NFJ#402 ☀️ Novo governo Lula, o jornalismo e o "desafio civilizatório"
Lula 3: regulação das plataformas, fim do cercadinho, retomada da transparência e respeito ao trabalho jornalístico | A resiliência de Juliana Dal Piva | Retrospectivas de 2022 e projeções para 2023
Buenas, moçada!
Moreno aqui, num misto de alívio e cansaço. Sabe quando a tensão baixa e o cansaço acumulado vem com tudo? Pois é. Sempre acontece nessa época de recesso-férias-verão, depois de um ano de trabalho. Quando o ritmo diminui um pouco, é como se o corpo se desse conta e dissesse “é agora que eu consigo descansar”. Aí não importa o quanto o sujeito durma: o sono não vai embora. Agora coloquem nessa conta o seguinte: tem uma parcela significativa de tensão que não é apenas resultado do ano que passou. É dos últimos quatro! Então, moçada, descansem. Sei que tem muito trabalho pela frente. Mas procurem parar, diminuir o ritmo, tirar uns dias.
Por aqui, como de praxe, pararemos em fevereiro. Agora em janeiro começamos nossa temporada de verão. Serão quatro edições cujo conteúdo vai orbitar em dois temas principais: o novo governo e projeções para 2023. Aliás, falando em projeções, vocês já conferiram O jornalismo no Brasil em 2023? O ano já começou, mas ainda há tempo!
Nesta edição estou eu (MO) e Lívia (LV) por aqui. Bora?
Antes de irmos pra newsletter, uma dica valiosa dos nossos parceiros da ServerDo.in. Sabe aquela ferramenta de captura de tela ótima que a gente usa uma vez e depois esquece o nome e o link? Pois é, a ServerDo.in fez uma lista delas. Confiram aqui.
Agora sim. Bora!
☀️ O novo governo Lula e o jornalismo I. Novo ano, novo governo, vida nova. Alívio, hein. Mas como há muito o que fazer, as discussões já começaram quentes. Selecionei alguns links de discussões que nos dizem respeito. Um dos temas que apareceu na fala de Lula (depois na de outras autoridades) foi a desinformação. Em seu discurso no Congresso, o presidente classificou a luta contra a desinformação como um "desafio civilizatório" e disse ser preciso responsabilizar os "meios pelos quais o veneno do ódio e da mentira são inoculados", segundo esta matéria da Lupa. Ele estava falando das plataformas, por óbvio. Sobre isso, Leandro Becker, da Lupa, ouviu o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), que é relator do projeto que trata do combate à desinformação. Para Silva, o debate sobre a regulação das plataformas é "inescapável". " “A minha expectativa é de que essa seja uma tarefa dos cem primeiros dias", afirmou. No Congresso em Foco, Sylvio Costa conversou com Rui Costa. O deputado petista defende que as plataformas paguem pela produção jornalística. De volta à Lupa, Leandro Becker também conversou com o ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República, Paulo Pimenta. “É importante que o governo recupere a sua capacidade de ser um difusor de informações com credibilidade", disse ao repórter. Sylvio Costa traz mais detalhes sobre o que disse Pimenta ao repercutir o relatório de transição na área da comunicação. (MO)
☀️ O novo governo Lula e o jornalismo II. A posição do chefe da Secom vai ao encontro com o pedido do editorial do Aos Fatos. "Se o governo que tomou posse em 1º de janeiro de 2023 cumprir a promessa de ser para todos, deverá dedicar-se prioritariamente a promover meios que permitam o justo escrutínio público por quem tem a verdade factual como dever de ofício", diz o texto. O ser empossado na Secom, Pimenta decretou o fim "cercadinho" — local onde Bolsonaro e militante falavam com a imprensa — e disse que os jornalistas serão respeitados no novo governo. “Saberemos falar, mas, acima de tudo, saberemos ouvir. Precisamos inserir o Brasil no discurso global na busca por solução para esses problemas”, afirmou, a respeito da liberdade de exercício da profissão, de acordo com esta matéria do Congresso em