NFJ#361 ☀️ 2021 registrou um caso de violência de gênero contra jornalistas a cada três dias
Mulheres estão apenas em 7% dos cargos editoriais de topo no Brasil | O (des)equilíbrio da cobertura da guerra na Ucrânia | Jornalista é um "storyteller"? | Os riscos de ser jornalista no Twitter
Buenas, moçada!
Moreno aqui, abrindo mais uma NFJ em mais uma sexta-feira de nossas vidas. Por aqui, o ano começou a correr DESENFREADO. Sujeito mal inicia a semana e começa a marcar checked nas caixinhas. Tudo da maneira o mais consistente possível, como muito bem reflete a Gaía. Mas quando vê já é quinta de noite. E a próxima semana já aponta no horizonte. E lá vamos nós marcar as caixinhas de novo.
Bom, chega de papo. MAS ANTES:
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Agora vamos nessa!
☀️ 8 de março. No Dia Internacional da Mulher, o Reuters Institute divulgou novo relatório sobre mulheres e liderança na indústria jornalística. A análise de 240 veículos de 12 países (incluindo o Brasil) mostrou que apenas 21% das editoras-chefe (“top editors”) são mulheres, apesar de o gênero representar 40% da amostra. O Brasil se destaca negativamente: mulheres em cargos editoriais de topo representam apenas 7% dos entrevistados. Em termos comparativos, nos EUA esse percentual é de 50%. Também no dia 8 a Abraji lançou um estudo inédito sobre violência de gênero contra jornalistas, realizado com apoio do Global Media Defense Fund, da UNESCO. Segundo o levantamento, 127 jornalistas e meios de comunicação foram alvos de 119 casos de violência de gênero, dos quais mulheres jornalistas (cis e trans) representam 91,3% das vítimas. A Fenaj produziu uma campanha virtual para homenagear profissionais da categoria que foram pioneiras no feminismo, no jornalismo, no sindicalismo e na luta por direitos. Nísia Floresta e Beatriz Nascimento estiveram entre as homenageadas. O Centro Knight, em parceria com IWMF e UNESCO, promoveu o webinar gratuito “Como reportar com segurança - recursos para mulheres jornalistas, redações e aliados”. A Global Investigative Journalism Network também organizou um webinar com dicas e ferramentas compartilhadas por jornalistas investigativas. A GIJN ainda atualizou seu guia sobre como lidar com assédio e questões de discriminação e vai promover, no próximo dia 15, outro webinar gratuito com dicas para investigar questões que afetam diretamente as mulheres. Pra fechar este bloco especial, três textos reflexivos: no Reuters Institute, Monica Cole fala sobre seu estudo com jornalistas do México e argentina, que observou as mudanças na forma de representação das mulheres na mídia e os desafios enfrentados pelas profissionais. No blog do Mestrado em Inovação e Jornalismo da Universidade Miguel Hernández, Alicia de Lara mostra como a aposta por um enfoque de gênero está entre as inovações jornalísticas mais importantes da década. No Lenfest Institute, depoimentos de 10 jornalistas mulheres sobre como começaram a carreira. (LV)
☀️ Guerra na Ucrânia. A newsletter do ObjETHOS repercute a cobertura brasileira, com entrevistas com Pedro Aguiar, professor da UFF, e Fabricio Vitorino, gerente digital da NSC. Segundo eles, ainda que os enviados especiais relatem o lado humano da guerra, em geral os veículos jornalísticos ainda são muito dependentes da visão da Europa e dos EUA, o que acaba desequilibrando a cobertura. "Os enviados especiais observam o nível micro, histórias humanas, fazem pautas de clima, de testemunho e do singular. Já redatores e editores, alimentados por agências de notícias e assessorias de governos, têm acesso ao macro e conseguem elaborar pautas de análise e grandes declarações. O problema é que a linha editorial dos aquários está pesando a mão demais nesse último grupo", disse Aguiar. Já Carlos Castilho reflete sobre os "explicadores" da guerra e o que esse fenômeno pode significar para as rotinas produtivas e a relação do jornalismo com sua audiência. Para contornar os desafios de realizar uma cobertura a distância talvez valha a pena observar o trabalho do Bellingcat. Aliás, este post do Geocracia chama a atenção para o protagonismo da cobertura baseada em OSINT neste conflito. O Journalism.co.uk dá dicas para cobrir eventos traumáticos a distância. No Reuters Institute tem o resumo de uma conversa com o investigador digital Christo Grozev. O diretor executivo do Bellingcat chama a atenção para pontos relevantes do conflito e dá dicas para fazer a cobertura. Um exemplo é ter o foco mais em dados do que em fontes. Ainda no Reuters, a história de como o jornalista ucraniano Jakub Parusinski usou financiamentos coletivos para manter a mídia independente ucraniana viva. A Time mostra os desafios enfrentados pelos jornalistas ucranianos que permanecem no país. No NYT, uma reportagem diz que os "últimos vestígios" de jornalismo estão desabando sob pressão do Kremlin. "Tudo o que não é propaganda está sendo eliminado", disse o jornalista Dmitri A. Muratov ao jornal norte-americano. O Nieman Lab dá detalhes da nova "era das trevas da informação" na Rússia. (MO)
