NFJ#370 🍂 Assédio judicial e a ameaça à liberdade de imprensa
Repercussão do caso Rubens Valente | A estratégia de newsletters do Guardian | A importância de pensar o produto | Como sua redação pode ser mais inovadora | O crescimento da colaboração no NYT
Buenas, moçada!
Moreno aqui, fechando mais uma semana, mais uma sexta-feira de nossas vidas. Mais uma edição da NFJ. Aos poucos nos aproximamos do número 400!
No mais, tudo bem por aí?
Por aqui o frio se aproxima, bem como o fim de This is Us. 😭
Chegando agora na NFJ? Nossas boas vindas! Se curtir o que ler por aqui, cogite virar um subscriber aqui no Substack. Ou no mínimo compartilhe e passe a palavra adiante!
Torne-se um subscriber, agora com a opção “assinante de fé!”:
Compartilhe a NFJ:
Ou quem sabe ainda nos ajuda no Apoia-se!
Bom, vamos nessa para sextar de uma vez!
🍂 Na semana passada colocamos na news, meio última hora, este link da Pública sobre o caso Rubens Valente. Nesta edição voltamos ao assunto para repercutir melhor a decisão do STF que condenou o repórter a pagar R$ 310 mil ao ministro Gilmar Mendes por "danos morais" pela publicação do livro Operação Banqueiro. A matéria recupera o caso, demonstrando o absurdo do julgamento e do que seu desfecho pode representar para a liberdade de imprensa, além de trazer uma entrevista com Valente. É leitura obrigatória para entender uma ameaça silenciosa que paira sobre o jornalismo brasileiro. Destaco dois trechos de respostas de Valente:
"Não é preciso ir muito longe para entender o recado dado pelo Judiciário brasileiro, em especial pelo Supremo Tribunal Federal, nesta decisão: há um limite para o jornalismo e o limite é escrever criticamente sobre um membro da Corte. O efeito é intangível, já está na cabeça dos jornalistas que cobrem o Judiciário e se espalha pelas redações na forma da autocensura. [...] O meu processo já está sendo imediatamente usado como jurisprudência em diversas ações de indenização sobre danos morais em diferentes partes do país. Os reflexos ainda são incalculáveis. Se o STF decide que um jornalista pode ser condenado nos termos em que fui, então a porteira foi aberta."
A newsletter Garimpo reuniu parte da repercussão do caso nas redes e deu destaque para a campanha de financiamento coletivo lançada para ajudar Valente a pagar a indenização. Já a Abraji decidiu levar o assunto à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. O tema também foi citado nas newsletters da Amazônia Real e do Projeto #Colabora, além de ser assunto da editora-chefe do Matinal Jornalismo, Marcela Donini, em sua carta semanal publicada hoje.
O assédio judicial à imprensa também foi tema desta matéria do TIB. A repórter Nayara Felizardo sistematizou levantamentos de processos de magistrados contra jornalistas ou veículos, além de buscar dados via LAI, para relatar diferentes casos ocorridos em várias partes do país nos últimos anos. (MO)
🍂 Newsletters e produto. Se vocês curtem newsletters, e imagino que sim, devem dar uma olhada nesta matéria do Press Gazette sobre a estratégia do Guardian. O jornal britânico, que já tem 50 newsletters no seu portfólio, está deixando de lado emails baseados em curadoria ou automatizados para apostar em conteúdos de profundidade, reportagens originais e análises. Isso também significa dar menos importância a uma das principais formas de medir o sucesso de uma newsletter — ao menos para os grandes publishers: o direcionamento de tráfego para seus respectivos websites. Vejam o que disse o Head de Newsletters do Guardian, Toby Moses, ao Press Gazette:
"Newsletters estão se transformando em algo que é apreciado em si mesmo, como um tipo diferente de jornalismo. Nós não julgamos o sucesso do nosso jornal pela quantidade de pessoas que lêem o jornal e depois visitam o nosso site."
