NFJ#352 🌼 Mulheres seguem maioria entre jornalistas no Brasil; estresse e precarização avançam
São dados iniciais da pesquisa Perfil dos Jornalistas Brasileiros 2021 | O que acontece quando os checadores erram? | Mulheres jornalistas recebem o dobro de ofensas no Twitter do que homens
Buenas, moçada!
Moreno aqui, numa sexta-feira de outono em Porto Alegre. Vento, chuva e frio depois de uma semana em que fez 38 graus. Ó: 👍
Vamos de música com mais uma playlist do colega e amigo João Vicente Ribas. Ouçam em especial a “Milonga de los Morenos”, com Vitor Ramil, Caetano Veloso e Carlos Moscardini. Não é porque traz meu nome, mas é uma bela canção.
No mais, minhas boas vindas aos novos assinantes!
Ou nos apoiarem no Apoia-se:
🖥️ Assinantes da NFJ têm vantagens ao contratar os nossos parceiros da ServerDo.in. Venham aqui e ganhem TRÊS MESES DE HOSPEDAGEM GRÁTIS.
💰 Vocês sabem que temos um crowdfunding permanente. Além do Apoia-se, também estamos aceitando aquele PIX amigo. Basta usar a chave CNPJ 29382120000182.
Agora vamos nessa!
🌼 Perfil dos Jornalistas Brasileiros 2021. Saiu o sumário executivo da pesquisa feita pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC): jornalistas no Brasil são majoritariamente mulheres (58%), brancas (68%), solteiras (53%), com até 40 anos e com renda média inferior a R$ 5,5 mil por mês (60%), “um perfil que mudou pouco em relação ao levantamento de 2012”. Realizado entre agosto a outubro deste ano com 6.594 profissionais de todo o país, o estudo mostra que as condições de trabalho dos jornalistas estão se deteriorando. 66,2% se sentem estressados no trabalho, sendo que 34,1% responderam terem sido diagnosticados clinicamente com estresse. Este texto da Abraji coloca o problema em perspectiva: “Para se ter uma ideia de como o estresse é um componente de saúde agravado, pode-se comparar com o percentual de jornalistas que revelaram ter doenças ocupacionais como Lesões por Esforços Repetitivos e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (19,9%)”. Quando comparada com os dados da pesquisa de 2012, a precarização se destaca: quanto aos tipos de contratação, reduziu o volume de vínculos CLT e as formas precárias chegam a 24% (freelancers, prestação de serviços sem contrato, PJ e MEI); quanto à jornada de trabalho, o percentual de jornalistas com carga diária superior a 8h permanece alarmante: 42,2%. À Abraji, Samuel Pantoja Lima, um dos coordenadores do estudo, afirma que “a deterioração dos indicadores de saúde laboral e os claros indicadores de precarização do trabalho produzem um resultado muito relevante sobre a qualidade final do conteúdo produzido e veiculado pelas organizações jornalísticas”. Há também uma boa notícia: o incremento de pessoas negras na profissão (de 23% para 30%), “resultante da combinação entre cotas nas universidades, ações por mais diversidade no mercado e autoidentificação impulsionada pelo avanço das lutas antirracistas na sociedade na última década”. A pesquisa teve apoio institucional da Abraji, Fenaj, ABI, APJor, SBPJor, Abej e parceria da Intercom. (LV)
🌼 O que acontece quando os checadores erram? No sábado passado, dia 20, a Lupa publicou em suas redes uma atualização do seu "Dicionário da DesInformação". O material - publicado nas contas de Facebook, Twitter e Instagram da agência e em parceria com o site Notícia Preta - trazia a origem de expressões consideradas racistas, como "meia tijela", "mulata", "criado-mudo", entre outras. A apuração, no entanto, tinha problemas. Alguns termos apresentavam conceitos errados ou tinham origens não consensuais. Simplificadas, as contextualizações oferecidas pelo conteúdo deixavam de apresentar nuances importantes. Resultado: a internet caiu em cima. Alguns colunistas também. Na Gazeta do Povo, Madeleine Lacsko lançou uma pergunta que volta e meia aparece em meio aos críticos do fact-checking: "Quem checa os checadores?" Na Folha, Leandro Narloch apontou os erros da Lupa e também de uma matéria da BBC Brasil sobre o mesmo tema, e disse que até o dia 23, data da publicação da coluna, a agência de checagem não havia admitido o erro. Até então, a Lupa havia publicado uma apuração mais complexa em suas redes e no site. Os posts diziam que as histórias por trás da origem dos termos haviam sido "alvo de contestações". As críticas (e os ataques) seguiram. A correção e o pedido de desculpas vieram no dia seguinte, 24, com a atualização da matéria e de posts nas redes. "Checador não pode errar. É fato. Mas acontece. Por fontes/processos falhos", tuitou Cristina Tardáguila, fundadora da Lupa e hoje Diretora de Programas do ICFJ, acrescentando que a Lupa corrigiu a informação "seguindo o código de ética da Rede Internacional de Fact-Checking". Ao Farol Jornalismo, Natália Leal, CEO Agência Lupa, disse: "O nosso erro foi a lentidão na resposta e não ter admitido expressamente, logo de cara, que era um erro. O jogo de palavras [das postagens do dia 23] ("alvo de contestações", "mais de uma versão", etc) deu a entender que estávamos disfarçando o erro. Mas toda a nossa equipe sabia que tínhamos errado, então foi uma escolha errada de palavras para explicar as coisas". Hoje, em editorial, a Lupa explica que o processo de revisão exigiu uma "apuração exaustiva", o que levou tempo, mas que a Lupa falhou em não admitir o erro antes. "Sabemos — e ensinamos em nossos treinamentos e oficinas — que os erros são parte do jornalismo e, por isso, também da checagem de fatos. O esforço é para que sejam sempre reduzidos ao mínimo, seja nas checagens que publicamos, seja em nossa comunicação com o público nas redes sociais. Porém, é fundamental que estejamos prontos para que, quando esses erros ocorram, sejam corrigidos de forma célere e transparente", diz o texto. (MO)
