NFJ#487 🌱 ChatGPT Search gera mais pessimismo sobre o futuro do jornalismo
Trump venceu. E agora? | Pode o jornalismo sobreviver sem a democracia? | Geração Z e millennials querem assinatura mais flexíveis | 💎 Que habilidades digitais o jornalista deve ter?
E aí, gente!
Moreno aqui, caminhando contra o vento, no sol de quase dezembro.
No fim da newsletter há um diamante (💎). Hoje a Lívia destrincha um estudo que analisou 531 anúncios de emprego de 32 veículos jornalísticos dos EUA, Reino Unido, Austrália, França, Alemanha, Áustria e Suíça para saber quais habilidades mais desejadas em um jornalista. Exclusivo para apoiadores aqui e no Apoia-se.
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Hoje estamos eu (MO), a Lívia (LV) e o Giuliander (GC).
Bora.
Nosso agradecimento de <3 vai para:
Adriana Martorano Vieira, Alexandre Galante, Amaralina Machado Rodrigues Xavier, André Caramante, Andrei Rossetto, Antônio Laranjeira, Antonio Simões Menezes, Ariane Camilo Pinheiro Alves, Ben Hur Demeneck, Bernardete Melo de Cruz, Bibiana Osório, Bruno Souza de Araujo, Carlos Alberto Silva, Diogo Rodrigues Pinheiro, Edimilson do Amaral Donini, Fabiana Moraes, FêCris Vasconcellos, Filipe Techera, Gabriela Favre, Guilherme Nagamine, João Vicente Ribas, Jonas Gonçalves da Silva, Marcela Duarte, Marco Túlio Pires, Mateus Netzel, Milena Giacomini, Monica de Sousa França, Nadia Leal, Pedro Luiz da Silveira Osório, Priscila dos Santos Pacheco, Rafael Paes Henriques, Roberto Nogueira Gerosa, Roberto Villar Belmonte, Rodrigo Ghedin, Rodrigo Muzell, Rogerio Christofoletti, Rose Angélica do Nascimento, Rosental C Alves, Sérgio Lüdtke, Silvio Sodré, Suzana Oliveira Barbosa, Taís Seibt, Vinicius Luiz Tondolo, Vitor Hugo Brandalise, Washington José de Souza Filho.
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🌱 ChatGPT Search gera mais pessimismo sobre o futuro do jornalismo. Falamos bem en passant na semana passada sobre o novo lançamento da OpenAI que promete bater de frente com a busca do Google, o ChatGPT Search. Ou seja, agora os usuários do LLM mais famoso vão poder fazer pesquisas na web sobre assuntos diversos (inclusive notícias) e, além de receber os tradicionais resumos, também terão acesso a diversos links relacionados – dando uma cara de Google AI Overview pra coisa. Bom, já surgiram os primeiros testes e as primeiras discussões sobre os impactos da nova funcionalidade. No Linkedin, Ezra Eeman, diretor de estratégia e inovação da NPO (a rede pública de comunicação da Holanda), escreveu que embora a ferramenta seja considerada de pesquisa, trata-se de algo totalmente diferente. Ele comparou as pesquisas que realizou sobre as recentes enchentes na Espanha nos dois aplicativos concorrentes:
“A abordagem tradicional de pesquisa do Google apresenta múltiplas fontes de notícias organizadas cronologicamente, com carimbos de data e hora e diversas perspectivas de diferentes editores. Cada título oferece um ângulo ligeiramente diferente, convidando os usuários a clicar para obter mais informações. O ChatGPT, por outro lado, fornece um curto resumo com seções estruturadas que cobrem vítimas, resposta do governo e danos à infraestrutura - tudo em uma única visualização. Enquanto o Google atua como uma porta de entrada para informações, o ChatGPT funciona como um terminal de informações, fornecendo um resumo que não necessariamente convida a mais cliques.”
