NFJ#358 ☀️ Silvio Almeida: "Folha comete um dos maiores erros de sua história"
A ameaça a Leandro Demori | O que faz uma editora de segurança on-line | Trust Barometer: confiança na mídia em baixa | Vagas no Fiquem Sabendo | Microbolsas na Pública | Bot ajuda a usar a LAI
Buenas, moçada!
Moreno aqui, refugiado em Capão da Canoa, no RETILÍNEO litoral gaúcho, onde tá fazendo, em média, 10 graus a menos que Porto Alegre, que fica a uns 130 km daqui.
Tudo bem por aí?
Aqui, entramos na penúltima news de janeiro. Tem mais a semana que vem e depois a NFJ entra em férias até depois do Carnaval. Sem mais delongas, vamos nessa. Só antes deixem eu avisar que estamos com uma promoção que DERRETEU (sorry) o preço da subscrição aqui no Substack. Até o fim de janeiro, quem escolher o plano anual de apoio vai ganhar 50% de desconto. Lembrando que os subscribers ganham acesso à versão full da NFJ — o que significa ficar por dentro do bloco concatenações teóricas. Nos últimos tempos andamos explorando o mundo das newsletters. Hoje, inclusive.
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Agora vamos nessa! Hoje a news segue toda comigo.
☀️ Predictions I. Vamos a mais uma rodada das projeções do Nieman Lab? Primeiro, textos que falam sobre a relação do jornalismo com a audiência. Francesco Zaffarano defende que, em 2022, dados de analytics não serão suficientes: tá na hora de encontrarmos as pessoas. Porque para permanecer relevante, ele diz, o jornalismo vai precisar perguntar para as pessoas o que elas precisam da gente. "Espero que 2022 seja o ano em que nós nos comprometamos a nos relacionar pessoalmente com as pessoas das nossas comunidades". Ariel Zirulnick segue o mesmo raciocínio. Primeiro, ela procura diferenciar engajamento de audiência com enganjamento de comunidade. Enquanto o primeiro foca nos hábitos de consumo, o segundo fala sobre entender quais são os gaps no ecossistema local e posicionar a redação para supri-los. Ela sugere que as redações sejam menos heróis e mais guias sábios e confiáveis para suas comunidades. E aí não tem analytics que resolva — o negócio vai ser encontrar e ouvir as pessoas mesmo. Já Alice Antheaume afirma que tá na hora de relembrarmos da reportagem face a face — em benefício da verdade. "Chegar ao cerne de uma questão trabalhando a distância parece uma tarefa quase impossível, ainda mais em um estilo de vida sedentário e lockdowns impostos pela Covid", escreveu.
☀️ Predictions II. Agora, textos sobre [o formato das] notícias em 2022. Tom Trewinnard acha que neste ano as notícias se tornarão mais "conversacionais" em função da popularidade de aplicativos de mensagem como o WhatsApp. "Se aplicativos de mensagem estão entre os apps mais usados, por que — como indústria — nós não nos relacionamos mais com eles?", questionou. "Publicar diretamente usando plataformas conversacionais oferece, em apps e interfaces que as pessoas usam todos os dias, uma experiência interativa e nativa do mobile", escreveu. Já Shalabh Upadhyay observa a emergência de um mundo pós-notícias em 2022. Segundo ele, a notícia como produto perdeu relevância em uma sociedade saturada de informações. Quando as notícias já não são a fonte primária do público, o jornalismo ganha relevância como o lugar onde as pessoas vão para validar as informações recebidas de múltiplas fontes. Nessa dinâmica, a credibilidade ganha ainda mais força. Por isso, argumenta Upadhyay, "jornalistas precisam criar um processo transparente que forneça ao público em geral uma forma de validar o seu trabalho".
☀️ Folha e o racismo reverso. No último domingo, a Folha publicou este artigo em que o antropólogo Antonio Risério defende que o "racismo negro é um fato" e sugere que a "recusa em reconhecer a realidade do racismo antibranco" é evidente da cobertura midiática — em seguida, lista uma série de acontecimentos para sustentar o seu argumento, a maioria ocorrida nos Estados Unidos. A reação foi imediata. "Equiparar episódios isolados de pretos discriminando brancos com o racismo estrutural instalado historicamente na sociedade é pura chinelagem intelectual", escreveu JornalismoWando no Twitter, e a Folha embarcou nessa, como destacou também Fernando de Barros e Silva. Em um fio em que rebate o texto de Risério, Silvio Almeida disse que "as empresas jornalísticas que abrigam esta baderna mental tentam parecer aos olhos do público como [...] espaços 'democráticos' [...] Mas, na melhor das hipóteses se assemelham a arenas, e na pior, becos de lutas clandestina e sem regras". Nesta carta aberta, por outro lado, mais de 770 pessoas (até esta sexta, 21/1) manifestaram apoio a Risério. Em uma outra carta, quase 200 jornalistas da Folha expressaram preocupação com a "publicação recorrente de conteúdos racistas nas páginas do jornal". No documento, os jornalistas lembram que a Folha defende o pluralismo e a liberdade de expressão. No entanto, esses valores "não se dissociam de outros valores que o jornalismo deve defender, como a verdade e o respeito à dignidade humana". A iniciativa recebeu apoio de sindicatos estaduais e da Comissão Nacional de Jornalistas pela Igualdade Racial, da Fenaj. Mas a direção de redação do jornal não concordou com a crítica. "O abaixo-assinado erra, é parcial e faz acusações sem fundamento, três características indesejáveis em se tratando de profissionais do jornalismo", disse o diretor de redação da Folha, Sergio Dávila, na resposta publicada pelo jornal. Já o Comunique-se publicou a íntegra do posicionamento do editor do Ilustríssima, Marcus Augusto Gonçalves, caderno onde foi publicado o texto de Risério. A reação do jornal e especialmente o posicionamento de Dávila foram alvo de críticas do jornalista e professor Marcelo Träsel. O ex-presidente da Abraji classificou como "lamentável" a resposta de Dávila: "Ameaça os trabalhadores, desacredita a qualidade do noticiário sob sua supervisão e evidencia a própria ignorância sobre questões raciais", escreveu. Ontem, Silvio Almeida publicou um artigo na própria Folha em que classificou o episódio como “um dos maiores erros” da história do jornal. Almeida também critica a reação do jornal à carta de seus jornalistas, e finaliza chamando a Folha para o debate: “Em seu centenário e em um momento em que estamos sob um governo que ataca o jornalismo a todo instante a Folha irá se voltar contra jornalistas que ousaram defender o que é justo? Seria o maior suicídio reputacional da história da imprensa. Com a palavra, a Folha de S.Paulo.”
