NFJ#369 🍂 Relatório destaca "efeito desastroso do caos informacional" sobre liberdade de imprensa
Dia Mundial da Liberdade de Imprensa: dossiê sobre violência contra jornalistas; civilização da informação e o capitalismo de vigilância; e o manifesto pelo trabalho jornalístico durante as eleições
Buenas, moçada!
Moreno aqui, em mais uma sexta-feira outonal em Porto Alegre. Solzinho dando um chega pra lá em uma semana chuvosa e úmida a ponto de nem a louça secar.
Newsletter atrasada. Culpa de um cacto que resolveu se enfiar na mão do meu filho e fez com que tivéssemos que passar um bom tempo tirando espinhos com uma pinça. Mas também porque passei a manhã com um olho na NFJ e outro nas quartas do Masters 1000 de Madri, onde há pouco rolou um histórico Alcaraz vs Nadal.
Mas vamos nessa porque o tempo é impiedoso e todos queremos terminar essa semana duma vez.
🍂 Dia Mundial da Liberdade de Imprensa I. Terça passada, dia 3, foi o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, você sabem. Sistematizamos alguns links e iniciativas que marcaram a data, no Brasil e no mundo. A começar pelo dossiê lançado pela Fenaj e ObjETHOS. Teve uma live de lançamento. E o dossiê pode ser baixado aqui. Mas no que consiste o documento? Esta matéria do ObjETHOS detalha o conteúdo dos quatro capítulos do trabalho. Meu destaque é o terceiro, quando o professor Rogério Christofoletti conecta os pontos e mostra como a violência contra jornalistas afetam todos os cidadãos. Vale a pena destacar um trecho:
"A liberdade de imprensa é uma condição para que as democracias funcionem. Sem ela, não chegam aos cidadãos e cidadãs informações sobre os atos dos poderosos. Sem a liberdade de imprensa, não circulam relatos críticos, contextualizados e aprofundados do que acontece nos gabinetes fechados e nos ambientes onde se decidem os rumos da sociedade. Sem ela, a liberdade de expressão — que se estende a todas as pessoas — também é prejudicada. Assim, a liberdade de imprensa ajuda o jornalismo a cumprir um dever — informar — para satisfazer um direito humano – o de ser informado. O raciocínio é relativamente simples: as pessoas têm direito a saber do que se passa em sociedade porque elas compõem esta mesma sociedade e ajudam a sustentá-la, política e financeiramente, inclusive."
A Latam Journalims Review publicou declarações de jornalistas latino-americanos sobre a importância da liberdade de imprensa. Guilherme Alpendre, presidente da Ajor, que foi sucinto e certeiro: "Sem a imprensa livre não há cidadania plena".
Também no dia 3 a RSF lançou o 2022 World Press Freedom Index, conhecido ranking mundial de liberdade de imprensa. Não é nenhuma novidade, mas a coisa não tá legal. Sintam o clima do lide da matéria que apresenta o relatório: o ranking "demonstra em 2022 os efeitos desastrosos do caos informacional (um espaço digital globalizado e desregulamentado, que promove informações falsas e propaganda estatal).”
Na sequência, o texto destaca o enfraquecimento da democracia em função da coexistência de sociedades abertas onde há liberdade de imprensa, de um lado, e regimes despóticos que controlam os meios de comunicação, do outro. Tem análises para todos os continentes. Vejam a das Américas. O destaque negativo é a Nicarágua, que despencou 39 posições e entrou na zona vermelha do ranking. A nossa situação segue mais ou menos a mesma. Estamos na posição 110. Ano passado estávamos na 111. Há 10 anos estávamos na 99. Por outro lado, vocês sabiam que a Costa Rica é a nação americana melhor colocada no ranking? O país está em 8º lugar. (MO)
🍂 Dia Mundial da Liberdade de Imprensa II. Em Punta del Este tá rolando até hoje a conferência da Unesco sobre liberdade de imprensa. A Abraji está participando. No canal da Unesco no YouTube dá pra conferir a gravação de algumas plenárias. Na conferência de abertura, a professora emérita de Harvard Shoshana Zuboff, autora do livro The Age of Surveillance Capitalism, lançou "questões essenciais" para compreendermos a "civilização da informação": "Qual a qualidade dessa informação? Quem conhece essa informação? Quem decide quem conhece essa informação? E quem decide quem decide quem conhece essa informação?" Ela diz que hoje as grandes empresas do capitalismo de vigilância (Google, Facebook, Amazon) têm as respostas para essas perguntas. E ninguém as elegeu para que tivessem esse direito.
