NFJ#403 ☀️ “Quem é você? O que faz aqui? Por que não está vestido como um patriota?“
A invasão aos Três Poderes e as agressões aos jornalistas | O papel das redes sociais nos atos golpistas | As tendências para 2023 segundo o Reuters Institute | Dicas de SEO e de APIs
Buenas, moçada!
Moreno aqui, em mais uma edição de verão da NFJ.
Não tô muito pra papo hoje. Mas queria desejar boas-vindas aos novos assinantes. Espero que vocês curtam a Newsletter Farol Jornalismo. Eu e Lívia já estamos há um tempinho por aqui (em 2023 a NFJ completa 9 anos), conversando sobre as transformações do jornalismo no Brasil e no mundo. Se curtirem, cogitem nos apoiar com grana — é baratinho, menos do que um espresso naquela cafeteria hipster.
Hoje estamos eu e Lívia por aqui. MO pra mim. LV pra ela.
Antes de começar, mais uma dica ótima dos nossos parceiros da ServerDo.in: como usar SEO para melhorar o posicionamento do seu site no Google. Acessem aqui.
Agora sim. Bora.
☀️ Terrorismo em Brasília I. Não tivemos uma semana de descanso. Ou melhor, nem uma semana com a expectativa de trabalhar em paz. Os relatos de violência não são poucos. O Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal consolidou os números neste tuíte. Foram 12 registros de agressões, sendo que em dois casos houve solicitação de ajuda da PM, que não atendeu aos pedidos. A Abraji contou 16 apenas durante os atos. Ao longo da semana, Abraji e Fenaj somaram mais de 40 agressões desde domingo. Um repórter do jornal O Tempo contou que passou 30 minutos detido. Ele foi agredido e ameaçado de morte.
‘’Ao me ver ali, três ou quatro homens vestidos como militares me cercaram, me abordaram e passaram a me bombardear com perguntas: “Quem é você? O que faz aqui? Por que não está vestido como um patriota? É infiltrado? É petista?”. Gelei.’’
A repórter Marina Dias, que estava cobrindo os acontecimentos para o Washington Post, também foi agredida.


Sylvio Costa, do Congresso em Foco, também passou por uma situação tensa.
‘’Quando um dos agentes da PRF me aborda, penso estar diante de um aliado e logo me identifico como jornalista, mostrando o crachá e tal. Foi possivelmente o meu erro. A partir desse momento o agente quer me impedir de permanecer onde eu me encontrava, ou seja, no estacionamento ao lado do MJSP (Ministério da Justiça e da Segurança Pública).’’
O Congresso em Foco reuniu informações sobre algumas dessas agressões nesta matéria. Carolina de Assis fez o mesmo na LJR. Renata Neder, representante no Brasil do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) expressou preocupação e afirmou que as “as autoridades devem investigar rápida e minuciosamente todos os ataques à imprensa e garantir que os jornalistas possam trabalhar com segurança e sem medo de assédio”. Na segunda, entidades e jornalistas se reuniram com o ministro da Secom, Paulo Pimenta, para tratar das agressões. Na quinta, a Fenaj divulgou nova nota repudiando intimidações e agressões sofridas por jornalistas no Rio Grande do Sul. O professor Rogério Christofoletti reuniu, como costuma fazer em acontecimentos importantes, capas de jornais no dia seguinte. O MPF instaurou inquérito contra a Jovem Pan por divulgar fake news e incitar atos antidemocráticos. O Nexo repercutiu. O Aos Fatos também, afirmando que a emissora espalhou ao vivo desinformação que golpistas usaram para relativizar violência em Brasília. E vejam a jornalista da CNN Daniela Lima cortando o deputado federal bolsonarista Ricardo Barros ao vivo enquanto ele defendia os criminosos que atacaram Brasília. (MO)
☀️ Terrorismo em Brasília II. A Lupa abriu um banco de dados colaborativo para coletar coletar posts antidemocráticos. E o Nexo explicou o que é OSINT, a técnica utilizada para identificar os envolvidos nos atos de violência. O Aos Fatos chamou a atenção para o fato de terroristas estarem sendo monetizados pelas plataformas por fazerem lives dos ataques a Brasília. A partir de um monitoramento feito com a ferramenta Radar, o Aos Fatos mostrou que ‘’23 das 47 transmissões ao vivo de canais de extrema-direita tiveram alguma forma de monetização’’. O Núcleo botou ainda mais o dedo na ferida. Escreveu Sérgio Spagnuolo:
‘’Passou da hora de as redes sociais pararem de se esconder atrás do argumento de liberdade de expressão imposto por um bando de deliquentes extremistas e decidirem se democracia é mais importante do que visualizações.’’
