencedora do ICFJ Knight International Journalism Award. Seguimos com mais dois lançamentos. Nos 10 anos da publicação da Lei de Acesso à Informação (LAI), a Fiquem Sabendo lança a WikiLAI, portal com tutoriais e explicações para acessar informações públicas no Brasil. A apresentação do projeto, que conta com financiamento da Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil, será no próximo dia 18, em live com especialistas. Saiu também a versão em português da segunda edição do Data Journalism Handbook, com apoio da Abraji, Escola de Dados, Open Knowledge Brasil e Insper. Das notícias boas para as tretas. Folha, Estadão e Núcleo passam a integrar o consórcio internacional de veículos que têm acesso aos documentos revelados pela whistleblower Frances Haugen, o chamado Facebook Papers. As reportagens revelam, por exemplo, que o Facebook considera internamente o Brasil um “país de risco” para a propagação de conteúdos tóxicos; que a fiscalização de posts de ódio na rede social não entende português; e que, em 2018, apenas 3% dos brasileiros concentraram boa parte do conteúdo cívico na rede. Pra fechar o bloco, esta reportagem do NYT mostra que o Telegram tem sido um espaço seguro de circulação de desinformação de extrema-direita no Brasil. (LV)
🌼 Notícias da indústria. “Até que se prove o contrário” é o novo podcast documental da Agência Pública, que conta a história de inocentes encarcerados e debate problemas estruturais de injustiça no Brasil. Com produção do Nós, mulheres da periferia, o podcast “Marimbás”, do Instituto Vladimir Herzog, traz cinco episódios sobre ditadura nas periferias. Na quarta-feira, o Sindicato de Jornalistas de São Paulo organizou uma paralisação de profissionais por duas horas, reivindicando reajuste salarial. Houve mobilização no Twitter, por meio da hashtag #jornalistasvaoparar. Este texto do Poder 360 conta que, no dia seguinte, Bolsonaro ironizou a paralisação e “sugeriu que os jornalistas ficassem em casa, em referência às recomendações sanitárias contra o avanço do novo coronavírus”. A Fenaj e mais oito organizações assinaram manifesto para supressão do artigo 36 do Projeto de Lei das Fake News, que estabelece que o detentor dos direitos autorais de conteúdos jornalísticos utilizados pelas plataformas devem ser remunerados. A discordância é em torno do que é considerado material jornalístico e de como será a remuneração e a fiscalização. Na LJR, vale ler esta reportagem sobre como jornais comunitários preenchem lacunas de informação e lutam contra estereótipos para produzir jornalismo local. Saindo das notícias do Brasil, Fabiola Torres, do Salud con Lupa, conta ao ijnet detalhes do projeto que monitora o impacto da Covid-19 na Amazônia Peruana. Segundo informa o Axios, Illinois é o primeiro estado norte-americano a exigir uma disciplina de alfabetização midiática para todos os alunos do ensino médio. Um exemplo que poderia ser reproduzido aqui, né? Em uma redefinição de sua estratégia editorial, a Vox eliminou a seção “Identidades”, que cobria questões de raça, religião e gênero. Ao Nieman Lab, a editora-chefe Swati Sharma explicou que todas as histórias serão contadas através de lentes interseccionais, ao invés de apenas algumas matérias estarem em uma editoria específica. No WPost, jornalistas sentam-se ao lado de engenheiros de software e designers de produto para descobrir a melhor maneira de alcançar e envolver a audiência. Leiam, no WNIP, como essa aproximação tem ajudado o Post a entender “todo o ciclo de vida” de uma história. (LV)
🌼 Notícias do SBPJor. Nesta semana rolou o 19º SBPJor. O tema do encontro deste ano foi o legado de Adelmo Genro Filho. Queria compartilhar com vocês algumas anotações que fiz da mesa "O jornalismo como forma de conhecimento: o legado de Adelmo Genro Filho", que reuniu o ex-governador do RS Tarso Genro (que, aliás, é irmão de Adelmo), o jornalista e professor Pedro Luiz da Silveira Osório e o jornalista, professor e pesquisador Eduardo Meditsch. A contribuição de Adelmo Genro Filho é fundamental para a compreensão da importância do jornalismo - especialmente a partir do livro O Segredo da Pirâmide. Não por acaso, as ideias de Adelmo já apareceram aqui na NFJ algumas vezes, como, por exemplo, a NFJ#45, lááá em 2015. Enfim. Na mesa, Tarso Genro localizou a obra de Adelmo em meio ao contexto social e político do final da década de 1970 e o começo de 1980 (Adelmo faleceu precocemente em 1988, aos 37 anos). A contextualização é importante porque as reflexões de Adelmo foram propostas em meio a uma efeverscência político-filosófica da esquerda brasileira, que naquele momento buscava alternativas para lutar contra a ditadura. Nesse contexto, Adelmo viu no jornalismo uma possibilidade de gerar um tipo de conhecimento social capaz de transformar a realidade. E aí que entra a teoria proposta por ele. Em sua fala, Pedro Osório explicou de maneira sintética e muito didática seus principais conceitos. Sabe-se que um dos principais desafios do jornalismo, observou Osório, é desvendar "aspectos essenciais das relações sociais que [...] à primeira vista manifestam-se como fenômenos naturais". Não compreender isso faz com que aumentem "as possibilidades de que noticiemos fatos sem perceber a complexidade das suas origens, sem distinguir seus fenômenos geradores e a essência dos mesmos". Segue Osório: "Adelmo sustenta que o jornalismo não lida originalmente com fatos, mas com fenômenos. É da percepção e interpretação destes, da compreensão e revelação de suas conexões, propósitos ou resultados que devem resultar os fatos constituintes da notícia." O jornalista é quem percebe e interpreta esses fenômenos - e o faz a partir do que o fenômeno tem de singular. E aí que mora o caráter revolucionário da teoria de Adelmo, pois "sempre teremos muitas singularidades à nossa disposição. A escolha que fizermos determinará se a matéria contribuirá para a perpetuação da desigualdade ou para a sua redução ou eliminação". Em sua fala, Eduardo Meditsch lembrou que um dos legados de Adelmo é a institucionalização da teoria do jornalismo no Brasil, seja em disciplinas nos cursos de graduação, seja em organizações como a SBPJor. Além disso, aproximou Adelmo de Paulo Freire. Segundo Meditsch, não se pode pensar em um projeto emancipatório sem que o jornalismo seja capaz de dialogar com a maior parte da população, e hoje o jornalismo de referência não faz. Para quem quiser se aprofundar, o Farol Jornalismo publicou a íntegra da fala de Pedro Luiz Osório. E a tese de Felipe Simão Pontes, mediador da mesa, é outra bibilografia referência no assunto. (MO)
🌼 Links diversos. Oportunidade para investigar atividades ilegais que levam à destruição das florestas tropicais. | Curso para se proteger de ataques online. | Informações sobre um manual de jornalismo científico. Aliás, tem um webinar de lançamento. | Os finalistas do Prêmio Jabuti. | Guia para jornalismo de soluções. | Ajor lançou seu um programa de formação para o ecossistema de jornalismo digital. | Dicas para melhorar a comunicação nas redações virtuais. | Como usar o Instagram para fazer crescer sua newsletter. | Os finalistas do Prêmio Gabo. (MO)