NFJ#366 🍂 Notícias do ISOJ e do International Journalism Festival
Podcasts, inteligência artificial, futuro das notícias e discussões sobre a necessidade de uma redação física foram destaques de dois dos principais eventos de jornalismo do mundo
Buenas, moçada!
Feliz Páscoa! 🐇
Moreno aqui.
Enquanto o sol brilha em Monte Carlo, onde tá rolando o Masters 1000, o vento de abril começa a gelar os ossos aqui no sul do Brasil, mas de vez em quando o sol rompe as nuvens e dá aquele quentinho bom dos dias secos de inverno.
Tá chegando aquela época boa de comer bergamota no sol.
Enfim. Vamos de news para ir para o feriado logo. Hoje é tudo com a Lívia. Eu tô só nas concatenações, bloco exclusivo a subscribers que fecha cada edição.
Bora.
🍂 ISOJ I: podcasts e IA - Selecionamos algumas discussões que marcaram o Simpósio Internacional de Jornalismo Online (ISOJ) deste ano. Uma delas foi sobre o crescimento das narrativas em áudio no jornalismo digital. “Hoje, áudio não é mais só sinônimo de rádio. A profunda mudança na forma como as pessoas, principalmente os jovens, consomem a palavra falada e o áudio encorajou as organizações de notícias a explorar o formato”, disse Tamar Charney, estrategista editorial. Sarah Feldberg, do San Francisco Chronicle, contou que os podcasts serviram como uma ferramenta para atingir um novo público que não se considera leitor de jornais. Um case apresentado foi o do podcast The Refresh, da Insider, que transpõe uma barreira comum ao formato: a transmissão de notícias de última hora no consumo sob demanda. A produtora Rebeca Ibarra afirmou que o podcast usa novas tecnologias para fornecer notícias de última hora, como um rádio ao vivo, mas on demand. A primeira edição do podcast é disponibilizada às 7h e depois atualizada várias vezes ao dia até o fechamento da edição final. Inteligência Artificial foi o tema de outro painel do ISOJ, que teve a presença de pesquisadores responsáveis pelo periódico científico do simpósio. A edição especial se concentrou nas implicações associadas à inteligência artificial e sua crescente interconexão com notícias e jornalismo. O estudo de Colin Porlezza e Giulia Ferri, por exemplo, teve como objetivo avaliar a relevância dos princípios éticos e democráticos na construção ontológica do jornalismo automatizado. “À medida que a inteligência artificial se torna difundida nas redações, princípios éticos – como responsabilidade, transparência, confiabilidade e outros – precisam ser avaliados cuidadosamente”, disse Porlezza. (LV)
🍂 ISOJ II: plataformas, futuro das notícias e desinformação - O futuro das notícias foi tema central do painel com Richard Gingras, chefe de produtos de notícias do Google. Hoje, as barreiras convencionais entre produção e consumo de notícias desapareceram. E, na visão de Gingras, essa é uma das melhores coisas que já aconteceram na indústria da mídia. “Colocamos efetivamente uma impressora na casa de todos. Não há mais porteiros”, disse. A declaração é interessante, já que o Google é visto como um grande gatekeeper. Gingras insiste que, quando se trata de jornalismo, o verdadeiro objetivo do Google é fornecer informações. O executivo disponibilizou sua fala completa no Medium. Um trecho:
“O sucesso do Google é maior em sociedades abertas. O valor e o sucesso da busca e de nossos produtos de publicidade estão vinculados ao robusto ecossistema da web aberta. O impacto do jornalismo também é maior em sociedades abertas – e jornalismo de qualidade é fundamental para garantir que essas sociedades permaneçam abertas. Temos objetivos comuns, um senso comum de missão. É por isso que as centenas de pessoas no Google que trabalham com editores de notícias e jornalistas são apaixonadas por seu trabalho. Eu sou apaixonado pelo meu trabalho. Quando o jornalismo é bem sucedido, todos nós trabalhamos melhor”.
O Colóquio Iberoamericano de Jornalismo Digital integrou o ISOJ discutindo liberdade de imprensa, inovação e desinformação. Borja Echeverría, diretor editorial do El País, falou sobre o êxito das 200 mil assinaturas digitais do veículo espanhol, lançadas no início da pandemia, em 2020. Para ele, os modelos editorial, de negociação, tecnológico e o marketing devem estar integrados. Também durante o Colóquio, quatro jornalistas nicaraguenses deram seus depoimentos sobre as más condições do jornalismo no país e pediram solidariedade internacional. (LV)
🍂 International Journalism Festival I - Após uma pausa de dois anos, o Festival Internacional de Jornalismo voltou a Perugia, na Itália. Surgimento de redações híbridas, modelos de receita de leitores, cobertura da crise climática, inovação e a mídia na guerra da Ucrânia foram alguns destaques da conferência. O Reuters Institute publicou em seu site algumas lições aprendidas. Selecionamos quatro delas:
A inovação é (também) decidir o que não fazer. "Utilizar cada novo recurso lançado por uma plataforma de tecnologia não é inovação", disse Chris Moran, do Guardian. "Uma inovação tem que ser algo que seja genuinamente útil para o público ou para a redação. O que tento fazer agora é encontrar pessoas interessantes na redação com problemas interessantes para resolver”.
