NFJ#367 🍂 Como se informa quem não confia no jornalismo?
Como fazer o jornalismo funcionar para quem não é elite? | O melhor tipo de jornalismo é o representativo | As dores do Substack | Quartz derruba paywall | Melhores horários para postar nas redes
Buenas, moçada!
Moreno por aqui, sexta preguicenta pós feriado. Sol, azul de abril no céu. Temperatura amena. E assim seguimos devagarinho rumo ao final de semana. E por aí?
Antes de começar, queria contar pra vocês que o Farol Jornalismo agora é membro da Ajor, a Associação de Jornalismo Digital. É uma honra pra nós estar ao lado de dezenas de organizações jornalísticas de todo o país. Para fortalecer essa identidade, a partir de agora o logo da Ajor vai estar no rodapé das edições da NFJ. 💪
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E vamos nessa!
🍂 Como se informam os que não confiam. Como audiências que não têm confiança na maioria das organizações de notícias em seus países navegam pelo ambiente de informação digital? Para responder a essa pergunta, pesquisadores do Reuters Institute analisaram qualitativamente como 100 indivíduos de Brasil, Índia, Reino Unido e EUA usam o Facebook, WhatsApp e Google. Tratando as notícias com indiferença, poucos tendem a clicar nos links que veem. Costumam fazer julgamentos rápidos, instantâneos, sobre a credibilidade das informações. As principais pistas para esses atalhos mentais envolvem: (1) ideias pré-existentes sobre notícias, (2) indicações sociais de familiares e amigos, que compartilham ou interagem com as notícias, (3) o tom e a redação das manchetes (se são ou não percebidas como clickbait), (4) o uso de elementos visuais que, muitas vezes, eles veem como evidência importante para o que podem ou não confiar, (5) a presença de publicidade - se a informação parece ou não ser patrocinada, e (6) outras indicações específicas como decisões de design em torno de como a informação aparece nas plataformas. Especificamente no Facebook, elementos como comentários e curtidas ajudam a contextualizar as notícias. No Google, a ordem de classificação dos resultados da busca é especialmente mencionada. Muitos expressam ceticismo em relação a todas as notícias, mas frequentemente apontam assuntos políticos como conteúdo que tentam evitar por completo. Apesar da estreita relação com as plataformas, muitos se mostram inseguros sobre como elas determinam quais informações são mostradas a eles, além de expressarem preocupação com desinformação e invasão de privacidade. (LV)
🍂 Diversidade. Vamos fazer o jornalismo funcionar para aqueles que não nasceram na elite. Com título instigante, este artigo da CJR chama atenção para a desconexão entre jornalistas (principalmente editores) - pertencentes a elites altamente educadas, urbanas e cosmopolitas -, e o público que atendem. De acordo com Alissa Quart, mesmo que as fortunas das empresas jornalísticas tenham diminuído vertiginosamente, como grupo social, o status dos jornalistas aumentou. Isso faz com que a cobertura de notícias, em geral, não seja feita tendo em mente as pessoas em situação de pobreza. “Editar com sensibilidade de classe significa que os meios de comunicação reconsiderem alguns dos elementos fundamentais do jornalismo. Isso inclui não apenas a contratação de repórteres que tiveram experiências de vida ‘não tradicionais’, mas também dar a eles mais liberdade de expressão, apoiando sua experiência”, diz. Nesta mesma linha de argumentação vai este artigo de Jenna Wortham, que afirma que muitas redações dos EUA não refletem a demografia e os problemas que cobrem. Em entrevista a Wortham, Maria Hinojosa, fundadora da Futuro Media, defende que “o melhor tipo de jornalismo que você pode fazer é o representativo. Se sua redação não é representativa de nenhuma forma, você não pode estar praticando a excelência no jornalismo. Fim de discussão”. Embora haja um esforço da indústria na contratação de profissionais negros, no WPost, por exemplo, o desafio tem sido retê-los. Este texto da CJR cita um relatório da entidade representativa dos funcionários do Post, que mostrou que profissionais negros estão deixando a empresa em taxas desproporcionalmente altas: em 2020, foram mais de um em cada três. No Brasil, a Marco Zero Conteúdo e a Universidade Católica de Pernambuco acabam de lançar o app Lume, que oferece conteúdo acessível e de qualidade para pessoas cegas e com baixa visão. Vida longa a iniciativas inclusivas como essa! (LV)
