NFJ#355 🌼 "A objetividade como ideal aspiracional desencoraja jornalistas a dar atenção ao que importa"
O que diz o Predictions for Journalism | Mais destaques da sexta edição d'O Jornalismo no Brasil em 2022 | Descobertas de pesquisas do Reuters Institute que seguirão como tendência no ano que vem
Buenas, moçada!
Moreno aqui abrindo a DERRADEIRA newsletter de 2021. Que loucura, hein.
Não sei vocês, mas a minha percepção de passagem do tempo anda cada vez mais paradoxal. Às vezes parece que 2020 não acabou, né? Ao mesmo tempo, as semanas SE EMPILHAM num estalar de dedos. NO ENTANTO, o começo da pandemia parece que faz séculos — tantos e significativos são os acontecimentos que vivemos desde então. Nessa mesma lógica, parece que a semana passada aconteceu no mês passado. E a gente vai envelhecendo. E as crianças crescendo. E o tempo passando.
Mas vamos nessa.
Ah, antes de começar, deixem eu avisar vocês que a NFJ volta no dia 7 de janeiro para a temporada de verão — que sempre tem uma pausa ao longo do mês de fevereiro para as merecidas férias dos editores.
No mais, boas vindas aos nossos novos assinantes!
Ou nos apoiarem no Apoia-se:
🖥️ Assinantes da NFJ têm vantagens ao contratar os nossos parceiros da ServerDo.in. Venham aqui e ganhem TRÊS MESES DE HOSPEDAGEM GRÁTIS.
💰 Vocês sabem que temos um crowdfunding permanente. Além do Apoia-se, também estamos aceitando aquele PIX amigo. Basta usar a chave CNPJ 29382120000182.
Agora vamos nessa!
🌼 Predictions, do Nieman Lab. Neste primeiro bloco da news, vamos dar uma olhada em algumas projeções publicadas pelo Nieman Lab no seu tradicional Predictions for Journalism. Como são muitas as projeções (e o especial segue sendo atualizado), seguiremos falando das previsões do Nieman nas primeiras edições de 2022 da NFJ.
Começamos pelo que diz Rasmus Kleis Nielsen, diretor do Reuters Institute. Ele diz que o jornalismo sempre foi uma indústria baseada na tecnologia e no talento humano, e que está na hora de nos darmos conta disso. Até agora, segue ele, usamos tecnologias desenvolvidas por outros e negligenciamos os nossos profissionais. "Em 2022 veremos crescer a distância entre quem está disposto a romper com essa tradição — e fazer investimentos sérios em ferramentas e talentos — e todos os demais", escreveu. Já o professor de jornalismo da Universidade de Maryland Christoph Mergerson ressalta a importância da equidade como um valor inseparável da democracia. "Em 2022, o igualitarismo nos EUA vai sofrer se o jornalismo não percebê-lo como um valor essencial à democracia — produzindo uma cobertura jornalística a serviço dele". Falando em democracia, o professor da Universidade Batista de Hong Kong Cherian George afirma que o "cinismo global" em relação à democracia vai expor jornalistas à violência. Ele sugere que os rumos tomados pela ditadura chinesa e as falhas cada vez mais evidentes da democracia norte-americana vão fazer crescer as dúvidas em relação à democracia, fazendo de 2022 um ano problemático para jornalistas e outros defensores dos direitos humanos. E Anita Varma, que lidera a iniciativa Jornalismo Solidário, na Universidade do Texas, sugere que a "solidariedade eclipse a objetividade como valor ideal do jornalismo". Observando as partes mais fragilizadas da sociedade, ela afirma: "A objetividade como um ideal aspiracional termina por encorajar os jornalistas a evitar dar atenção ao que importa. Ignorar o significado e a importância a 'serviço' da objetividade [...] não oferece nada aos leitores cujas vidas podem estar em perigo". (MO)
🌼 Na semana passada publicamos as projeções para 2022 para o jornalismo brasileiro, vocês viram. A newsletter foi toda dedicada à sexta edição d’O Jornalismo no Brasil em 2022. Mas como o material é muito bom e extenso, modéstia à parte, vamos destacar mais alguns trechos interessantes dos 10 textos do especial. (MO)
Jornalismo e democracia, por Sylvio Costa:
"Faz tempo que o jornalismo não encontra eco em uma parcela significativa da população, fechada com os canais de informação e as teses do presidente. Isso dificilmente mudará muito em 2022."
Eleições 2022, por Juliana Dal Piva:
"Como fazer para igualar as condições de questionamento em relação aos candidatos presidenciais já que o atual presidente se prepara para evitar as perguntas? Ou então para deixar claro quem está fugindo?"
Ataque a jornalistas, por Veronica Toste:
"Com a aproximação das eleições no Brasil em 2022, a violência tende a crescer. [...] O ano de 2022 [...] exigirá ações do jornalismo, da sociedade civil e dos órgãos de fiscalização e controle do Estado, com destaque para o Tribunal Superior Eleitoral."
Psicologia da desinformação, por Luís Felipe dos Santos:
"Quando se combate a desinformação, não se enfrenta apenas o ato em si de desinformar, [...] O que se enfrenta é um sistema de crenças, de uma pessoa ou de um grupo — e, se olharmos com atenção, é sobre isso que sociedades são fundadas em vários lugares do mundo."
LGPD e acesso à informação, por Maria Vitória Ramos e Léo Arcoverde:
"Em um cenário de ataques sistemáticos à Lei de Acesso à Informação (LAI), não temos hoje a certeza se as informações necessárias para avaliar as candidaturas poderão ser entregues pelo jornalismo profissional".