O declínio da receita com anúncios pode não ser uma coisa ruim. Alan Rusbridger, presidente do Comitê Diretor do Reuters, disse que o lento desaparecimento da receita publicitária está forçando o jornalismo a se concentrar nas necessidades dos leitores e ganhar sua adesão. “A dependência da publicidade vai diminuir, mas estamos aprendendo histórias inspiradoras sobre como o jornalismo está se reposicionando e exigindo ser tomado como um bem de interesse público”.
O painel organizado por Federica Cherubini analisou o futuro do negócio de notícias. "Muitas redações experimentaram grandes picos de tráfego durante a pandemia e isso levou a conversões. O verdadeiro desafio hoje é a retenção desses novos assinantes, o que é incrivelmente difícil e bastante caro", disse Renée Kaplan, do FT.
Precisamos de ações urgentes das redações para combater o ódio dirigido a jornalistas. Em um painel sobre desinformação, a jornalista brasileira Daniela Pinheiro disse que as organizações de mídia devem estar prontas para combater proativamente notícias falsas e assédio. “As redações devem empregar especialistas para que possam responder rapidamente a quaisquer ameaças. Você tem que ter seu próprio exército pronto para o combate". Patrícia Campos Mello concordou que os jornalistas visados, que geralmente são mulheres, não devem lidar com isso sozinhos: "As empresas devem fazer alguma coisa em resposta”, disse ela. (LV)
🍂 International Journalism Festival II - Vale a pena lutar por uma redação física? O Journalism.co.uk compilou as principais discussões sobre este assunto, destacando que as organizações de notícias estão repensando quando é realmente necessário que os repórteres estejam presentes. Na emissora alemã RTLNews, pesquisas recentes com funcionários no início e no meio da pandemia refletiram muitos sentimentos contraditórios. As vantagens do equilíbrio entre vida profissional e pessoal esbarraram na falta de colaboração. O consenso foi de que as pessoas queriam uma divisão de aproximadamente 50:50 do escritório físico para o trabalho em casa. Como resultado, estabeleceu-se um novo conceito de redação, que tenta trazer as vantagens de casa para o escritório. Isso inclui espaços de trabalho para funções específicas, eliminando escritórios individuais, "bases" para cada equipe em que eles têm uma mesa compartilhada, uma variedade de salas para chamadas privadas, cafés e um kit de escritório móvel para que ninguém se sinta em desvantagem se trabalhar em casa. Outro exemplo é do veículo canadense Globe and Mail, que reduziu seu espaço de redação, com a equipe trabalhando dois dias por semana no escritório. Não há mais capacidade suficiente para ter todos em 100% do tempo. "Nossa filosofia por trás disso era fazer do escritório um destino e dar ao destino um propósito. O objetivo do escritório é a colaboração e a conexão social com seus colegas, ferramentas e equipamentos aprimorados que você não pode obter em casa", diz Angela Pacienza, editora executiva do The Globe and Mail. (LV)
🍂 Links diversos - Estão abertas até 27 de junho as inscrições para o Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde, iniciativa da Roche América Latina e da Fundação Gabo. | A Global Investigative Journalism Network criou uma ferramenta e um método que podem desmascarar usuários, celebridades, políticos e empresários por trás de mensagens e sites que propagam fake news. | A Revista AzMina e o Núcleo Jornalismo acabam de lançar Amplifica, ferramenta de escuta social que monitora a comunidade da revista no Twitter e permite ouvir o que ela tem a dizer sobre os mais diversos assuntos. | A Aliança Nacional LGBTI+, em parceria com o GayLatino, criou o Manual de Comunicação LGBTI+, que propõe uma terminologia atualizada para se referir à população lésbica, gay, bissexual, travesti, transexual e intersexo, tornando-se fonte de consulta para profissionais da área de comunicação. | A Folha publicou acidentalmente o obituário da rainha Elizabeth 2ª. O erro foi destaque na imprensa inglesa. | Jornalista da TV Globo foi esfaqueado em Brasília ontem à noite. (LV)
🍂 💎 Concatenções teóricas. Este bloco é exclusivo para subscribers. Se você é assinante da versão free, a edição termina aqui. Mas fique tranquilo, você sempre terá acesso à grande parte da NFJ. Mas que tal acompanhar nossas reflexões? Cliquem no link abaixo e sigam nossas análises semanais!