☀️ Twitter e Jornalismo. “Na corda bamba do Twitter” é o título deste relatório do Tow Center sobre um dilema profissional bem contemporâneo: embora dependam cada vez mais de plataformas de mídia social como Facebook e Twitter para buscar o engajamento da audiência — o que muitos acreditam ser necessário para melhorar a popularidade e a credibilidade do jornalismo entre o público — jornalistas relatam que a presença nas redes sociais traz riscos pessoais e profissionais, como acusações de viés político que podem levar à demissão de seus empregos, trollagem, doxing e ameaças de violência física. “Isso é especialmente verdadeiro para mulheres jornalistas e jornalistas negros”, diz o autor Jacob Nelson. As descobertas, feitas a partir de entrevistas com 37 profissionais de redações dos EUA, revelam que as políticas de mídias sociais feitas pelas organizações são ambíguas e aplicadas de maneira desigual. Além disso, elas refletem o foco dos gestores na percepção da audiência sobre o veículo, e não no assédio do público aos jornalistas. Ao mesmo tempo em que incentivam os repórteres a serem usuários ativos nas redes sociais, oferecem pouca orientação ou apoio quando os jornalistas sofrem ataques. As regras e normas para mídias sociais concentram-se em “desencorajar os jornalistas a compartilhar qualquer coisa nas mídias sociais que possa comprometer a objetividade percebida do veículo”, destaca o estudo. Mulheres jornalistas e profissionais negros destacam que, além da insuficiência de proteção, eles estão mais propensos a serem injustamente acusados de utilizar as redes sociais sem neutralidade. Os entrevistados fizeram recomendações sobre como as políticas de mídias sociais das redações poderiam ser melhoradas: por meio da adoção de uma abordagem proativa (em vez de reativa) ao assédio online; e do privilégio da transparência em detrimento da objetividade quando se trata do uso das redes sociais. (LV)
☀️ Notícias da indústria. No Nieman Lab, Sarah Scire repercute um estudo sobre como a emergência do storytelling pode minar a credibilidade jornalística. A pesquisa selecionou notícias sobre política e pediu a mais de 2 mil pessoas nos EUA que as lessem. Metade do grupo foi informado que os autores dessas notícias se apresentavam como "storytellers" em seu perfil no LinkedIn. A outra metade não recebeu essa informação. O resultado? A primeira metade apresentou uma maior tendência a achar as matérias enviesadas, a considerar que os sites onde elas foram publicadas adotaram uma abordagem sensacionalista, falhando a retratar as pessoas de maneira justa. Além disso, consideraram que repórteres também eram parciais. É, moçada, talvez seja uma boa revisar seus perfis nas redes sociais. | No NYT, uma matéria sobre a expansão da Axios e o seu método de resumir tudo em bullet points. Agora, a empresa ensaia vender seu know how para o mundo corporativo. A empresa vem ouvindo leitores que gostariam de ter seus emails de trabalho lidos por seus funcionários. | Os jovens querem notícias de qualidade, mas acham os formatos tradicionais uma chatice. Leiam esta matéria do Journalism.co.uk com Warren Nettleford, jornalista cofundador do serviço de notícias baseado nas redes sociais Need to Know. Me lembrou o canal Reload. | Matéria no IJNet repercute estudo do Reuters Institute sobre a indiferença do público em relação ao jornalismo a partir do contexto brasileiro. Os entrevistados apontam a educação midiática, a transparência e a capacidade de o jornalismo usar recursos digitais em suas narrativas como pontos fundamentais para recuperar a atenção e a confiança do público. (MO)
☀️ Links diversos. Centro Knight anuncia palestrantes do ISOJ, que terá formato híbrido neste ano. | Tem vaga no Grupo Abril para estágio em jornalismo. | Abraji e OCCRP lançam parceria para estimular o jornalismo investigativo. | Estudantes de jornalismo de diferentes regiões do país farão a cobertura do Festival 3i na hashtag #FocaNo3i. | Startup no Egito ajuda jornalistas a sugerirem pautas para veículos internacionais. | A Abraji disponibilizou no Pinpoint transcrições de discursos de Bolsonaro e Lula e de acórdãos do TCU. | Em vídeo, Paul Bradshaw explica a importância do pensamento computacional para o jornalismo de dados. (MO)
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