NFJ#365 🍂 Abraji registra 453 ataques contra o jornalismo em 2021
A discussão da PL2630/20 | Diversidade pode começar na entrevista de seleção | Paywall: equilíbrio entre engajamento e frustração | Oficina sobre LAI | Guias para o International Journalism Festival
Buenas, moçada!
Moreno aqui em uma sexta-feira chuvosa e pegajosa em Porto Alegre. Hoje meio atrasado, eu sei. Contingências da vida. O que importa é que a news chegou.
Diante do adiantado da hora, vamos nessa?
🍂 Violência contra jornalistas. Ontem foi Dia do jornalista, você sabem. E a nossa vida segue não sendo fácil, vocês também sabem. Na sexta passada uma equipe da Repórter Brasil foi surpreendida por policiais armados enquanto esperavam por uma entrevista na sede da mineradora inglesa Brazil Iron, em Piatã, na Bahia. A empresa, que havia recebido os jornalistas cordialmente, afirmou que eles haviam invadido a sua propriedade nos dias anteriores. Também na sexta, mas mais tarde, o fundador do Congresso em Foco, Sylvio Costa, teve a festa de aniversário interrompida por policiais militares de Brasília, onde reside, por causa — ao que tudo indica — de um grito de "fora Bolsonaro". No dia 4, em live promovida pela revista Fórum, Costa expressou preocupação com a ação policial, sobretudo pela truculência, e disse que o jornalismo brasileiro precisa se engajar em defesa da democracia:
“Jornalismo hoje sem cidadania não é jornalismo. Só existe jornalismo na democracia. Não pode haver jornalismo advogando por algo que seja fora do campo democrático”.
Ontem, a Abraji lançou a primeira edição do relatório de monitoramento de ataques a jornalistas no Brasil, com dados de 2021. Deem uma olhada num trecho do release de lançamento com os highlights do levantamento:
"[...] somente em 2021, foram registrados 453 ataques contra comunicadores e meios de comunicação. Em 69% dos casos, a agressão foi provocada por agentes estatais. O presidente Jair Bolsonaro (PL), sozinho, atacou a imprensa 89 vezes no último ano, ou seja, sozinho representa 19,64% do total de ataques. Somando isso aos ataques de seus ministros, assessores e filhos com mandatos eletivos, chega-se a 55% dos ataques totais. Quando apoiadores e manifestantes em eventos favoráveis ao presidente são incluídos na soma, o número chega a 271 – 60% dos registros totais."
E agora um trecho das recomendações que o relatório faz a jornalistas:
"Usar ferramentas de trabalho seguras e encriptadas, separar contas pessoais e profissionais, apagar informações pessoais em sites e denunciar os ataques às autoridades e à organização em que trabalha, a fim de não normalizar este tipo de violência, buscando mecanismos de proteção."
O documento também faz recomendações às empresas de comunicação, poder público e plataformas, e salienta que “mudanças institucionais são mais efetivas que as individuais ou organizacionais”. Ou seja, que a “responsabilidade de transformar o quadro de violência contra jornalistas é, em parte, dos meios de comunicação, mas, sobretudo, do Estado e da sociedade”. (MO)
🍂 PL2630/20. Enquanto isso, a discussão sobre o projeto de lei 2630/20 na Câmara pegou fogo com a entrada das plataformas — no caso, do Google, que investiu pesado em uma campanha de marketing afirmando que a PL "obrigaria" a empresa a "financiar notícias falsas". Quem acompanha a relação do Google com o ecossistema (des)informacional foi taxativo: o Google já financia notícias falsas, como lembraram Tai Nalon e Rogério Christofoletti. Além de contribuir para o empobrecimento do jornalismo ao beneficiar iniciativas que buscam audiência a qualquer custo, como demonstrou esta matéria da Carta Capital. O argumento central do descontentamento do Google é a pouca discussão em torno da ideia de remunerar produtores de conteúdo jornalístico. Sobre isso, Abraji e organizações da sociedade civil, lideradas pela Coalização Direitos na Rede, assinaram uma nota conjunta pedindo a "retirada completa dos dispositivos sobre imunidade parlamentar e remuneração de conteúdo jornalístico". Cristina Tardáguila pediu ao relator Orlando Silva: "Escute-nos. Tire imunidade e bolsa grande-mídia desse texto". A Ajor engrossou o coro. Este artigo de Tai Nalon no Poynter sobre a lógica de desinformação do presidente Bolsonaro e seu governo ilustra o perigo que pode representar a imunidade parlamentar ser estendida às redes, bem como a necessidade de as plataformas agirem conjuntamente (com o jornalismo) para conter a desinformação. Deem uma olhada neste trecho.