Um exemplo dessa postura, segue Moses, é a newsletter First Edition, uma das mais recentes no cardápio de boletins do jornal. Ele diz ter a liberdade de buscar informações para a news que não estão nem no impresso, nem no site do Guardian.
A abordagem do Guardian fortalece a newsletter como um produto jornalístico. Desenvolvimento de produto, vocês sabem, é um dos grandes desafios da nossa área depois que o nosso principal produto ao longo do século 20, o jornal impresso, perdeu protagonismo. Por isso vale dar uma uma olhada neste artigo de David Cohn para o Poynter. Ele reafirma a necessidade de sabermos qual é o nosso produto e é bem didádicos na hora de explicar essa necessidade na era digital. Por exemplo, Cohn explica a diferença entre um serviço e um produto.
"Um profissional sabe qual é o seu produto e qual é o seu serviço. [...] organizações de notícias oferecem um mix de ambos. Nós apuramos, filtramos e distribuímos informação. Como apuramos e filtramos é um serviço, mas como distribuímos essa informação é onde a coisa começa a fazer sentido sobre como os consumidores experienciam o nosso produto."
Pra fechar o bloco, uma matéria do IJNet sobre criação e monetização de newsletters. E 10 recomendações antes de enviar uma news, no Laboratório de Periodismo. (MO)
🍂 Formação e acesso à profissão. Importante discussão que esta matéria do journalism.co.uk traz sobre o acesso ao jornalismo e a diversidade na profissão. O foco do texto é o Reino Unido, mas há pontos de contato com a nossa realidade — especialmente o diagnóstico de o jornalismo ser uma profissão de pessoas brancas, de classe média e altamente qualificadas; e o que é necessário fazer para tornar a atividade mais diversa e representativa. Vejam o que disse Rebecca Montacute, pesquisadora e gerente de uma organização britânica que promove a mobilidade social, a respeito de estágios não remunerados, uma prática comum no jornalismo de lá — e que também existe em terras brasileiras (embora por aqui o problema maior sejam os baixos salários, tanto de estagiários quanto de profissionais).
"Jovens que não podem se dar o luxo de trabalhar sem ganhar nada ficam fora de oportunidades cruciais capazes de propiciar as redes de contatos e a experiência necessária cada vez mais importantes para progredir. Trabalhar como freelancer também pode ser uma condição precária e funcionar como uma barreira para aqueles que vêm de backgrounds socioeconômicos mais baixos e que não tem redes de apoio financeira e social necessárias para levar adiante uma condição de trabalho marcada pela imprevisibilidade."
Do Reino Unido para o Brasil, leiam o texto de Vanessa da Rocha no site do ObjETHOS sobre como a inflação crescente afeta os jornalistas. Da Rocha recupera valores do piso da profissão em alguns Estados e lembra que, em alguns casos, o salário dos jornalistas é menor do que a mensalidade dos cursos de Jornalismo nas universidades privadas. Um trecho:
"E talvez a baixa remuneração rebaixe ainda mais o Jornalismo ao ser um fator limitante para avançar nos estudos. Apesar da relação intrínseca com a busca pelo conhecimento inerente à profissão, 49,7% dos jornalistas não passaram da graduação, conforme o Perfil do Jornalista Brasileiro de 2021."