Já deu para sentir o tamanho do baque que vem aí, né? Na própria publicação de Eeman, a diretora sênior de inovação do ICFJ, Maggie Farley, comentou que a funcionalidade será uma grande vitória para os usuários e um problema existencial para os publishers SE (ela escreveu em letras maiúsculas) as informações que a pesquisa de IA obtém das fontes forem precisas e bem compensadas. “Idealmente, a necessidade de fontes de informação precisas e atualizadas deveria elevar o valor do jornalismo. (...) Esses desenvolvimentos imploram por um modelo de negócios diferente.” É o que pensa Eeman e também o professor da PUC-SP Diogo Cortiz: “(Essa mudança) afeta toda a dinâmica da economia digital. Quem cria conteúdo vai receber cada vez menos tráfego e, consequentemente, menos dinheiro. Não é uma parada sustentável. Se o paradigma da busca mudar de fato, vamos ter que repensar os fundamentos que regem a economia digital nos últimos 20 e poucos anos. E não vai ser pouca coisa”. Desculpem aí pelo pessimismo. De qualquer forma, para essas previsões se confirmarem, a funcionalidade precisa cair no gosto do público – quem testou, gostou, mas todo mundo ainda é muito acostumado a usar o Google. (GC)
🌱 Trump venceu. E Musk tuitou dizendo “you are the media now”. “O jornalismo baseado em fatos não funciona para eles [Musk e Trump], então eles estão matando o mensageiro”, disse o editor-chefe da The Atlantic, Jeffrey Goldberg, no podcast Radio Atlantic, em episódio que foi ao ar antes do pleito de terça. A host do programa, Hanna Rosin, por sua vez, disse ter receio sobre o papel do jornalismo em um mundo onde a verdade não comove mais as pessoas. Então estamos fodidos? Para Jeff Jarvis, bastante. “A instituição do jornalismo sofrerá, pois é provável que mais jornalistas sejam assediados, até mesmo processados ou presos por Trump e seus capangas”, escreveu o guru da mídia norte-americana após o resultado. Na semana passada falamos sobre a linha tênue entre interesses comerciais de players importantes do jornalismo e decisões como a do Washington Post de não endossar a candidatura de Kamala Harris. Dois dias antes da eleição, um editorial do Guardian abordou a relação entre o jornalismo (como negócio) e a democracia. Para a jornalista Margaret Simons, a maioria dos veículos não serve às pessoas desengajadas politicamente – mas são elas, escreveu, que iriam decidir quem seria o novo morador da Casa Branca. “Tradicionalmente, a missão jornalística incluiu tornar o importante compreensível, buscando envolver os desengajados [...] Em vez disso, [...] o caminho para a sustentabilidade financeira [...] está em tentar fazer com que as pessoas que já leem as notícias passem mais tempo com o veículo e convertê-las em assinantes pagantes”. Não foram essas pessoas que decidiram a eleição. Não estamos falando com quem botou Trump lá novamente, e nem essa galera está ajudando a nos financiar. Para Simons, talvez exista um caminho para a democracia sem o jornalismo. (MO)
🌱 Mas pode o jornalismo sobreviver sem a democracia? Não sabemos, mas tem gente disposta a cair lutando. Nos EUA, o The 19th escreveu um editorial dizendo: “Estamos prontos”. Emily Ramshaw, CEO e cofundadora do veículo, disse que “um segundo governo Trump exigirá uma maior prestação de contas e uma cobertura inflexível dos esforços para desfazer e minar políticas que promovam a equidade de gênero e raça”. Por aqui, logo que o resultado saiu, circulou um email da Agência Pública assinado pela Natalia Viana. “Contra essa gente, só há um remédio: boa informação”, escreveu a diretora executiva. Mas de que adianta a boa informação se ninguém está disposta a levá-la em consideração? A consolidação de um ecossistema midiático (e democrático?) que passa por fora do que publica a imprensa surge como a principal ameaça para o jornalismo após 5 de novembro. É o que sugere o historiador e professor de jornalismo Michael Socolow, da Universidade do Maine, em entrevista ao Boston Globe. A matéria narra como foi certeira a estratégia de Trump de não apenas evitar a mídia tradicional, mas apostar em influenciadores e podcasts cujos conteúdos privilegiam uma segregação de gênero – o republicano levou 52% dos votos dos homens norte-americanos que tem entre 18 e 44 anos. Na CNN, Brian Stelter pergunta: O que a vitória avassaladora de Trump diz sobre o ambiente de informação nos Estados Unidos? “A reeleição de Trump prenuncia um novo período de hostilidade com os principais meios de comunicação que lutam pela imparcialidade, bem como com os meios de comunicação partidários que se opõem a ele”, escreveu Stelter. Por fim, as previsões de Kyle Paoletta, para a CJR, são bem catastróficas:
“No ano que vem, o ataque de Trump à imprensa se tornará uma saraivada de tentativas discretas de anular qualquer reportagem que ele veja como antagônica. O acesso à West Wing será limitado, talvez por assessores que credenciam apenas jornalistas de veículos conservadores — ou até mesmo fechando a sala de imprensa da Casa Branca de vez. Mais preocupantes são os planos de Trump e seus aliados de virar o Departamento de Justiça e a Comissão Federal de Comunicações contra a mídia, o que implicará em uma série de investigações a respeito de vazamento, politização de licenças de transmissão e litígios antitruste, e a potencial acusação de jornalistas por espionagem. Repórteres que cobrem protestos e fiscalização da imigração enfrentarão detenção não apenas da polícia local, mas do Departamento de Segurança Interna. É possível que Trump até busque ação do Congresso para reformar as leis de difamação ou criminalizar a dissidência.”
