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NFJ#398 ⚽ O papel da imprensa na Lava Jato, segundo Pedro Doria
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NFJ#398 ⚽ O papel da imprensa na Lava Jato, segundo Pedro Doria

A debandada do Twitter | O que o jornalismo perde com as mudanças na empresa de Musk | Alternativas ao passarinho azul | Banco de recursos da NPA | Como abordar a cultura de resistência às mudanças

Moreno Cruz Osório
and
Lívia Vieira
Nov 25, 2022
3
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NFJ#398 ⚽ O papel da imprensa na Lava Jato, segundo Pedro Doria
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Buenas, moçada!

Moreno aqui, fazendo PRUU.

Diante do adiantado da hora, vamos à news para sextar duma vez? Acho que sim, né. Intro mais curta, news mais curta (como avisei na semana passada). Copa do Mundo. Happy hour na rua. Pizza em casa. Churras no fíndi que começa com Tunísia x Austrália (jogaço) e termina com Espanha x Alemanha (a Fúria enterrará os alemães?).

Bora.

Mas antes:

Natal taí e a gente gostaria de ganhar um presentinho de vocês.

Bora.


⚽ Jornalismo e democracia. O papel da imprensa na operação Lava Jato, que teve tantas consequências para o país, tem sido objeto de estudo e análises nos últimos anos. Neste vídeo, Pedro Doria, editor do Canal Meio, reflete sobre o tema a partir de uma contextualização histórica importante. Ele parte da convicção de que todos erraram, inclusive a imprensa, que cobriu mal a Lava Jato. E divide seu argumento em cinco partes, que reproduzimos abaixo. Abre aspas gigante para o Doria:

  1. ‘‘Não dá para entender o que erramos na leitura da Lava Jato sem antes entender a nossa cabeça: historicamente, o repórter que dava o grande furo político era o que conseguia uma história sólida de escândalo de corrupção no governo. O impeachment de Collor foi o ato de fundação da imprensa brasileira moderna, que estava começando a aprender a fazer jornalismo numa democracia.

  2. O PT faz parte dessa história. Um repórter investigativo é tão bom quanto suas fontes, e os parlamentares do PT vazaram muita coisa para os repórteres. Essa foi uma relação simbiótica com a imprensa.

  3. Em 2002, tudo mudou. Os tucanos não foram oposição como os petistas, eram fontes horrorosas. E isso desestruturou por completo a cobertura de poder. Os petistas fizeram uma muralha e a oposição não sabia ser oposição. Aí houve o primeiro grande escândalo, quando o parlamentar Roberto Jefferson decidiu falar. Isso provocou uma mudança brutal na relação entre imprensa e petistas. O Mensalão coincidiu com o surgimento dos blogs, e o PT viu ali uma oportunidade de estimular a criação, ou mesmo de financiar, uma imprensa a favor que ainda existe hoje. Isso aconteceu também nos EUA e na Europa, faz parte do processo de disrupção causado pela internet.

  4. O que foi a Lava Jato? Como a gente pode compreender a operação no contexto da crise da democracia? Um dos livros mais interessantes que mergulha nesse processo de crise institucional que ocorre em vários países se chama “O povo contra a democracia”, do cientista político alemão Yascha Mounk. A democracia tem muitas regras não escritas e entre elas estão os limites entre a burocracia do Estado e os políticos. Mounk viu se abrir uma guerra entre o braço concursado, técnico, e o braço eleito, político. A guerra aberta do Ministério Público e de parte do Judiciário contra o sistema político brasileiro foi isso. A Lava Jato é um exemplo perfeito desse fenômeno.