Jornalismo científico pós-Covid, por André Biernath:
"Esses meses de 2020 e 2021 escancararam valiosas lições, que eu resumo em quatro tópicos: a urgência de escolher bem as fontes e os entrevistados; a importância de ponderar e contextualizar as informações; a dificuldade de comunicar incertezas e o que a ciência ainda não sabe e, finalmente, a necessidade de assumir uma postura mais crítica e inquisitiva diante das evidências (e dos próprios cientistas)."
Jornalismo e direitos humanos, por Lenne Ferreira:
"A construção de um jornalismo mais atento, sensível e engajado com a realidade da população mais vulnerabilizada do país, o que inclui o povo evangélico, que tem tido sua fé manipulada especialmente pela direita, passa pela diversidade e preparo de profissionais da grande imprensa."
Colaboração, escuta e distribuição, por Laércio Portela:
"Em 2022, vai ter muito mais gente fazendo um jornalismo engajado que joga limpo com seu público, expondo no que acredita e contando como apura os fatos e informações que produz."
Trabalho jornalístico em rede, por Ana Flávia Marques e Janaina Visibeli:
"Além da intensificação, há o alargamento da jornada de trabalho (sem aumento de salário). Isso acontece porque quando há a mudança [...] na forma de trabalho, há uma inferência direta no uso do tempo e do espaço. As próprias plataformas contribuem para que a sensação de passagem do tempo seja mais curta e a percepção do espaço mais ampliada."
Acessibilidade no jornalismo, por Gustavo Torniero:
"Há um desconhecimento generalizado entre repórteres, editores, empresas jornalísticas e donos de veículos sobre como cobrir assuntos relacionados à deficiência e produzir conteúdo com acessibilidade. Será que falta interesse? Uma certeza eu tenho: não faltam profissionais com deficiência capacitados para trabalhar com jornalismo."
🌼 Pesquisa em 2022. Ainda na vibe das tendências, o Reuters Institute elencou 21 achados de pesquisa deste ano que seguirão relevantes em 2022. Destacamos alguns: a confiança nas notícias aumentou após a pandemia; pessoas que utilizam a mídia como fonte de notícias sobre Covid-19 acreditam menos na desinformação sobre vacinas; o acesso às notícias está se tornando mais distribuído, principalmente para a audiência jovem; pessoas que utilizam busca, redes sociais e agregadores têm dietas de notícias mais diversificadas; a mídia tradicional tem dificuldades para ser notada em redes sociais mais novas e visuais; a pandemia acelerou o fim dos jornais impressos; a receita vinda do leitor agora é considerada mais importante do que anúncios, na visão de executivos da indústria de notícias; mais pessoas estão pagando por notícias online, mas a maioria ainda não; apenas 22% dos 180 principais editores de 240 grandes veículos de 12 países são mulheres; apenas 15% dos 80 principais editores de 100 veículos em cinco países não são brancos; gestores dizem que a indústria não está fazendo o suficiente para lidar com o problema da diversidade; redações adotam o trabalho híbrido, mas muitas ainda estão descobrindo como fazê-lo funcionar. (LV)
🌼 Links diversos. O El País Brasil encerrou as atividades esta semana, pegando a redação e os leitores de surpresa. Neste texto alegam que, após oito anos de atuação, a edição não alcançou sustentabilidade econômica. Os jornalistas decidiram fazer este comunicado, agradecendo os leitores e destacando algumas grandes coberturas. Novo relatório do Tow Center mostra que mais de 6.150 jornalistas foram demitidos em meio à pandemia nos EUA. Após mais um episódio de agressão do governo contra jornalistas — desta vez com as equipes da TV Bahia e TV Aratu - o Estadão fez um compilado dos principais casos. O Journalism.co.uk informa que jornalistas freelancers pedem mais transparência do Twitter sobre o processo de concessão de contas verificadas. No Núcleo, Sérgio Spagnuolo argumenta que jornalistas podem ser tão pouco receptivos a críticas por sofrerem constantes ataques nas redes sociais. Natália Huf debate, no ObjEthos, como o marketing de conteúdo transbordou dos blogs e redes sociais para o jornalismo. Este texto do NYT alerta: a desinformação via e-mail é pouco notada, mas igualmente prejudicial. Ouçam “Prove sua Inocência”, podcast da Ponte com a Fundação Heinrich Böll. No ijnet, 10 livros de jornalistas para dar de presente neste Natal. Novo livro de Ramón Salaverría mapeia o jornalismo nativo digital na Espanha. Este e-book organizado pelo grupo Influcom, da Cásper Líbero, aponta 10 tendências de comunicação, influência e dados. O 3º Edital de Jornalismo de Educação da Jeduca divulgou as pautas que serão desenvolvidas por 13 jornalistas de seis estados. Vejam os ganhadores do 4º Prêmio UOL de Conteúdo. Projeto vai selecionar 10 projetos sobre alfabetização midiática e combate à desinformação junto a estudantes do ensino fundamental e médio. (LV)
🌼 Concatenações teóricas. Este bloco é exclusivo para assinantes e subscribers. Se você é assinante da versão free, a edição termina aqui. Mas fique tranquilo, você sempre terá acesso à grande parte da NFJ. Agora, se você quiser acompanhar nossas reflexões sobre aspectos do campo jornalístico, cogite nos apoiar no Apoia-se ou virar subscriber aqui no Substack. Nos últimas semanas andamos falando sobre newsletters.