Não vai ser fácil. (MO)
🌱 Geração Z e millennials precisam de modelos de assinatura mais flexíveis. Esse é o principal ponto abordado por um novo relatório da FT Strategies, o braço de consultoria do Financial Times, em conjunto com a Minna Technologies. Intitulado Subscription Economy: Evolution Not Revolution, o documento informa que 70% das pessoas entre 18 e 44 anos possuem assinaturas de algum tipo contra 55% das maiores de 65 anos. A questão é que esse grupo demográfico valoriza muito a possibilidade de pausar ou modificar seu plano de assinatura para uma opção mais básica, conforme as necessidades. Os veículos de comunicação precisam se adaptar a essa realidade sob pena de não conseguirem reter os assinantes: 63% deles preferem pagar mensalmente ao invés de anualmente e 51% explora várias opções entre a concorrência, o que indica pouca lealdade dessas pessoas a uma única publicação. Uma alternativa para lidar com a situação seria oferecer recompensas por tempo de assinatura. Dois terços das organizações de notícias consultadas afirmam que até 20% dos seus assinantes que cancelam voltam a fazer uma assinatura em até seis meses. Ou seja, as relações tradicionais com os assinantes estão se modificando para algo mais dinâmico – o que também tem a ver com a percepção de pouco valor agregado das assinaturas de conteúdo noticioso, ainda mais quando os leitores/consumidores sempre podem receber uma oferta mais vantajosa da empresa de mídia quando ameaçam cancelar o serviço ou mesmo quando retornam depois de um tempo distantes. A sugestão dada pelo relatório para lidar com o problema seria investir em conteúdo com valor único, seja por formatos alternativos e produtos distintos como podcasts, seja pela disponibilização de pacotes com outros serviços ou publicações que possam justificar o valor cobrado. Os consumidores também estão fartos de gerenciar cada assinatura que possuem diretamente com cada empresa ou plataforma: 73% são partidários de soluções consolidadas de gerenciamento de assinaturas, o que abriria oportunidade para as organizações de notícias colaborarem com bancos e fintechs para integrar a gestão de diversos produtos e oferecer pacotes combinados que aumentem a comodidade para o usuário. (GC)
🌱 Lançamentos, análise e entrevista
Saiu a TIC Domicílios 2024, o raio-x anual do uso da internet no Brasil. 83% dos domicílios têm acesso à internet (para vocês terem uma ideia, em 2015, há menos de 10 anos, apenas 51% das casas estavam conectadas). Com relação às habilidades digitais, 52% dos usuários diz que “verificou se uma informação que encontrou na Internet era verdadeira”, maior percentual desta categoria.
Para Vilson Vieira Junior, a TIC Domicílios escancara nossas desigualdades: a internet está presente em todos os lares de renda mais alta, mas entre as classes D e E, o acesso chega a apenas 68%. Outro dado importante é o número de “não usuários”, que são 29 milhões no país, dos quais 17 milhões são negros e 16 milhões pertencem às classes de renda mais baixa.
WAN-IFRA lança ferramenta de jogos “NewsArcade”, com teste gratuito de seis meses. A ideia é “transformar notícias em jogos para engajar jovens, combater a desinformação e aumentar a alfabetização midiática”.
A CNBC Brasil, novo canal focado em jornalismo de negócios, estreia no próximo dia 17, a partir das 19h nos canais digitais e às 20h na televisão. Zeca Camargo, Carol Barcellos e Christiane Pelajo são alguns dos jornalistas contratados.
“Hoje é possível lançar um meio de comunicação. Não é uma quimera, é uma realidade comprovada”, diz o consultor e jornalista Ismael Nafría, nesta entrevista. Quatro dicas para isso: defina uma boa proposta de valor, o público, o formato mais interessante possível e tenha bem clara a geração de receita. (LV)
💎 Que habilidades digitais o jornalista deve ter? Esta pergunta guiou a pesquisa liderada pela professora Juliane A. Lischka, da Universidade de Hamburgo, que examinou 531 anúncios de emprego de 32 veículos jornalísticos dos EUA, Reino Unido, Austrália, França, Alemanha, Áustria e Suíça. Além das demandas por diferentes expertises, o estudo mapeou os graus acadêmicos, a transparência salarial e a diversidade. Este é o segundo relatório sobre o assunto. Em 2022, a equipe fez um primeiro levantamento, que já apontava tendências que parecem estar consolidadas em 2024. Professores de jornalismo vão se interessar, em especial, por este relatório. Para mim, foi bem interessante avaliar como meu plano de aulas se relaciona com as habilidades exigidas pelo mercado. Embora o foco seja EUA e países da Europa, o cenário aqui é bem parecido. Vamos explorar os resultados? (LV)
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