  5. Quando a Lava Jato começou a aparecer, em 2014, nas redações a gente não entendeu que estávamos assistindo a uma guerra no interior do Estado. A Lava Jato parecia mais do mesmo, um novo escândalo de corrupção. O juiz Sérgio Moro sempre falava que considerava importante ter a imprensa ao seu lado. Os procuradores passavam informações para a imprensa o tempo todo. Mas não havia nada de diferente nisso em relação a tudo o que havia sido feito antes. Gente vazando detalhes de uma investigação é a história do jornalismo brasileiro desde o impeachment de Collor, desde o início da nossa democracia. O que nós, das redações, não enxergávamos é o que ninguém enxergava. O nível de fragilidade do sistema democrático. Houve uma falha sistêmica generalizada, ninguém viu o que aconteceria. A grande lição do nosso tempo é que a democracia é frágil. A história da Lava Jato é justamente uma história de atalhos tomados, pois ela parecia ter feito o sistema funcionar. Mas a maneira como fez isso foi ignorando regras. A gente, na imprensa, não achou que isso era problema. Afinal, se é um juiz que está decidindo, se o Supremo sanciona, então está valendo. Só que a democracia pressupõe condições que ignoramos: se você é da imprensa, o foco não pode estar apenas nos desvios de conduta de quem está no poder. O foco, igualmente, deve estar nas regras do jogo.’’

Pra fechar o bloco, vocês viram que um dos grupos de trabalho no governo de transição é o das Comunicações. De acordo com o blog do Noblat, é consenso entre os integrantes do grupo que a Secom deve voltar a ser vinculada à Presidência da República. Outro assunto do GT é discutir o futuro da EBC, hoje também vinculada ao Ministério das Comunicações. A previsão é de que ela deve voltar a ser vinculada à Secom no governo Lula. Neste artigo para O Globo, Bernardo Mello Franco afirma que Bolsonaro transformou a comunicação pública em máquina de propaganda e que o novo governo precisa “desmilitarizar a Secom e livrar a TV Brasil de programação chapa-branca”. (LV)


⚽ Debandada do Twitter. Desde que comprou o Twitter, no mês passado, Elon Musk mergulhou a empresa em uma enorme crise. Houve demissão em massa, que fez com que mais 1.200 funcionários pedissem para sair, segundo noticia a Folha. E como essa crise pode afetar os jornalistas, uma das comunidades profissionais que mais utiliza a plataforma? De acordo com este texto do Nieman Lab, o jornalismo tem muito a perder se Musk destruir o Twitter: feedback, críticas e perspectivas em tempo real sobre acontecimentos; “o” lugar para notícias de última hora; uma excelente maneira de encontrar fontes e especialistas; DMs como ferramenta de denúncia. Fato é que, diante da crise e da má gestão de Musk, jornalistas e acadêmicos têm migrado para outras plataformas, como o Mastodon. Neste artigo para o Nieman Lab, Julia Angwin, fundadora da The Markup, conta que houve um aumento de 1 milhão de usuários no Mastodon em menos de um mês. Segundo ela, trata-se de um tipo diferente de rede social.

“Ao contrário do Twitter, ele não possui um gatekeeper central que pode decidir quem pode usar a plataforma e que tipo de conteúdo é permitido. Em vez disso, o Mastodon é um conjunto de diferentes comunidades que concordaram em compartilhar um único padrão de comunicação. O que isso significa na prática é que, para ingressar no Mastodon, você precisa ingressar em uma "instância" do Mastodon — essencialmente uma comunidade que hospeda um servidor Mastodon. Cada instância tem seus próprios padrões de admissão e regras de conteúdo.”

Há várias comunidades projetadas para jornalistas. Adam Tinworth lista, neste texto, algumas delas. O journalism.co.uk explica como jornalistas podem obter uma conta verificada no Mastodon. Sob o ponto de vista dos acadêmicos, este texto de Mark Carrigan no site da LSE é leitura obrigatória. Ele lembra que o Twitter foi uma plataforma importante para acumulação de capital social acadêmico. Carrigan:

“Há muitos motivos pelos quais os acadêmicos foram atraídos para o uso do Twitter, incluindo o fato de ser um campo no qual a visibilidade e o status foram acumulados. Os mecanismos pelos quais esse status de rede pode ser trocado por vantagens acadêmicas não são diretos, mas qualquer acadêmico que tenha alcançado um grau de popularidade online pode atestar as vantagens diretas e indiretas que isso trouxe para sua carreira.”

