NFJ#353 🌼 "Jornalismo não é o que você é; é o que você faz"
Relatório traz lições do jornalismo público europeu | Como mudanças no Twitter podem afetar o jornalismo | Deserto de notícias avança nos EUA | Guia para usar IA no jornalismo
Buenas, moçada!
Moreno aqui.
Eis que é quase véspera de Natal do segundo ano de pandemia. Por aqui, árvore montada e planejamento da ceia EM CURSO. Santiago só fala do Natal há semanas. Os filhotes salvam o Natal e Shrek Bate o Sino passam em looping na TV.
Mas antes das FESTAS ainda temos duas edições da NFJ. Uma delas, já aviso, será especial sobre o jornalismo no Brasil em 2022. Sim! O especial deste ano está no forno e deve ser publicado em breve. Não sabem do que eu tô falando? O Farol Jornalismo e e Abraji publicam, desde 2016, projeções para a profissão no Brasil no ano seguinte. Vocês podem acessar todas as edições aqui: 2017, 2018, 2019, 2020, 2021.
Outra coisa antes de começar.
Publicamos mais uma análise exclusiva para os nossos apoiadores R$+15 e subscribers aqui no Substack. Ela é um aprofundamento das reflexões compartilhadas no bloco concatenações teóricas (também exclusivo a assinantes), aqui da NFJ, ao longo do mês. Querem saber como funciona as modalidades de apoio da NFJ e entender como funcionam os conteúdos exclusivos? Aqui tem tudo explicadinho.
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Agora vamos nessa!
🌼 Jornalismo público. Talvez valha a pena dar uma olhada neste relatório publicado recentemente pela The European Broadcasting Union sobre jornalismo de serviço público. O documento “What’s Next? Public Service Journalism in the Age of Distraction, Opinion, and Information Abundance” ("O que vem a seguir? Jornalismo público na era da distração, opinião e abundância informacional", na tradução livre) procura demostrar como o jornalismo público do velho continente está lidando com os desafios contemporâneos a partir de três eixos:
Pressões políticas e econômicas sofridas pelo jornalismo público;
Modos inovadores de conexão com as audiências;
Como líderes de redação podem encarar os desafios encontrados no dia a dia das redações.
Em relação ao primeiro eixo, o relatório destaca que a pandemia aumentou a confiança e a audiência, e que jornalismo deve trabalhar para manter o público perto de si. Como consequência, o jornalismo fica mais protegido de ataques e tem mais oportunidades de alcançar a independência e a sustentabilidade financeira. Também destacou que os ataques à liberdade de imprensa são uma ameaça à democracia, e que o jornalismo público deveria se aliar a outras instituições e à sociedade de maneira geral para garantir a manutenção da sua autonomia e independência.
O segundo eixo começa com uma recomendação clara: "Estratégias de conteúdo devem estar focadas em fornecer soluções e ideias para os problemas, necessidades e dificuldades das audiências, e não dar preferência à política e a conflitos. Estar perto da vida do público, bem como de seus hábitos, é a chave". Para isso, os veículos devem contemplar a diversidade da sociedade, fornecendo conteúdo nas plataformas onde as pessoas estão, e não apenas onde a redação gostaria de estar. As audiências jovens podem ser alcançadas a partir de uma combinação de humor com rigor jornalístico.
No terceiro eixo, outra recomendação bem útil, especialmente para quem comanda redações: "Identificar, contratar, reter e desenvolver talentos diversos será a chave do sucesso em um mercado de trabalho competitivo. O compromisso com os valores do serviço público é uma vantagem competitiva para aqueles que buscam por um sentido em suas vidas profissionais.” O texto também incentiva a "colaboração intergeracional" nas equipes, sugere ambientes de trabalho flexíveis e aposta em redes de contatos internacionais para seguir "atento ao ritmo das mudanças".
