NFJ#368 🍂 Pesquisa mostra como desinformação e violência impactam jornalistas mulheres e LGBT+
Twitter, Elon Musk e o jornalismo | A Amazônia não é um deserto de notícias | Eventos para o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa | Quem faz a mídia independente de Pernambuco
Buenas, moçada! Bem aí?
Moreno aqui, numa típica sexta de outono em Porto Alegre.
Enquanto lá fora o Caramelo — o cão da casa — aproveita o solzinho que aos poucos esquenta um dia que começou abaixo dos 15 graus, e na cozinha a chaleira chia com a água para o cafezinho pós almoço, no escritório Jorge Drexler canta no Spotify que “el amor es el plan maestro”. E assim fecho mais uma Newsletter Farol Jornalismo — edição que começou a ser produzida no calor de Salvador, onde está a Lívia.
Nossas boas-vindas às pessoas que recebem pela primeira vez a NFJ. Ao longo dos seis tradicionais blocos que compõem a news, vocês e os demais estimados assinantes, poderão conferir — entre muitos outros links — os seguintes destaques:
Principais dados de um relatório sobre desinformação e violência de gênero;
O que pode representar para o jornalismo a compra do Twitter por Elon Musk;
Destaques de um relato sobre a atuação de jornalistas locais na Amazônia;
Notícias e novidades da indústria, como um mapa de conflitos na Amazônia;
Links com oportunidades, dicas e eventos;
E uma discussão sobre newsletters e escala para o jornalismo local.
Este último bloco é exclusivo para apoiadores da NFJ aqui no Substack. Por R$ 5,50 por mês vocês têm acesso a essas discussões exclusivas e ao acervo da NFJ. Então:
No mais, é isso. Vamos nessa?
Bora.
🍂 Desinformação e violência. É leitura obrigatória este relatório sobre o impacto da desinformação e da violência no trabalho de jornalistas mulheres e LGBT+. Produzida pela Gênero e Número em parceria com a Repórteres sem Fronteiras, a pesquisa ouviu 237 pessoas, de todas as regiões do Brasil. Nesta matéria, a editora-assistente da Gênero e Número Vitória Régia da Silva sintetiza os principais achados. O principal número talvez seja este: 92,5% das participantes considera o fenômeno da desinformação "muito grave", sendo capaz de afetar diariamente a vida profissional (55%) e pessoal (45%). A reportagem ouve Bia Barbosa, da RSF, que chama a atenção para outro dado importante: mesmo as mulheres que não sofreram ataques e intimidações acabaram por mudar o seu comportamento profissional: 31% diminuíram ou mudaram a forma como utilizas as redes sociais (sendo que 25% tiveram de fechar suas contas após sofrerem ataques) e 15% desenvolveram problemas relacionados à saúde mental. Além dos dados quantitativos, a pesquisa também fez entrevistas em profundidade com Vera Magalhães, Caê Vasconcelos (um parêntese rápido aqui para indicar esta matéria da Latam Journalism Review sobre a busca de jornalistas transgênero por mais representatividade para a comunidade trans no Brasil), Kátia Brasil, Schirlei Alves, Martha Raquel e Juliana Dal Piva. Na sua fala, Dal Piva relata o caso de quando sofreu um primeiro episódio mais grave de agressão online, e de como ela se arrepende de não ter pedido uma investigação formal.
Um trechinho da fala dela:
"Isso [o pedido de investigação] acabou não sendo feito e é um arrependimento que eu tenho de não ter feito isso, me incomoda bastante. Porque eu acho que assim, depois disso, eu carreguei para mim que essas coisas precisam ser levadas a sério e quando a gente não cobra a punição, a gente não cobra a responsabilidade de quem faz essas coisas."
Outros dados importantes dizem respeito aos efeitos da desinformação (e da violência) para a relação entre a imprensa e a sociedade. Segundo o relatório, o fenômeno naturaliza os ataques a jornalistas (85%), descredibiliza o trabalho da imprensa (81%), deslegitima o papel da imprensa como fiscalizadora do poder (71,3%) e normaliza o discurso pró-censura (60,8%). Aqui está o relatório na íntegra.