O argumento de Carrigan é que, ao invés de migrar para outras plataformas na tentativa de manter o status, os acadêmicos deveriam aproveitar esse “crash social” para refletir sobre o que deu errado e como podemos evitar que o mesmo aconteça no futuro. E prossegue:

“A confiança excessiva no Twitter mostrou que o ecossistema intelectual que eu e outros imaginamos no início dos anos 2010, construído, por exemplo, em torno de uma mistura de blogs pessoais e blogs de grupos hospedados em universidades, nunca aconteceu. Em vez disso, ficamos somente com o Twitter de Musk. Este é um momento para universidades, financiadores, sociedades científicas e editoras mostrarem liderança, apoiando, financiando e coordenando a transição para uma infraestrutura social multifacetada e confiável.” 

Enquanto isso, o Substack vê uma oportunidade no caos do Twitter. (LV)


⚽ Notícias da indústria e links sortidos. A NPA lançou um banco de referências para pensamento de produto (ou product thinking). | A LJR republicou a matéria sobre o jornalismo nos anos Bolsonaro que saiu originalmente em Headline. | Está na hora dos líderes de redações darem atenção para o trauma vicário (ou vicarious trauma). | Uma conversa sobre jornalismo freelancer e sustentabilidade. | Como abordar a resistência à mudança nas redações? | Alagoas sedia evento sobre jornalismo inovador. | Inscrições abertas para a segunda chamada para as microbolsas para repórteres indígenas. | Estadão e Google fazem parceria para publicar documentos de interesse público. | SEO para jornalistas: um guia. | A doutoranda da Universidade de Coimbra Bibiana Garcez está pesquisando as dinâmicas de trabalho de jornalistas freeelancers no Brasil e em Portugal. Para isso, precisa da ajuda de vocês. Basta preencher este formulário. | Sete histórias para lembrar os sete anos do Nexo. (MO)


É isso, moçada!

Bom final de semana e até sexta que vem (antes do jogo do Brasil, se tudo der certo)!

Moreno e Lívia


Nosso agradecimento de <3 vai para:

Adriana Martorano Vieira, André Caramante, André Roca, Andrei Rossetto, Antonio Napole, Ariane Camilo Pinheiro Alves, Barbara Nickel, Ben Hur Demeneck, Bernardete Melo de Cruz, Bibiana Osório, Caio Maia, Cristiane Lindemann, Davi Souza Monteiro de Barros, Diego Freitas Furtado, Diego Queijo, Edimilson do Amaral Donini, FêCris Vasconcellos, Filipe Techera, Gabriela Favre, Guilherme Nagamine, João Vicente Ribas, Jonas Gonçalves da Silva, Luiza Bandeira, Marcela Duarte, Marco Túlio Pires, Mateus Marcel Netzel, Nadia Leal, Nara Leal, Pedro Burgos, Pedro Luiz da Silveira Osório, Priscila dos Santos Pacheco, Rafael Paes Henriques, Regina Bochicchio, Roberto Nogueira Gerosa, Roberto Villar Belmonte, Rodrigo Muzell, Rogerio Christofoletti, Roogério Lauback, Rose Angélica do Nascimento, Samanta Dias do Carmo, Sérgio Lüdtke, Sérgio Spagnuolo, Silvio Sodré, Suzana Oliveira Barbosa, Sylvio Romero Corrêa da Costa, Tai Nalon, Tais Seibt, Vinicius Luiz Tondolo, Washington José de Souza Filho.

Apoiadores +R$10, informem aqui a URL para inserir um link ativo no seu nome.

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