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NFJ#499 ☀️ Como noticiar o aquecimento global a negacionistas

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A ofensiva de Trump contra a imprensa | WP subestima seus leitores, diz colunista que deixou o jornal após censura | (Mais) Exemplos de como não usar IA no jornalismo | E um bom uso da IA para áudio

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Moreno Cruz Osório
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Mar 14, 2025
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NFJ#499 ☀️ Como noticiar o aquecimento global a negacionistas
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E aí, gente.

Moreno aqui, vivendo dias amenos Porto Alegre. E com aquele céu azul que só acontece em meridianos mais baixos.

No mais, vamos nessa, sempre listos para la aventura.

NFJ, a newsletter sobre jornalismo atenta ao que o jornalismo faz com a gente

Hoje estamos todos: eu (MO), Lívia (LV) e Giuliander (GC).

Antes, no blog dos nossos parceiros da serverdo.in, dicas para organizar seu email.


Nosso agradecimento de <3 vai para:
Adriana Martorano Vieira, Alexandre Galante, Amaralina Machado Rodrigues Xavier, André Caramante, Andrei Rossetto, Ariane Camilo Pinheiro Alves, Ben Hur Demeneck, Bernardete Melo de Cruz, Bibiana Osório, Bruno Souza de Araujo, Carlos Alberto Silva, Diogo Rodrigues Pinheiro, Edimilson do Amaral Donini, Fabiana Moraes, FêCris Vasconcellos, Filipe Techera, Gabriela Favre, Guilherme Nagamine, João Vicente Ribas, Jonas Gonçalves da Silva, Marcela Duarte, Marco Túlio Pires, Mateus Netzel, Milena Giacomini, Monica de Sousa França, Nadia Leal, Pedro Luiz da Silveira Osório, Priscila dos Santos Pacheco, Rafael Paes Henriques, Roberto Nogueira Gerosa, Roberto Villar Belmonte, Rodrigo Ghedin, Rodrigo Muzell, Rogerio Christofoletti Rosental C Alves, Sérgio Lüdtke, Silvio Sodré, Suzana Oliveira Barbosa, Taís Seibt, Vinicius Luiz Tondolo, Vitor Hugo Brandalise, Washington José de Souza Filho.
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☀️ A ofensiva de Trump contra a imprensa. Os primeiros meses do governo Trump têm sido desastrosos para a imprensa norte-americana – mas não só. Vocês devem ter visto que, no fim de fevereiro, a Casa Branca anunciou que vai passar a escolher quais veículos poderão cobrir o presidente Trump de perto – na residência presidencial, em eventos e em seu avião. Como escreveu o Estadão, a decisão rompe um século de tradição em que um grupo de organizações de notícias escolhidas de forma independente acompanha o chefe do Executivo. Sob a justificativa de “modenização”, a medida incluiu no pool serviços de streaming, podcasts e sites. Ao mesmo tempo, a Casa Branca vetou a Associated Press do Salão Oval por tempo indeterminado, após a agência de notícias se recusar a chamar golfo do México de golfo da América, como determinou Trump. As consequências apareceram pouco dias depois e foram bem detalhadas neste artigo de Lawrence Douglas para o Guardian. Ao descrever as perguntas feitas por jornalistas de extrema direita após a reunião hostil entre Trump, JD Vance e Volodymyr Zelenskyy, Douglas avalia que Trump está transformando parte da imprensa em porta-voz do regime. “Que boa pergunta” e “Eu amo esse cara [o jornalista]” foram alguns dos comentários feitos por Trump na ocasião. David Enrich, editor do New York Times, escreveu na newsletter The Morning que redações pequenas e grandes já estão vivendo ou temem assédio judicial, diante das ameças de Trump de processar repórteres com base em leis antiespionagem. Neste editorial do último dia 7, o Guardian sublinha o poder midiático de Trump e defende que os democratas não podem simplesmente sentar e esperar.

“As mentiras do Sr. Trump devem ser desafiadas. Checar os fatos de suas provocações, sem promover alternativas políticas de forma convincente, não será suficiente. Respostas processuais e legais são essenciais, mas também a capacidade de pegar o megafone de volta – ou encontrar outro”.