Outro evento que marcou o Dia Mundial da LIberdade de Imprensa foi este painel em parceria da GIJN e IJNet sobre os desafios de fazer jornalismo em tempos perigosos. Esta matéria da GIJN fez a cobertura da live. Já o CPJ marcou a data lembrando da necessidade de proteção para jornalistas cobrindo o conflito na Ucrânia. De volta ao Brasil, Artigo 19, Abraji ,Instituto Vladimir Herzog, Ajor e sete organizações assinaram um manifesto exigindo garantias para o exercício da liberdade de imprensa durante as eleições. E pra ir fechando o assunto, deem uma olhada nesta compilação do Poynter com boas e más notícias para o jornalismo ao redor do mundo. Uma notícia boa vem da Europa: a Comissão Europeia anunciou o desejo de a UE adotar uma lei para proteger jornalistas e ativistas de direitos civis contra processos judiciais que tentem censurá-los. E no journalism.co.uk, cinco perguntas que as redações podem fazer a si próprias sobre liberdade de imprensa. E de última hora, matéria da Pública sobre como a condenação de Rubens Valente a indenizar o ministro Gilmar Mendes pode abrir um precedente perigoso para a liberdade de imprensa. (MO)
🍂 Aborto, vazamento e ética. Vocês viram? O site Politico vazou um rascunho interno da Suprema Corte dos EUA, que indica que o órgão pode mudar seu entendimento sobre o aborto no país, revertendo o direito garantido pela decisão Roe vs. Wade, de 1973. A autenticidade do material foi confirmada pelo presidente da corte, John Roberts. Neste artigo na CJR, Jon Allsop destaca que um veredito oficial ainda não foi proferido e sugere alguns caminhos para a cobertura jornalística: explicar claramente as consequências do parecer e um escrutínio minucioso de seu raciocínio; ressalvar de que trata-se de um projeto e o que isso significa; deixar claro que a lei Roe ainda não foi derrubada – uma questão de importância imediata para pessoas que buscam abortos no curto prazo. Kelly McBride, do Poynter, avaliou as implicações éticas do vazamento, prevendo que ele provavelmente se tornará “um estudo de caso para futuras gerações de jornalistas”. E critica a falta de informações sobre como o Politico chegou à decisão de publicar o material. “Quando confrontados com um vazamento sem precedentes como esse, os leitores ficam compreensivelmente céticos nesta era de desinformação. Quando os jornalistas por trás do trabalho não sinalizam que passaram por um processo ético, a audiência pode concluir que a ética não importa para os jornalistas”, diz. Neste outro texto para o Poynter, McBride afirma que esta é uma oportunidade para as redações reformularem tanto a cobertura do aborto quanto o debate em torno das regras de objetividade. Segundo ela, à medida que manifestações começaram a ocorrer nas ruas, veículos como a NPR e Associated Press aconselharam seus jornalistas a evitar compartilhar opiniões pessoais. “Ao fazer isso, editores optaram por um enquadramento tradicional de neutralidade, que assume que o público perderá a confiança nos veículos se alguns de seus jornalistas discutirem publicamente suas crenças pessoais sobre o aborto”. Margaret Sullivan foi ainda mais incisiva, em sua coluna no WPost. Segundo ela, parte dessa “confusão” em torno do aborto está no poder da linguagem e no fracasso da mídia. “Quando os jornalistas concordaram em aceitar termos como ‘pró-vida’ para descrever aqueles que se opõem ao aborto, eles implicitamente ajudaram a estigmatizar aqueles que o apoiam. Afinal, qual é o oposto retórico de ‘pró-vida’?”, questiona. (LV)
🍂 Notícias da indústria. Núcleo adotou o conceito de "brevidade inteligente", importado do Axios, que privilegia notas curtas com informações relevantes organizadas em bullet points. | Matéria do Nieman Lab repercute as orientações do Guardian para redes sociais. O grupo Guardian News Media diz não esperar que seus funcionários sejam ativos das redes. Mas para aqueles que são, o grupo sugere pensar bem antes de postar, retuitar e dar likes. | No CJR, Mathew Ingram analisa as recentes mudanças no Facebook/Meta, que vem buscando ajustar a rota para enfrentar a concorrência e seguir dando lucro para seus investidores. A rede azul de Mark agora vai investir mais em inteligência artificial para decidir o que seus usuários devem ver — em detrimento daquela velha lógica "family & friends". Ingram cita a análise de Casey Newton, para quem a necessidade de competir com o TikTok pode levar os usuários de Facebook e Instagram serem ainda mais inundados com desinformação. | no ObjETHOS, Vinícius Augusto Bressan Ferreira pergunta qual o interesse do Facebook para o jornalismo. | No IJNet, uma matéria sobre a plataforma Free the Freela, que quer ajudar freelancers a ter benefícios, como férias remuneradas e licença parental. | Como o La Nación está usando inteligência artificial para realizar uma investigação sobre o uso de energias renováveis na Argentina. | Como seria viver sem a BBC? Em um estudo conduzido pela própria emissora, 70% dos participantes que não curtiam pagar o imposto que subsidia o jornalismo público britânico mudaram de ideia. Repercussão no Nieman Lab. (MO)
🍂 Links diversos. O Núcleo está expandindo sua equipe para a cobertura das eleições. Vagas abertas para repórter, editor, designer, analista de aplicações e analista de comunidade/redes sociais. | Acaba de sair o edital Conexão Oceano de Comunicação Ambiental, iniciativa da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, em parceria com a COI-Unesco. Jornalistas e fotógrafos podem se inscrever com sugestões de pautas. Até cinco propostas serão selecionadas para receber bolsas de R$ 8 mil cada. | Chicas Poderosas, com apoio do Google News Initiative, está com inscrições abertas até 10 de maio para sua Incubadora de Liderança, que busca fornecer novas ferramentas para organizações de notícias na América Latina e Caribe, Espanha e Portugal. | Está em pré-venda o livro “Furos, mentiras e segredos revelados: uma década de reportagens da Agência Pública”. | No GIJN, dicas práticas para jornalistas sobre pesquisa avançada no Google, Facebook, Twitter, LinkedIn e Instagram. | No Nieman Lab, Hanaa’ Tameez mostra como a ferramenta Calendly ajuda a organizar seu dia de trabalho. (LV)
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