A Wired se debruçou sobre como a extrema direita norte-americana colaborou com o ataque aos Três Poderes. A repórter Vittoria Elliott mostra que as narrativas de radicais dos EUA e do Brasil reforçaram umas às outras, e que isso se intensificou nos últimos dois anos. Os especialistas entrevistados também sublinham a leniência das plataformas no crescimento da desinformação, dos discursos de ódio e violência. (MO)
☀️ Tendências do Reuters Institute I. Saiu o relatório “Jornalismo, mídia, tendências tecnológicas e previsões 2023”, do Reuters Institute. Quem quiser ter uma perspectiva de mudanças anuais, vale ler nossa curadoria do relatório de 2022. Nic Newman já manda a real de cara: inflação, guerra, aquecimento global e efeitos pós-pandemia criam incertezas e podem continuar afastando as pessoas do jornalismo. “Poderia ser este o ano em que os publishers repensam suas estratégias para enfrentar os desafios de evitar (news avoidance) e desconectar das notícias – para oferecer mais esperança, inspiração e utilidade?”. Entrevistas com 303 jornalistas seniores de 53 países (incluindo o Brasil), realizadas no fim de 2022, mostram que os gestores estão menos confiantes nas perspectivas de negócios do que no ano passado, e se preocupam com aumento dos custos, menor interesse dos anunciantes e diminuição nas assinaturas. Apesar disso, o foco em assinaturas continua, com 80% dos entrevistados dizendo que essa será uma de suas prioridades de receita, à frente de publicidade display e nativa. Facebook e Twitter terão menos atenção dos publishers, que miram no TikTok, Instagram e YouTube, redes sociais populares entre os mais jovens. Em 2023, mais recursos serão investidos em podcasts e newsletters, dois formatos que se mostraram eficazes em aumentar a fidelidade às organizações de notícias. O investimento planejado em formatos de vídeo digital também aumentou em relação ao ano passado. Por outro lado, apenas 4% dizem que investirão no metaverso, refletindo o aumento do ceticismo sobre seu potencial para o jornalismo. Nic Newman afirma que a próxima onda de inovação será a Inteligência Artificial (IA), que teve “avanços extraordinários” e oferece aos veículos a chance de fornecer informações e formatos mais personalizados. Mas as preocupações éticas com deep fakes, deep porn e afins continuam. E conclui: “Organizações de notícias que ainda não adotaram totalmente o digital estarão em grande desvantagem. Os próximos anos não serão definidos pela rapidez com que adotamos o digital, mas pela forma como transformamos nosso conteúdo digital para atender às expectativas de uma audiência que muda rapidamente”. Mais informações neste fio e também no journalism.co.uk. (LV)
☀️ Previsões II. Começamos na semana passada a selecionar algumas projeções para o jornalismo neste ano. Hoje, vamos mergulhar no já tradicional Predictions for Journalism 2023, do Nieman Lab. Confirmando a tendência apontada pelo Reuters Institute, encontramos pelo menos 10 textos com previsões relacionadas à Inteligência Artificial, que destacam seus aspectos positivos e negativos.
Para Burt Herman, este será finalmente o ano em que a IA realmente chega às redações. “Jornalistas se tornarão ainda mais essenciais para a sociedade, à medida que a IA entrar no mainstream, e ajudaremos a definir padrões, rastrear possíveis abusos e trazer nossa ética e padrões para a tecnologia”, diz.
Joe Amditis enxerga enorme potencial da IA no jornalismo local, por sua “capacidade de gerar rapidamente documentos, instruções, guias e vários elementos da infraestrutura interna, que economiza uma quantidade incrível de tempo e esforço dos publishers de notícias independentes e hiperlocais”.
Bill Grueskin também afirma que as notícias locais contarão cada vez mais com a IA. “Se automatizarmos algumas notícias de commodities, podemos fornecer muito mais informações para as pessoas que precisam”.
Em 2023, a IA realmente muda o negócio da mídia, prevê Nicholas Thompson. “Vão aparecer novas empresas que usam IA para agregar e resumir; repórteres aprenderão como usar as novas ferramentas para encontrar histórias”, afirma.
ChatGPT é uma das ferramentas de IA mais citadas pelos especialistas. Para Cory Bergman, haverá uma inundação de conteúdo de IA em 2023. “O ChatGPT não vai substituir o jornalismo ou a análise inteligente (ao menos por enquanto) e ainda contém erros. Mas certamente é bom o suficiente para trabalhar como um assistente de pesquisa. Por exemplo, alimente-o com uma longa transcrição de entrevista e peça um resumo de pontos e citações sugeridas. Isso levará cerca de 10 segundos”.