🍂 Guerra na Ucrânia. No ObjETHOS, a professora Sylvia Moretzsohn discorre sobre o complexo contexto que antecedeu o início da guerra na Ucrânia e afirma que “a tomada apriorística de partido numa situação dessas significa a morte do argumento”. Ela lembra que toda guerra é também uma guerra de informação, contrainformação ou desinformação. “Se antes da internet já não se podia confiar nas notícias que os jornais publicavam em tempos de guerra, imagine-se agora, no interminável, ininterrupto e muito bem articulado tiroteio no mundo das redes”, diz. Em entrevista ao Committee to Protect Journalists, Emily Bell, diretora do Tow Center, afirma que as empresas de tecnologia devem “acordar” para seu papel na desinformação da guerra na Ucrânia. Segundo ela, as plataformas não agiram com rapidez suficiente para impedir o abuso de poder em seus ambientes. Esta matéria do WPost informa que a Ucrânia está utilizando software de reconhecimento facial para escanear rostos de russos mortos e entrar em contato com as mães. Autoridades ucranianas dizem que isso pode ajudar a acabar com a guerra, mas especialistas dizem tratar-se de “guerra psicológica clássica”, que pode definir um novo padrão perigoso para futuros conflitos. No site do Reynolds Journalism Institute, ferramentas e dicas para reportar notícias de alto risco. (LV)
🍂 Indústria. Este artigo do NYT aborda as “dores de crescimento” do Substack, que quer ser um “universo alternativo na internet”, mas enfrenta êxodo de escritores e a necessidade de ir além das newsletters. | O Quartz removeu o paywall de seu site e está adotando um “muro de cadastro”. Funciona assim: todos os leitores passam a ler gratuitamente quatro matérias por mês. Depois de clicar no na quarta, um registro de e-mail é exibido, solicitando ao leitor que se inscreva na newsletter Quartz Daily Brief. Aqueles que se inscreverem recebem um resumo das grandes manchetes do dia e podem ler o site gratuitamente. Mais informações no Journalism.co.uk e no Nieman Lab. | Na LJR, 18 organizações se juntam ao hub de negócios jornalísticos do ICFJ “Elevate” em 2022, incluindo 7 de América Latina e Espanha. Agência Lupa e Agência Mural de Jornalismo das Periferias são as brasileiras no projeto. | Data Zoom Amazônia, projeto do grupo Amazônia 2030, centraliza e facilita o acesso de milhões de informações sobre a Amazônia Legal. Este texto no site da Abraji explica que o banco de dados pode ser uma importante ferramenta de pautas para jornalistas. | A Marco Zero Conteúdo, com o apoio da Repórteres Sem Fronteiras e do Coletivo Sargento Perifa, acaba de lançar o Mapa da Mídia Independente e Popular de Pernambuco. | No GIJN, premiados no Sigma Awards compartilham 10 lições para jornalistas de dados ao redor do mundo. | Financial Times explica como criou o newsgame que desafia leitores a reduzir emissões até 2050. O trabalho foi feito em parceria com cientistas, modeladores e especialistas em política. | Levantamento do PressGazette mostra que publishers venderam quase US$ 12 milhões em NFTs desde março de 2021. | No Nieman Reports, Julia Cagé fala sobre os perigos de transformar o jornalismo em mercadoria. À medida que a independência editorial diminui, a receita publicitária seca e o trabalho dos jornalistas é desvalorizado, ela destaca a necessidade de desvincular a mídia das forças do mercado e oferece alternativas de como democratizar as notícias para o bem público. (LV)
🍂 Links diversos. Os melhores horários para postar em diferentes plataformas. | Google lançou o Desafio de Inovação para a América Latina. O prazo é dia 7 de junho. | Tem vaga na RSF Brasil. | Como usar a luz do sol e as sombras para geolocalizar conteúdos. | Meta/Facebook lançou um centro de recursos para jornalistas. | Fiquem Sabendo e FGV vão lançar relatório sobre o impacto da LGPD no acesso a informações públicas. | Vaga no Estadão para trabalhar com audiência. | Obama se juntou à luta contra a desinformação. Aqui tem uma lista de leituras sobre o tema sugerida pelo ex-presidente dos EUA. | Quatro dicas para aumentar o envolvimento da comunidade em 2022. | Mais cobertura do ISOJ na Latam Journalism Review. | Jornalismo de dados: GIJN reuniu vários vídeos sobre o tema. E dez dicas dos fundadores do Sigma Awards. (MO)
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