Foco. Um dos grandes desafios do cenário que se desenha é traçar fronteiras entre informação e desinformação, que por vezes podem ser tênues. Questionada pelo Poder360 "o que é uma informação legítima ou não", a AGU deu uma resposta vaga. Uma das ações da AGU foi criar a Procuradoria Nacional da Defesa e da Democracia, órgão cujo objetivo é "enfrentar a desinformação a respeito de políticas públicas". A incerteza sobre como será feito esse enfrentamento gerou reações à direita do espectro político, observa esta matéria da Lupa. Falando em direita, Alexandre de Moraes suspendeu contas nas redes sociais de jornalistas bolsonaristas. Pra fechar, leiam este fio de Maria Vitória Ramos, da Fiquem Sabendo, com uma avaliação das medidas de transparência e acesso à informação apresentadas governo Lula. (MO)
☀️ A resiliência de Juliana Dal Piva. Já tem uns dias, mas ainda vale. Deem uma olhada nesta entrevista que a repórter do UOL Juliana Dal Piva concedeu ao Escotilha. À Maura Martins, Dal Piva fala sobre formação universitária, referências para além do jornalismo, machismo na era Bolsonaro e, claro, o trabalho investigativo que resultou no livro "O Negócio de Jair". Sobre isso, um trecho que, me parece, pode ilustrar o trabalho jornalístico de maneira geral nos últimos quatro anos:
"Acho que a parte mais difícil é a resiliência. Seguir persistindo e buscando caminhos quando todas as portas se fecham. Também o machismo de todo esse ambiente que esteve presente em todo o tempo. Confesso que, às vezes, fui motivada pela raiva que dá desse tanto de nãos e também do volume de problemas que estavam acontecendo no Brasil o tempo todo e que até impediam a gente de dar conta de todas as demandas. No tempo que eu cobri esse caso, eu nunca deixei de acompanhar outros temas no Brasil. Então, sinceramente, foi com terapia, apoio familiar e uma rede grande de amigos, além de muita força de vontade que eu nunca parei de trabalhar."
(MO)
☀️ Retrospectivas. Antes de começar pra valer 2023, bora dar uma olhada em como foi o ano que passou para o jornalismo. O Marco Zero fez seu balanço, destacando o projeto “Acessibilidade jornalística – um problema que ninguém vê”, que inclui uma ferramenta de diagnóstico para portais jornalísticos e um manual de boas práticas para a construção de sites e conteúdos acessíveis. Em 2022, o Periferia em Movimento aperfeiçoou a metodologia “Repórter da Quebrada”, com experiências da produção jornalística marginal. O Nexo fez uma seleção de matérias especiais, com destaque para o “Ponto Futuro”, editoria dedicada a pensar futuros possíveis a partir de temas que são chave para transformar o Brasil e o mundo. No balanço do Aos Fatos, a eleição presidencial dominou a desinformação em 2022. A Énois montou uma rede diversa de jornalistas e comunicadores negros, indígenas e LGBTQA+, com 66,7% das pessoas negras, 28,7%, brancas e 4,6% indígenas. Essa rede produziu quase mil reportagens entre 2021 e 2022. O Press Gazette elencou 12 gráficos sobre a indústria jornalística em 2022, com dados bem interessantes. Entre eles: foi de novo um ano preocupante para a liberdade de imprensa, publishers estão tendo sucesso com assinaturas digitais e veículos aderem ao Tik Tok. O Nieman Lab selecionou os 10 artigos mais lidos no ano passado, evidenciando o interesse pela relação das plataformas com o jornalismo. No Reuters Institute, 22 achados de pesquisa de 2022 que ainda serão relevantes em 2023. Com base no relatório Media Moments, o Laboratorio de Periodismo enumerou 10 marcos da indústria de mídia em 2022. E no blog do jornalista Miquel Pellicer, uma lista com os 100 melhores artigos sobre comunicação de 2022. (LV)