“Os operadores oficiais de desinformação são capazes de gerar tantas falsidades que acabam por criar um senso de homogeneidade narrativa e, em última instância, uma percepção paralela de realidade factual.”
Por fim, este fio de Luciana Moherdaui é útil para ficar por dentro da polêmica.
🍂 Diversidade. Que tal apostar na diversidade já na entrevista de candidatos? Este guia do projeto Trusting News oferece sugestões de perguntas para entrevistadores. No texto, Joy Mayer defende que pessoas com experiências e perspectivas diversas são essenciais para que a redação também diversifique suas abordagens e, assim, cubra melhor diferentes tipos de assuntos. Vejam este exemplo: "Nós encorajamos as pessoas a trazerem sua totalidade para o trabalho. Você quer nos contar algo sobre alguma parte da sua vida, das suas experiências ou da sua identidade que nos mostre como você encara o seu trabalho?" Aqui tem um guia mais completo sobre o tema. Aqui no Brasil, depois de lançar a régua de diversidade nas redações, em 2021, a Énois está pensando agora em como a mensuração de impacto pode ampliar a diversidade de uma organização jornalística. O trabalho está só começando, segundo contou a Simone Cunha. Mas ela e a Jamile Santana já deram umas dicas para quem quiser ir pensando em como medir os esforços da sua organização jornalística. Deem uma olhada. Voltando ao hemisfério norte, o Reynolds Journalism Institute lançou um guia para cobrir melhor pessoas com algum tipo de deficiência física. (MO)
🍂 Paywall: engajamento vs frustração. Qual é a medida para um paywall?, vocês poderiam se perguntar. Não sei. Mas talvez valha a pena dar uma olhada nesta matéria do Journalism.co.uk com dicas Madeleine White, da empresa Poool, especializada em fornecer soluções de paywall. A questão sobre a qual ela se debruça é como achar o equilíbrio entre o engajamento e a frustração da audiência. Um paywall muito fechado pode mandar o pessoal embora. Por outro lado, uma barreira muito porosa pode não ser muito boa para converter usuários em assinantes. E aí? Difícil. Falando em usuários e assinantes, o Digiday traz um texto sobre como comentários bem moderados podem fornecer insights interessantes aos veículos sobre sua audiência. Já o Laboratorio de Periodismo resumiu um estudo que verificou uma queda acentuada, de 2018 pra cá, no tempo de leitura de artigos jornalísticos no mundo todo. Os autores do estudo afirmam que os resultados podem refletir uma fadiga de notícias. E sugerem uma atenção à publicação de notícias positivas — em meio às necessárias (e mais negativas). Aliás, vocês viram que o WP lançou uma newslettter chamada The Optimist? Enquanto isso, o NYT, apesar do sucesso de seu modelo de negócio, tem um problema: seus assinantes são, em geral, pessoas mais velhas, mais ricas e mais liberais do que o restante do país. Esta matéria do Vox repercute o que o Times está fazendo para sair dessa bolha. (MO)
🍂 Links diversos. Tem vaga para programador(a) no Núcleo. | Abraji e Fiquem Sabendo treinaram mais de 300 frilas e estudantes sobre a LAI. | Falando em LAI, a Fiquem Sabendo tá preparando, em parceria com a Faculdade Cásper Líbero (FCL), uma oficina online e gratuita para ajudar jornalistas iniciantes a cavar pautas exclusivas usando a Lei de Acesso à Informação. Vai ser dia 28 de abril no YouTube da FCL. Quem se inscrever ganha certificado. | Lupa vai lançar uma campanha que será veiculada em pontos de circulação no metrô do Rio e de São Paulo. | Guias de cobertura de eleições reunidas pelo GIJN. | Um guia para investigar quem mantém sites. | Um guia da Journalism.co.uk para acompanhar o International Journalism Festival, que tá rolando até domingo em Perugia, na Itália. O blog Polis, da LSE, também preparou o seu. | Oportunidade no Pinterest. | E no TikTok. | ICFJ tá com inscrições abertas para programa de treinamento de jovens jornalistas em redações dos EUA. | A transformação do jornalismo explicada em 9 gráficos.
🍂 💎 Concatenções teóricas. Você já ouviu falar em jornalismo modular? Este bloco é exclusivo para subscribers. Se você é assinante da versão free, a edição termina aqui. Mas fique tranquilo, você sempre terá acesso à grande parte da NFJ. Mas que tal acompanhar nossas reflexões? Cliquem no link abaixo e sigam nossas análises semanais!