☀️ Ataques a jornalistas. Deixamos passar na semana passada, mas não nesta. Vocês devem ter visto: no último dia 9, o jornalista Leandro Demori, editor-executivo do Intercept Brasil, foi perseguido e ameaçado nas ruas de Balneário Camboriú, onde passava férias. Ele estava acompanhado da esposa e do fiho. Um homem o abordou e disse para Demori “se ligar", pois a vida de seu filho dependia dele. Organizações como Abraji, Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, Fenaj, Instituto Herzog e Artigo 19 condenaram o ataque e prestaram solidariedade ao jornalista. No dia 12, o próprio Demori divulgou imagens de câmeras de segurança que mostram a abordagem. "Agradeço imensamente o apoio de todos que se manifestaram em solidariedade. Não podemos, nós como jornalistas e como sociedade, deixar que pessoas como essa cruzem a linha da civilidade e das leis. A punição precisa ser exemplar para que algo pior não aconteça no futuro", tuitou Demori. Ainda sobre ataques, o Núcleo registrou que ao menos "dez jornalistas brasileiros foram alvo de tentativas de invasão a suas contas no Twitter" num intervalo de dois dias.
☀️ Notícias da indústria. Dá pra ver que segurança de jornalistas é um assunto em alta. Esta entrevista do Nieman mostra quem é e o que faz a primeira editora de segurança on-line do maior publisher do Reino Unido, a Reach PLC. A tarefa de Rebecca Whittington é tornar a internet mais segura para jornalistas e leitores da organização. Até agora, ela conta que o que mais chama a atenção é a variedade de ataques — nas primeiras semanas de trabalho, nenhum foi igual ao outro, ela relata. Neste primeiro momento, ela está documentando os assédios de maneira identificar a demografia dos ataques, bem como os tipos mais comuns. Voltando à pegada reports para 2022, deem uma olhada no Edelman Trust Barometer, uma iniciativa que há 20 anos estuda a credibilidade das instituições. Para o report deste ano foram ouvidas 36 mil pessoas em 28 países, entre eles o Brasil, e o resultado não é lá dos melhores pra gente (e pros governos): atualmente, 48% dos respondentes enxergam os governos e 46% enxergam a mídia como "forças divisórias" da sociedade. Além disso, 46% dos respondentes consideram os jornalistas os "líderes sociais menos confiáveis". E a maioria dos respondentes (67%) acha que jornalistas estão mentindo para eles. Por outro lado, 76% se preocupam com a desinformação ser usada como uma arma — no Brasil o índice é maior, 81%, dois pontos a mais do que o último resultado. Aqui tem um resumo da pesquisa. Outro assunto de 2022 vai ser, claro, a desinformação. A Pública entrevistou Pablo Ortellado, pesquisador do Monitor do Debate Público no Meio Digital. A previsão dele não é das melhores. "A desinformação vai ser pesada. Ela é uma arma eleitoral muito útil, e nessa eleição de 2022 vou ficar muito, mas muito surpreso, se ela não for tão suja quanto a de 2018, se não for pior", disse.
☀️ Links diversos. O Fiquem Sabendo está com duas vagas abertas: gerente de projetos e estagiário(a) de Direito. | Lupa anuncia selecionados para treinee. | O La Nación lançou uma coleção de NFTs solidários. | Acervo Herzog incluiu 191 novos itens, entre fotografias e documentos, que ajudam a contar a história do jornalista e cineasta morto pela ditadura. | Quais habilidades jornalistas freelancers precisam em 2022? | Centro Knight promove webminar sobre a cobertura da pandemia. O foco da conversa vai ser variantes, vacinas e medicamentos. Vai ser dia 27. | A Transparência Brasil lançou o repLAI, um bot que ajuda a identificar o tipo de negativa recebida por um pedido de acesso à informação. | No IJNet, dicas para cobrir a ômicron. | Seis destaques do relatório de inovação do WAN-IFRA. | Pública está com microbolsas para reportagens sobre alimentação e crise climática. | Este artigo traz um resumo de um TCC que estudou o papel da curadoria no combate à desinformação.
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