Jennifer Brandel afirma que, com o sucesso das novas ferramentas de IA (como DALL-E e ChatGPT), os jornalistas devem investir no que a IA não pode fazer: cuidar. “Jornalismo não é apenas extrair informações e entregá-las em formatos e produtos. Negligenciar o fato de que cada interação carrega seu próprio tipo de metadados psicológicos que se somam para moldar como as pessoas vivenciam o mundo é não exercer o poder que está mais sob seu controle: como você se mostra”, diz.
Eric Ulken pondera que a IA generativa — que inclui criação de texto e imagem e resumo de texto, como no ChatGPT — traz erros em escala. “Apesar de todas as suas promessas, a IA generativa pode errar mais, mais rápido e com menos transparência do que qualquer inovação na memória recente”.
Nicholas Diakopoulos aponta uma saída para aproveitar as ferramentas de IA generativa de maneira produtiva: “É melhor pensar nelas como ferramentas internas da redação, fazendo sugestões para repórteres e editores, em vez de gerar texto que será publicado diretamente”.
Peter Sterne afirma que ferramentas de transcrição, como o Stage Whisper, “podem liberar os repórteres para gastar mais tempo entrevistando fontes e investigando informações e menos tempo transcrevendo entrevistas”.
David Cohn pôs a mão na massa e utilizou um bot de IA para criar um vídeo com suas projeções para 2023. Para ele, “alguns (não todos) jornalistas seguirão suas carreiras como aqueles que podem aproveitar essa tecnologia para melhorar o ecossistema de notícias”. (LV)
☀️ Links diversos. O Projeto de Investigação do Crime Organizado e da Corrupção (OCCRP, na sigla em inglês), lançou um fundo para tornar o auxílio legal mais acessível a jornalistas [Nieman reports] . O professor Paul Bradshaw ensina o que jornalistas precisam saber sobre APIs [Online Journalism Blog]. Cinco dicas para jornalistas abraçarem o empreendedorismo [Journalism.co.uk]. Dicas de SEO para publishers [Press Gazette]. Confira a investigação jornalística sobre a invasão do Capitólio [Abraji]. Governo Lula começa a montar quebra-cabeça para a regulação das redes sociais [Núcleo]. The Intercept Brasil será uma organização sem fins lucrativos [Poder360]. Sete expressões jornalísticas em português, inglês e espanhol que todo jornalista latino-americano deve saber [LJR]. Knight Center está com um novo curso: jornalismo explicativo. Será em inglês e começa na segunda [Knight Center]. Marina Souza repercute o especial O jornalismo no Brasil em 2023 [IJNet]. Jeremy Caplan montou uma caixa de ferramentas para jornalistas de tecnologia [Wonder Tools]. (MO)
É isso, pessoal!
Bom final de semana e até sexta que vem.
Moreno e Lívia
Nosso agradecimento de <3 vai para:
Adriana Martorano Vieira, André Caramante, André Roca, Andrei Rossetto, Antonio Napole, Ariane Camilo Pinheiro Alves, Barbara Nickel, Ben Hur Demeneck, Bernardete Melo de Cruz, Bibiana Osório, Caio Maia, Cristiane Lindemann, Daniel Sá Fortes Gullino de Faria, Davi Souza Monteiro de Barros, Diego Freitas Furtado, Diego Queijo, Edimilson do Amaral Donini, Elizabeth Belleza Cortes, FêCris Vasconcellos, Filipe Techera, Gabriela Favre, Guilherme Nagamine, João Vicente Ribas, Jonas Gonçalves da Silva, Luiza Bandeira, Marcela Duarte, Marco Túlio Pires, Mateus Marcel Netzel, Nadia Leal, Pedro Luiz da Silveira Osório, Priscila dos Santos Pacheco, Rafael Paes Henriques, Regina Bochicchio, Roberto Nogueira Gerosa, Roberto Villar Belmonte, Rodrigo Ghedin, Rodrigo Muzell, Rogerio Christofoletti, Roogério Lauback, Samanta Dias do Carmo, Sérgio Lüdtke, Sérgio Spagnuolo, Silvio Sodré, Suzana Oliveira Barbosa, Sylvio Romero Corrêa da Costa, Tai Nalon, Tais Seibt, Vinicius Luiz Tondolo, Washington José de Souza Filho.
Apoiadores +R$10 no Apoia-se, informem aqui a URL para inserir um link ativo no seu nome.