Ainda sobre o tema violência de gênero, também deem uma olhada (e ouvida) no projeto Amazonas: Mentira tem Preço, produzido pela FALA produtora e pelo InfoAmazonia. O quarto episódio da série aborda os efeitos das campanhas de desinformação e ataques virtuais contra mulheres lideranças indígenas. (MO)
🍂 Twitter e liberdade de expressão. Deu o que falar esta semana a compra do Twitter pelo bilionário Elon Musk. Casey Newton conta os bastidores da aquisição e a repercussão entre os funcionários. Esta matéria de O Globo destaca uma das maiores preocupações: como vai ficar a moderação de liberdade de expressão e conteúdo? Em recentes declarações, o dono da Tesla tem afirmado que os moderadores de conteúdo vão longe demais e intervêm na plataforma. Nas palavras de Musk: “Investi no Twitter porque acredito em seu potencial para ser a plataforma da liberdade de expressão em todo o mundo, e acredito que a liberdade de expressão é um imperativo social para uma democracia funcional”. Por essa razão e pelos pedidos de que o Twitter seja menos regulado, a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) considera a compra uma ameaça à liberdade de imprensa e ao pluralismo, além de criar um terreno fértil para a desinformação. Ao Nexo, Artur Pericles, do InternetLab, afirma que a compra deveria gerar mais desconforto na sociedade e vê com preocupação a possibilidade de mudanças drásticas nas políticas internas do Twitter. A professora Emily Bell foi cirúrgica: “Parando um momento para pensar o quão louco é que, em 2022, uma empresa com um conjunto significativo de dados de comunicações públicas e privadas, possa mudar de propriedade com praticamente zero escrutínio”. Em editorial, o Guardian lembra que Musk se autodenomina um “absolutista da liberdade de expressão” e que sua posição contrasta com os movimentos de regulação na Europa. “A Comissão Europeia lançou uma declaração sobre direitos digitais que pede às empresas de tecnologia que ‘respeitem os direitos das pessoas, permitam seu exercício e promovam a inclusão’”. Este texto do Núcleo também informa que a Europa chegou num consenso sobre a lei que regula a moderação de conteúdo nas plataformas digitais. Ela deve obrigar as empresas a agirem mais rápido na remoção de conteúdo ilegal e a tornarem seus algoritmos mais transparentes. (LV)
🍂 Diversidade e desinformação. Leiam este relato de Jessica Mota, coordenadora do Programa Jornalismo e Território da Énois, sobre a atuação com jornalistas locais na Amazônia. Ela defende, a partir de uma fala de Eliane Brum, que o Norte não é um deserto de notícias, mas “é cheio de organismos vivos”. “Sinto que não combatemos desertos, mas alimentamos as narrativas próprias da Amazônia.Temos um ecossistema rico de produções locais e da comunicação que não se resume aos portais e jornais. Um caminho rico em biodiversidade”, afirma. Semana passada falamos sobre o lançamento do Mapa da Mídia Independente e Popular de Pernambuco, lembram? Hoje trazemos mais detalhes sobre os 42 coletivos, a partir deste texto do Marco Zero. As iniciativas são majoritariamente integradas por pessoas jovens, periféricas, mulheres negras que produzem uma comunicação posicionada, antirracista, contra a homofobia e a transfobia e os preconceitos de classe. Muitos são estudantes universitários de uma primeira geração de suas famílias que teve acesso ao ensino superior. Os coletivos abordam temas que vão da juventude, às questões raciais e indígenas, de gênero, cultura, entretenimento, educação, saúde, meio ambiente, política, comunicação e tecnologia. Vale ficar de olho nesses trabalhos. Da diversidade seguimos para um assunto que está batendo à porta: a desinformação nas eleições. Em evento promovido pela Agência Pública, Pablo Ortellado, da USP, elencou quatro medidas que as plataformas deveriam tomar: (1) parar de