Pra fechar o assunto com uma boa notícia, deem uma olhada neste texto da Agência Mural sobre o Clube Mural, iniciativa que consolida os esforços e projetos da Mural "relacionados ao treinamento e formação e, além disso, explorar novos caminhos para que seja um laboratório de experimentação jornalística dinâmico e diverso". (MO)
🍂 Notícias da indústria. As maiores organizações de notícias de língua inglesa do mundo agora têm mais de 30 milhões de assinaturas, segundo pesquisa da Press Gazette. [Press Gazette] | Levantamento da Local Independent Online News Publishers mostra que a receita de veículos locais norte-americanos aumentou em 2021. Das 400 organizações pesquisadas, 50 redações com apenas um ou dois funcionários em tempo integral faturaram mais de US$ 100 mil em receita anual. [Nieman Lab] | Dean Baquet, que acaba de deixar o posto de editor executivo do NYT, vai liderar um programa de apoio ao jornalismo investigativo local. [NYT] | 20% das matérias do NYT em 2022 são assinadas por vários repórteres (a título de comparação, em 2000 eram 2%), mostrando um crescimento da colaboração na redação. [Dan Stone] | A guerra na Ucrânia tem sido um bom momento para reportagens open-source (de código aberto), que utilizam material disponível publicamente como imagens de satélite, gravações de telefones celulares ou câmeras de segurança, geolocalização e outras ferramentas para contar histórias. [AP] | Veículos jornalísticos poloneses estão criando novos produtos para o público ucraniano, incluindo tradução de reportagens no alfabeto cirílico. Só pra lembrar, a Polônia é o país que mais recebeu refugiados ucranianos desde o início da guerra. [Nieman Lab] | Organizações como NYT e WPost estão experimentando mais personalização em suas homepages para exibir conteúdo adaptado aos interesses e comportamentos dos leitores. [Digiday] | O jornalista Gabriel Sama propõe um framework para inovação em redações, desenvolvido no programa de liderança e inovação da Craig Newmark Graduate School of Journalism. A estrutura inclui 18 etapas que uma organização de notícias deve seguir para tornar sua redação mais inovadora e aberta a novas ideias [Medium]. (LV)
🍂 Links diversos. O Coletivo Lena Santos, em parceria com a Abraji, realiza amanhã (sábado), às 14h30, na Academia Mineira de Letras (Belo Horizonte), o 2º Congresso de Jornalistas Negras e Negros. | Na próxima segunda-feira, dia 16, às 19h30, a Fiquem Sabendo promove o debate “10 anos da Lei de Acesso à Informação: diálogos Brasil e Estados Unidos”. O evento, que terá participação do jornalista investigativo Jason Leopold, acontece na Escola de Comunicações e Artes da USP. Inscrições gratuitas. | A Abraji está recebendo trabalhos para o IX Seminário de Pesquisa em Jornalismo Investigativo e para a apresentação de trabalhos de conclusão de curso (TCCs). As atividades vão compor a parte virtual e gratuita do 17º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, que será realizado na primeira semana de agosto. | “Desinformação em tempos de Covid-19 na América Latina e Caribe” é o assunto do MOOC promovido pelo Knight Center, com apoio da Unesco, no dia 17. O curso é online e gratuito. | A GIJN promove, no dia 18 de maio, uma sessão de networking sobre jornalismo e mudanças climáticas. As inscrições online estão abertas. | Um “mergulho profundo” nas plataformas digitais: esse é o tema do curso online do Reuters Institute, que será realizado no dia 9 de junho e terá a presença de 15 jornalistas de redações de todo o mundo, além de acadêmicos da área. Inscreva-se aqui. | Chamada aberta para o JournalismAI Academy para pequenas redações, programa online gratuito da LSE, financiado pelo Google News Initiative. Serão 8 semanas de curso, entre setembro e outubro de 2022. As inscrições estão abertas até 8 de junho. | O Newsrewired deste ano, promovido pelo Journalism.co.uk, será realizado em Londres no dia 24 de maio e, entre outros temas, discutirá o futuro das newsletters, inteligência artificial e necessidades da audiência. | Pra fechar o bloco, três links com dicas: No ijnet, como jornalistas investigativos podem trabalhar com mais segurança. No journalism.co.uk, 30 aplicativos móveis para jornalistas. E na GIJN, recursos para jornalistas mulheres. (LV)
🍂 💎 Concatenações teóricas. Este bloco é exclusivo para subscribers. Se você é assinante da versão free, a edição termina aqui. Mas fique tranquilo, você sempre terá acesso à grande parte da NFJ. Mas que tal acompanhar nossas reflexões?