🌼 Plataformas. Mulheres jornalistas recebem mais que o dobro de ofensas que colegas homens no Twitter. Essa foi uma das descobertas da investigação feita pela Revista AzMina e pelo InternetLab, junto ao Volt Data Lab e ao INCT.DD, com apoio do ICFJ. De acordo com este texto da Revista AzMina, o monitoramento de 200 perfis no Twitter constatou que “os usuários que disparam ataques contra jornalistas tentam deslegitimar a capacidade intelectual feminina para o exercício da profissão e silenciar a imprensa, apontam aspectos físicos das profissionais para desviar a atenção das pautas abordadas e disseminam informações falsas sobre elas”. Além disso, as profissionais que trabalham com cobertura política estão mais expostas aos ataques. Do Twitter, vamos para o Substack. De acordo com este texto do Axios, a ameaça do Substack às redações foi exagerada. Ao ver seus jornalistas migrando para a plataforma de newsletters, grandes veículos reagiram e estão criando programas que dão aos profissionais mais remuneração, autonomia e flexibilidade. Mas o Substack também está se movimentando para reter os escritores independentes e vai oferecer US$ 500 de seguro saúde para os que ganham US$ 5.000 por ano, segundo este texto do The Wrap. Pra fechar o bloco, algumas atualizações sobre regulação das plataformas. Esta matéria do Núcleo informa que uma comissão do Parlamento Europeu aprovou texto que estabelece uma série de regras para empresas de tecnologia consideradas gatekeepers, “um passo importante do bloco em direção à implementação de uma estrutura regulatória sobre a atuação das gigantes de tecnologia”. Enquanto a regulação não chega, as plataformas vão fazendo acordos individuais e pouco transparentes. Google e a agência de notícias AFP assinaram um acordo de cinco anos, segundo o qual a empresa de busca pagará uma quantia não revelada à AFP pelas notícias distribuídas na Europa. (LV)
🌼 Notícias da indústria. Em comemoração aos 11 anos de cobertura das periferias de São Paulo, a Agência Mural acaba de lançar um novo site [Agência Mural]. | Após paralisação e seis meses de negociação, jornalistas de jornais e revistas da capital paulista conseguiram reajuste salarial pela inflação [SJSP]. | Agora São Paulo, jornal popular do Grupo Folha, deixa de circular na próxima segunda, dia 29 [Folha]. | Já ouviram falar em jornalismo de paz? Jornalistas que cobrem conflitos e crises devem estar conscientes tanto das consequências negativas da sua cobertura como do potencial que ela tem de promover paz nas comunidades [ijnet]. | Como fazer o jornalismo de soluções - esse já conhecido dos leitores da NFJ - ser parte do DNA da redação [ijnet]. | Leiam este resumo da entrevista de Sally Buzbee, primeira mulher a liderar a redação do WPost, ao podcast Sway, do NYT [Nieman Lab]. | Organizações jornalísticas estão criando linhas de produtos para aumentar suas receitas. E tem funcionado [Digiday]. | Rick Edmonds descreve sua saga para cancelar assinaturas digitais de jornais [Poynter]. | O governo da Escócia criou um “Instituto de Jornalismo de Interesse Público” para administrar subsídios de forma independente e “apoiar um setor de mídia diverso, pluralista e sustentável” [Press Gazette]. | Obituários ganharam uma nova vida na era da internet [WPost]. | Recursos para utilizar inteligência artificial no jornalismo [blog do prof. Jose García Avilés]. | Caixa de ferramentas para jornalistas que cobrem crimes ambientais [USAID]. | Emily Hopkins, da ProPublica, incentiva estudantes a considerarem carreira em jornalismo de dados, dada a grande demanda nas redações [Storybench]. | Estágios não remunerados são empecilho para uma indústria de mídia mais diversa e equitativa [JSource]. (LV)
🌼 Links diversos. Natalia Mazotte é a nova presidente da Abraji. | Fenaj está com um curso para se proteger de ataques e ameaças online. | Dicas para apuração usando ferramentas de código aberto. | Vaga na Folha para área de programação. | O Grupo Globo contrata jornalista para comunicação interna | A newsletter Cajueira completou um ano. Parabéns! | Fiquem Sabendo e Instituto Herzog fecham parceria. | Oficina do Fiquem Sabendo e do Jeduca ensinam a usar a LAI em pautas de educação. | Como usar TikTok e Instagram para alcançar audiências jovens. | Guia para usar inteligência artificial no jornalismo. | Saíram os premiados do Jabuti deste ano. Dentre os vencedores no eixo não ficção estão o livro "A república das milícias: Dos esquadrões da morte à era Bolsonaro", de Bruno Paes Manso, e "Prato Firmeza: Guia gastronômico das quebradas de SP", produzido pelo pessoal da Énois. (MO)
🌼 💎 Concatenações teóricas. Na semana passada fechei o corpus a partir das newsletters brasileiras categorizadas como "jornalismo" no diretório de newsletters brasileiras do Manual do Usuário. Agora vamos dar uma olhada nos boletins, avançando mais um pouco na testagem da tipologia das newsletters jornalísticas.