☀️ Previsões I. Neste mês de janeiro, vamos dedicar um bloco de cada NFJ para as análises sobre o que se espera do jornalismo em 2023. Na série “Predictions for journalism in 2023”, do journalism.co.uk, este texto defende que precisamos repensar como financiar notícias de interesse público. Para os três especialistas entrevistados, no próximo ano, os publishers de notícias locais precisam ser criativos sobre fontes de receita sustentáveis além da publicidade. Independentemente de o dinheiro vir do governo, da Big Tech ou do público, a previsão é de dificuldades, tendo em vista a recessão na Europa. Este outro texto tenta responder: o que acontecerá com as notícias no Twitter? Para o consultor Matt Navarra, a relação entre plataformas e publishers continuará basicamente a mesma de 2022, exceto pelo Twitter, que está passando por grandes mudanças em relação à propriedade e moderação de conteúdo. “Elon Musk não tem muita paciência ou interesse em construir pontes com jornalistas e editores de notícias. A relação dele com a mídia é muito antagônica, então vai ser um ambiente muito mais difícil e menos cooperativo. Também será mais difícil para os editores desenvolver novos produtos na plataforma”, prevê. Navarra ainda afirma que a Meta está se distanciando ainda mais do jornalismo, fechando produtos para jornalistas e redirecionando recursos para o metaverso. O TikTok é, em sua avaliação, uma das piores plataformas de desinformação, mas apresenta aos jornalistas novas oportunidades e será adotado por mais publishers de notícias em 2023. (LV)
☀️ Links diversos. Uma seleção sortida de assuntos do momento. De acordo com levantamento do Núcleo, Brasil 247, Estado de Minas, o Globo, Isto É e Valor Econômico são os 5 veículos que mais rastreiam os leitores. Monitoramento da Abraji, em parceria com a Fenaj, revela que chega a 70 o número de ataques sofridos por jornalistas desde o fim da eleição. El País acaba de lançar um clube de leitura, que conecta assinantes a escritores por meio de encontros e conversas. O jornalista e professor Pedro Aguiar mapeou os jornais impressos de capitais e metrópoles brasileiras. O UOL Tab convida jornalistas, fotógrafos e freelancers a enviarem pautas para a editoria. No ijnet, oito oportunidades internacionais para se candidatar em janeiro. Mais um do ijnet: dicas para jornalistas que usam o Canva. Pra fechar a NFJ de hoje, três links do Novo em Folha: Estão abertas até o dia 19/1 as inscrições para o Prêmio Sigma, que vai dar US$ 5 mil aos melhores trabalhos de jornalismo de dados. Até 13/1 estão rolando as inscrições para o processo seletivo do curso de especialização em divulgação e popularização da ciência da Fiocruz. O concurso de jornalismo Trânsito Seguro, promovido pela Honda, dará R$ 20 mil para trabalhos jornalísticos que tratem sobre segurança viária. Inscrições até 28/2. (LV)
É isso, pessoal!
Bom final de semana e até sexta que vem.
Moreno e Lívia
Nosso agradecimento de <3 vai para:
Adriana Martorano Vieira, André Caramante, André Roca, Andrei Rossetto, Antonio Napole, Ariane Camilo Pinheiro Alves, Barbara Nickel, Ben Hur Demeneck, Bernardete Melo de Cruz, Bibiana Osório, Caio Maia, Cristiane Lindemann, Daniel Sá Fortes Gullino de Faria, Davi Souza Monteiro de Barros, Diego Freitas Furtado, Diego Queijo, Edimilson do Amaral Donini, Elizabeth Belleza Cortes, FêCris Vasconcellos, Filipe Techera, Gabriela Favre, Guilherme Nagamine, João Vicente Ribas, Jonas Gonçalves da Silva, Luiza Bandeira, Marcela Duarte, Marco Túlio Pires, Mateus Marcel Netzel, Nadia Leal, Pedro Luiz da Silveira Osório, Priscila dos Santos Pacheco, Rafael Paes Henriques, Regina Bochicchio, Roberto Nogueira Gerosa, Roberto Villar Belmonte, Rodrigo Ghedin, Rodrigo Muzell, Rogerio Christofoletti, Roogério Lauback, Samanta Dias do Carmo, Sérgio Lüdtke, Sérgio Spagnuolo, Silvio Sodré, Suzana Oliveira Barbosa, Sylvio Romero Corrêa da Costa, Tai Nalon, Tais Seibt, Vinicius Luiz Tondolo, Washington José de Souza Filho.
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