O relatório foca nos jornalismo público, ou seja, segundo a Unesco, no "jornalismo financiado e controlado pelo público, e prozido para o público. Um jornalismo que não é comercial e nem controlado pelo estado, é livre de interferências políticas e pressões comerciais". No entanto, as recomendações bem que poderiam servir para o jornalismo como um todo. Cliquem aqui e leiam o relatório na íntegra. (MO)
🌼 Diversidade e identidade. Vejam que legal este web stories do Portal Catarinas sobre a trajetória de Caê Vasconcelos, o primeiro jornalista trans a participar da bancada do Roda Viva. Falando em diversidade, deem uma olhada na primeira pesquisa sobre diversidade no jornalismo canadense. Por lá, 75% dos jornalistas que trabalham em redações são brancos, e quase 80% das redações não possuem profissionais negros ou indígenas. O levantamento ainda mostrou que 53% das jornalistas de redação são mulheres. Vejam mais dados nesta matéria do Nieman. Sigam com esta matéria do NYT sobre um documentário a respeito de um veículo jornalístico indiano liderado por mulheres. E também deem uma olhada neste resumo da pesquisa Perfil do Jornalista Brasileiro (assunto da NFJ#352). Um dos aspectos sublinhados pelo texto de Samuel Pantoja Lima e Jacques Mick é a precarização e as longas jornadas de trabalho. As observações de Lima e Mick são um bom gancho para o relato do repórter Wudan Yan publicado no Poynter. Ele conta que no começo da pandemia aceitou fazer matérias mais por se sentir "profundamento alinhado com a missão do trabalho" do que pelo dinheiro. Além disso, naquele momento de isolamento, sem poder encontrar amigos ou ir à academia, o trabalho foi a única coisa sobrou. "Ele se tornou a maior parte do que constituía a minha identidade". O resultado: Yan quebrou. Burnout. A partir daí, ele conta o que fez para voltar a se encontrar consigo mesmo, colocando o trabalho no seu devido lugar. (MO)
🌼 Plataformas. E o Twitter, hein, que está mudando suas políticas sobre "informações privadas". Na semana em que Jack Dorsey anunciou sua renúncia como CEO, a empresa anunciou uma série de nova normas cujo objetivo é proteger as pessoas de eventuais abusos emocionais e físicos. A questão é que uma das novas regras é a proibição da publicação de "mídias (fotos/vídeos) de indivíduos privados sem a permissão da pessoa retratada". Na CJR, Mathew Ingram alerta que isso pode ser um problema para o jornalismo. O Twitter até sublinha que a regra não vale para mídias em que apareçam "figuras públicas" e quando a publicação vai ao encontro do "interesse público" ou que "adicione valor ao discurso público". Mas quem vai decidir o que é interesse público, ou mesmo quem é figura pública? É o que questiona Ingram. A respeito da relação entre jornalismo e plataformas, vale ler este texto de Sérgio Spanuolo, a propósito da grana que as Big Techs injetam no mercado jornalístico. Ele argumenta que nesse debate não há certo e errado. Ou seja, não dá pra fechar os olhos para o fato de as grandes tecnologia usarem o jornalismo para "ajudar a identificar e investigar problemas que elas mesmas ajudaram a criar". Por outro lado, "é difícil o jornalismo ficar longe de dinheiro" dessas grandes empresas, pois "para sustentar bom jornalismo são necessários muitos recursos". Terminem o bloco dando uma olhada na declaração assinada por mais de 20 entidades latino-americas pedindo por mais transparência das plataformas digitais. Mais informações no ObjETHOS. E leiam ainda este artigo em que Sérgio Rodrigues discute o erro da Lupa (tema da NFJ#352) sob o ponto de vista linguístico. (MO)
🌼 Notícias da indústria. A Associação de Jornalismo Digital (Ajor), em parceria com 27 organizações de notícias, promoveu esta semana o #diadedoar, com o objetivo de arrecadar doações para fortalecimento do jornalismo digital. A ação permanece até amanhã, doe aqui. No Reuters Institute, vale ler esta reportagem sobre jornalistas solo no Sul Global. No Brasil, a entrevistada é Gaia Passarelli, que tem apoio financeiro do Substack. Enquetes, quizzes e jogos de perguntas e respostas levam interatividade à TV, podcasts e newsletters. Este texto do The Fix conta por que essas estratégias nunca falham. Após se tornar sem fins lucrativos, o jornal norte-americano The Salt Lake Tribune atingiu a sustentabilidade financeira, escreve o Nieman Lab. Ainda sobre jornalismo local, leiam esta reportagem multimídia do WPost Magazine sobre a expansão dos desertos de notícias nos EUA: desde 2005 até o início da pandemia, 2.100 jornais fecharam suas portas. E da crise sanitária até agora, mais de 100 redações locais deixaram de existir. A triste contagem está sendo feita pelo Poynter. “Não é só o jornalismo vigilante [watchdog] que sofre quando as organizações de notícias encolhem ou morrem. O declínio afeta o engajamento cívico e a polarização política também”, escreve Margaret Sullivan. Funcionários do BuzzFeed entraram em greve por 24 horas, exigindo aumento de salários e melhorias na gestão, informa este texto do Nieman Lab. A partir de janeiro de 2022 será lançada a “European Newsroom”, união de 16 agências de notícias que vão cobrir questões relacionadas à União Europeia. Segundo o Nieman Lab, a nova redação vai produzir conteúdos em 15 línguas e terá sede em Bruxelas. No GIJN, leiam sobre como o programa de membership do chileno CIPER fortaleceu a equipe de investigação do jornal. (LV)
🌼 Links diversos. “No epicentro”, da Agência Lupa, ganhou mais um prêmio: o de melhor visualização de dados do mundo em 2021 do Digital Media Awards Worldwide da WAN-IFRA. | Saíram os vencedores do Prêmio 99 de Jornalismo. | O Instituto Questão de Ciência (IQC) anunciou o repórter Guilherme Balza, que cobriu o caso Prevent Senior pela Globo, como ganhador do Prêmio Ruth Bellinghini de Jornalismo. | No Laboratorio de Periodismo, um guia para utilizar inteligência artificial no jornalismo. Falando nisso, está rolando até hoje o Journalism AI Festival 2021. | Pra fechar os links diversos cinco dicas: Como jornalistas podem proteger suas fontes [GIJN]; guia para freelancers combaterem desinformação; como recrutar um bom social media; conselhos para mulheres que trabalham com jornalismo investigativo; como melhorar suas reuniões de equipe [Journalism.co.uk]. (LV)
🌼 Concatenações teóricas. Este bloco é exclusivo para assinantes e subscribers. Se você é assinante da versão free, a edição termina aqui. Mas fique tranquilo, você sempre terá acesso à grande parte da NFJ. Agora, se você quiser acompanhar nossas reflexões sobre aspectos do campo jornalístico, cogite nos apoiar no Apoia-se ou virar subscriber aqui no Substack. Nos últimas semanas andamos falando sobre newsletters.