Falando em checagem de fatos, a curadora da Fundação Nieman, Ann Marie Lipinski, afirma que a verificação rigorosa dos fatos deve permanecer central na missão do jornalismo. E refuta a ideia de que a vitória de Trump representou a falha do fact-checking e de seus métodos. Ela entrevistou Angie Drobnic Holan, diretora da International Fact-Checking Network, para quem "os jornalistas fizeram um ótimo trabalho ao mostrar as mentiras que Trump contou, mas as pessoas disseram: 'nós viveremos com isso’”. Outra medida tomada por Trump foi a suspensão de todos os financiamentos da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), que apoiava o jornalismo independente em mais de 30 países. O Reuters Institute entrevistou vários gestores de veículos da América Central e do Sul, que estão sendo grandemente impactados pelo corte do financiamento norte-americano. “A imprensa enfrentará tempos sombrios", resume, em tom preditivo, a diretora da IFCN. (LV)


☀️ Segue a treta no WP. Na segunda, a colunista Ruth Marcus deixou o Washington Post depois que uma de suas colunas foi censurada pelo publisher Will Lewis. O texto criticava a decisão do dono do Post, Jeff Bezos, de transformar a seção de opinião do jornal em um veículo das “liberdades individuais” e do “livre mercado”. O tiro, claro, saiu pela culatra. A New Yorker publicou a coluna na íntegra, bem como um ensaio em que Ruth conta sobre sua experiência no jornal e a relação dela com a administração Lewis/Bezos. À NPR, ela lamentou que a liberdade de escolher o tópico e dizer o que pensa tenha sido subtraída dos colunistas do WP. “Algo que nunca havia me acontecido em quase duas décadas escrevendo colunas”, disse a jornalista. Um trechinho do texto que achei válido compartilhar com vocês:

“Bezos é dono do Post, e esse decreto está dentro de suas prerrogativas. Um dono que se intromete na cobertura de notícias, especialmente para promover interesses pessoais, está se comportando de forma antiética. Moldar a cobertura de opinião é diferente e menos problemático. Mas estreitar o alcance de opiniões aceitáveis ​​é um caminho imprudente, que desmerece e subestima nossos leitores.”

Em outra carta de despedida, Cameron Barr, ex-editor do WP que ainda prestava serviços ao jornal, citou uma frase de Bezos afixada em um mural na redação: “Eu acredito fortemente que missionários fazem produtos melhores. Eles se importam mais. Para um missionário, não se trata apenas do negócio. Tem de haver um negócio, e o negócio tem que fazer sentido, mas não é por isso que você faz isso. Você faz isso porque tem algo mais significativo que o motiva.” Nada mais verdadeiro, escreveu Barr, sugerindo que talvez esteja na hora de Bezos vender o jornal para alguém que permita aos seus missionários – jornalistas que buscam a verdade, independentemente de quem está no poder – consigam fazer o seu trabalho. (MO)


☀️ Mais uma besteira do jornalismo com o uso de IA. Dois anos e alguns meses depois do lançamento que causou o hype global da inteligência artificial, os jornalistas e os meios de comunicação ainda se atrapalham na hora de usar as ferramentas dentro do guarda-chuva da IA ou criar produtos que usem a tecnologia para realmente beneficiar seus públicos. Um dos últimos exemplos de pisada na bola foi o Insights lançado pelo LA Times a partir de uma carta do seu presidente executivo, Patrick Soon-Shiong, no início do mês. O recurso oferece aos leitores outras visões (todas criadas por IA e aparentemente sem supervisão humana) a textos publicados pelo jornal que contenham algum ponto de vista mais pessoal de seu autor. Ora, o que poderia dar errado, né? Em um artigo escrito pelo colunista Gustavo Arellano, ele argumentava que Anaheim, a cidade em que cresceu, não deveria esquecer que no passado foi palco da Ku Klux Klan (KKK), um grupo extremista e racista. Pois bem, segundo o repórter do New York Times Ryan Mac, a nova ferramenta amenizou o papel histórico da KKK, escrevendo que “alguns historiadores (não citou quais) defendem que a organização não deveria ser interpretada como um movimento de ódio, mas como uma resposta da ‘branca cultura protestante’ a mudanças sociais dos anos 1920”. O jornalista retrucou:

“Se você vai usar seu jornal para fazer um contra-argumento em um artigo de opinião, você deve ser forçado a colocar um nome nele. A IA pode pegar qualquer coisa e regurgitar sem atribuição. Se você vai divulgar conteúdo pró-KKK, coloque um rosto nele para que possamos ver quem tem essas opiniões.”

O argumento contido no Insights foi retirado do ar, mas a ferramenta continua funcionando para classificar o espectro político ao qual um texto de opinião se alinha (esse aqui, por exemplo, sobre ataques que estão ocorrendo em universidades americanas, seria de centro esquerda) e oferecer outro(s) lado(s). O Nieman Lab classificou o recurso como uma bagunça. E a gente pergunta: precisava?

Muitos meios de comunicação e jornalistas teimam em confiar em uma tecnologia para alguns trabalhos em que ela é particularmente muito pouco confiável. Segundo um estudo do Tow Center, basicamente todas as ferramentas de pesquisa que usam IA têm um problema para atribuir a origem de um texto noticioso.

Ou seja, não bastasse cortar o direcionamento de uma pesquisa para as fontes originais de conteúdo, os modelos de linguagem se atrapalham até para citá-las. Nos testes realizados, em geral, “os chatbots frequentemente falharam em recuperar os artigos corretos. