NFJ#374 🍂 "Dom!!!! Dá notícia!!!"
O desaparecimento de Dom Phillips e Bruno Pereira | As ameaças a jornalistas do Congresso em Foco | Jornalismo contra-hegemônico | Janio de Freitas faz 90 anos | lugar de jornalista é no Twitter?
Buenas, moçada!
Moreno aqui, esperando o frio que parece vir forte neste final de semana em Porto Alegre. Domingo é dia de reencontrar os 21k, depois de três anos desde a última meia — e a primeira depois que mais uma volta completa em torno do sol me jogou nos 40.
No mais, reajustando rotinas por aqui, já que agora tenho outra news para enviar na sexta. É! Lembram do que eu falei na semana passada? Agora vocês também vão me encontrar toda semana na Mirante, a primeira newsletter da plataforma Headline. O primeiro foi enviado hoje. Dá pra ler aqui. E para se inscrever, venham aqui. Leiam, assinem. É de graça. E me digam o que acharam.
No mais, semana difícil para o jornalismo, para os jornalistas, né? Vamos falar disso.
Então bora.
🍂 Caso Dom Phillips e Bruno Pereira. Vocês acompanharam de perto, durante a semana, as notícias sobre o desaparecimento de Dom Philips e Bruno Araújo Pereira. Se quiserem recuperar os principais fatos da semana, deem uma olhada na edição de hoje da news ClimaInfo de hoje. Sob o aspectos jornalístico, talvez a principal notícia seja a mobilização de diversas organizações de imprensa e de direitos humanos. Elas pediram celeridade às autoridades, que, como vocês sabem, não responderam à altura da gravidade da situação, para dizer o mínimo. O Brasil e o mundo caíram em cima, claro. No Guardian, uma carta assinada por editores de 20 veículos (dentre eles NYT, WP e Guardian) e organizações defensoras da liberdade de imprensa do mundo inteiro urge para que o governo Bolsonaro faça mais. Por aqui, a Artigo 19 traduziu parte do documento. Em outra iniciativa, organizações brasileiras pediram audiência com as autoridades para falar sobre a lentidão em apurar o caso. Em editorial, o jornal britânico já havia sido duro: "achem Dom Phillips e Bruno Pereira". Ainda no Guardian, Lucy Jordan usa o caso e a trajetória de Phillips para falar sobre a segurança de jornalistas no Brasil.
"Como continuamos pedindo a outros repórteres que assumam esses riscos? Que mensagem essa posição deixa quando pessoas como Phillips e Pereira desaparecem, apenas para receber uma resposta oficial lamentável? Não há avaliação de risco no mundo que possa mitigar três anos de propaganda perigosa vinda do governo."
Enquanto isso, o Fundo de Jornalismo da Floresta Amazônica, ligado ao Pulitzer Center, lançou uma chamada de emergência para cobrir as violações na região do Javari. Como disse Eliane Brum no Twitter, a "melhor resposta do jornalismo, diante da violência, é reportagem". Como era uma convocação urgente, o prazo já encerrou. Pra fechar o bloco, leiam este relato de Daniel Camargos sobre a convivência dele com Dom Phillips.
"'Dom!!!! Dá notícia!!!' A esperança é que ele responda a essa última mensagem que mandei e apareça contando sobre a beleza da floresta e ecoando a voz de todos aqueles que querem defendê-la."
Hoje, organizações ligadas aos direitos humanos e à liberdade de imprensa protocolaram um um pedido de medida cautelar na Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (CIDH/OEA) para resguardar as vidas e a integridade de Dom Phillips e de Bruno Araújo Pereira. Leia mais neste link da Ajor. (MO)
🍂 Dia Nacional da Liberdade de Imprensa. Mas sem muito a comemorar, não. A começar pela ameaça de morte sofrida pelo repórter Lucas Neiva. O jornalista do Congresso em Foco publico, no sábado passado, uma reportagem em que denunciava a fabricação de conteúdos falsos pró-Bolsonaro em um fórum anônimo. Logo depois, a editora Vanessa Lippelt também foi atacada — a IJNet, aliás, publicou nesta semana uma matéria que repercute o relatório Violência de gênero contra jornalistas. Imediatamente organizações como Abraji e Ajor repudiaram os ataques. O Nexo repercutiu. E Lula classificou as ameaças como "risco para a democracia". O deputado Fábio Trad pediu que PF e PGR investiguem o caso. No Dia da Liberdade de Imprensa, que rolou na terça, algumas iniciativas se destacaram. A começar por uma campanha em defesa da integridade dos jornalistas, veiculada pelos membros Consórcio de Veículos de Imprensa no dia 7. A escritora e mestra em Filosofia Política Djamila Ribeiro aproveitou a data para lançar um curso sobre jornalismo contra-hegemônico. O conteúdo está disponível no canal do YouTube da Feminismos Plurais. Ainda no dia 7 ao menos uma notícia boa. Bolsonaro foi condenado por ataques a jornalistas pela Justiça de São Paulo. O presidente precisará pagar R$ 100 mil em favor do Instituto Vladimir Herzog. E o Jornal Nacional usou o silêncio para mostrar a importância da liberdade de imprensa para a democracia. (MO)
🍂 Notícias da indústria. Querem saber detalhes sobre a ferramenta Amplifica, criada por AzMina e Núcleo? Leiam esta reportagem da LJR, que destaca a pretensão de disponibilizar o recurso para outras organizações interessadas em se conectar com o público. | Já falamos aqui na NFJ sobre a Território da Notícia, que distribui conteúdo jornalístico por meio de telas de sinalização digital instaladas em estabelecimentos comerciais em periferias e favelas paulistas. Agora, lançaram uma chamada para ampliação do número de parceiros editoriais. Qualquer veículo oriundo das periferias de São Paulo pode preencher o formulário. | No ObjEthos, Juliana Freire escreve justamente sobre o jornalismo feito sobre, para e a partir das periferias e favelas brasileiras. | Como está o mercado jornalístico no Nordeste do Brasil? No ijnet, um resumo do webinar com jornalistas do Marco Zero Conteúdo, Diário do Nordeste e Agência Tatu. | Embarquem numa viagem pela história da imprensa no Brasil com este texto de Ruy Castro na Folha sobre os 90 anos de Janio de Freitas. | Nascida na pandemia, a equipe de verificação audiovisual do WPost dobrou de tamanho, mas ainda trabalha remotamente nos EUA e em outros países. Todos os detalhes no journalism.co.uk. | No site do Reuters Institute, vejam como um jornal local na Argentina usa inteligência artificial para publicar centenas de artigos sobre esporte por mês. | O Poynter informa que o grupo Gannet, que possui mais de 250 títulos nos EUA, vai reduzir o espaço de opinião nos veículos, com base em pesquisa com leitores. | O Nieman Lab destrinchou relatório da Local Journalism Initiative de Delaware, nos EUA, que ouviu os cidadãos a respeito do que pensam sobre as notícias. Muitos insights interessantes, entre eles: moradores querem notícias mais úteis sobre educação, moradia, escassez de alimentos, inflação, etc. (LV)
🍂 Plataformas. Neste texto para o Poynter, Alex Laughlin conta que costumava convencer jornalistas a entrar no Twitter, mas hoje se pergunta se ainda vale a pena. Assédio online e ansiedade estão entre os motivos que a fizeram rever sua posição. Uma das maneiras de fazer com que as plataformas sejam ambientes mais saudáveis é por meio da regulação. Neste texto do Nieman Lab, Laura Owen reproduz falas de Renée Di Resta, do Stanford Internet Observatory; e Nabiha Syed, CEO da The Markup. Ambas defendem que pesquisadores e jornalistas devem ter acesso aos dados das plataformas, e que isso pode ser feito por meio de um projeto de lei. Hoje, depende da “boa vontade” dos proprietários. “Na The Markup, criamos muitas ferramentas para ajudar a entender e coletar informações de grandes plataformas como o Facebook. Mas quando fazemos isso, as empresas realmente vão atrás de nós legalmente, dizendo ‘você não tem permissão para entrar em nossa propriedade privada e coletar esse tipo de informação’. Eles se armam ativamente contra qualquer tipo de intervenção de pesquisa”, diz. Esse assunto de regulação dá pano pra manga, vocês sabem. De acordo com este texto do Press Gazette, Colin McKay, que lidera as políticas públicas e relações governamentais do Google no Canadá, escreveu a todos os parlamentares e senadores para expressar as preocupações com o Canada’s Online News Act. A alegação é de que a lei poderia “quebrar” o mecanismo de buscas do Google no país. Recente pesquisa da News Media Canada mostrou que 79% dos canadenses “concordam que os gigantes da web deveriam dividir a receita com os meios de comunicação canadenses”. Pra fechar o bloco, leiam este texto do Nieman Lab sobre como a ciência ajuda a alimentar uma cultura de desinformação. Embora cientistas costumem culpar as mídias sociais pela proliferação de falsidades, a desinformação pode começar com os próprios cientistas. (LV)
🍂 Links diversos. Na Fiquem Sabendo, link para um ebook sobre os dez anos da LAI editado pelo Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas. Também na Fiquem Sabendo a cobertura do evento sobre transparência pública e dados pessoais, que rolou no Insper no fim de abril. | Infoamazônia recebeu o Prêmio Internacional de Jornalismo Rei da Espanha. | Curso online sobre fotogrametria para jornalistas. Ficou curioso? "A fotogrametria permite que os jornalistas contem histórias sobre o mundo ao seu redor criando réplicas tridimensionais a partir de fotografias", diz esta matéria da LJR. | Oportunidades para jornalistas se candidatarem em junho, no IJNet. (MO)
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