financiar desinformação; (2) ser mais duras com políticos que espalham desinformação; (3) implementar medidas para combater mensagens virais, sem interferir na comunicação privada dos usuários; (4) reforçar boas práticas contra ataques às eleições. O programa “Jogo Limpo”, criado pelo ICFJ e financiado pelo YouTube Brasil, vai nesse caminho e busca apoiar ideias para enfrentar a desinformação da campanha eleitoral de 2022. Até 15 de maio, podem se inscrever projetos focados no combate à desinformação eleitoral brasileira que se encaixem em uma das três categorias: produção de conteúdo, desenvolvimento tecnológico e alfabetização midiática. (LV)
🍂 Notícias da indústria. A Agência Pública acaba de lançar o Mapa dos Conflitos, em parceria com a Comissão Pastoral da Terra. A plataforma permite a navegação pela Amazônia Legal, consultando os municípios e os conflitos registrados em cada um deles na última década. | A Agência Tatu, primeiro veículo de jornalismo de dados do Nordeste, fez 5 anos. Conheça a história da iniciativa criada por três estudantes da Universidade Federal de Alagoas. | Após 8 anos, o NYT mudou o comando de sua redação. O que esperar de Joe Kahn? Mathew Ingram, da CJR, fez um compilado da repercussão e afirmou que o novo editor-executivo vai enfrentar as mesmas velhas perguntas, como a falsa simetria na cobertura política e as discussões sobre objetividade. | Rasmus Nielsen e Sarah Ganter escrevem, no Nieman Lab, sobre o novo livro “O poder das plataformas: moldando a mídia e a sociedade”. Como elas exercem esse poder e como as organizações de notícias respondem a ele são as principais questões da obra. | Vamos falar de modelo de membership? No Journalism.co.uk, vale ler este artigo sobre como essa forma de sustentabilidade pode agregar valor à redação para além do dinheiro. Spoiler: um público fiel e mobilizado vale muito. E no Nieman Lab, um relato de como as membresias podem funcionar do Sul Global, a partir de um exemplo do Zimbábue. | Há dois anos, o Canadá oferece um crédito fiscal para incentivar as assinaturas de notícias digitais. Funciona assim: os canadenses podem ser reembolsados em 15% do que gastam em assinaturas. Em 2020, pouco mais de 300 mil solicitaram o crédito, o que representa cerca de 1% da população. Neste texto para o Nieman Lab, Sarah Scire escreve, a partir da análise de especialistas, que “ o crédito de 15% é muito baixo para mudar a mente das pessoas sobre o pagamento de notícias”. | No Poynter, vale conhecer a história da Fundação Heising-Simons, uma organização familiar da Califórnia que está investindo US$ 100 mil no apoio a jornalistas freelancers. (LV)
🍂 Links diversos. No IJNet, informações sobre duas oportunidades: vaga para estagiário de redes no UOL e dicas de organização para freelancers. | No Clases de Periodismo, o link de um guia do Google para jornalistas. | No GIJN, Dicas dos premiados com o Goldsmith Prize, um dos principais prêmios de jornalismo investigativo dos EUA, para quem quer realizar investigações de impacto. | Mais no GIJN: quarto capítulo do guia de cobertura de eleções em tempos de desinformação. | ObjETHOS e Fenaj vão lançar, no próximo dia 3, o dossiê “Ataques ao Jornalismo e ao Seu Direito à Informação”. A "publicação que aprofunda o debate sobre a violência contra o jornalismo no Brasil e seus impactos nos direitos da sociedade". O lançamento ocorrerá no YouTube da Fenaj, às 19h30. | Aliás, dia 3 de maio é o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Nesta data vai rolar, em Punta del Este, a conferência da Unesco sobre o tema. Se vocês, como eu, não têm planos para viajar ao Uruguai na semana que vem, dá pra acompanhar parte do evento online. Mais infos na Latam Journalism Review. | No journalism.co.uk, dicas para usar os Stories. (MO)
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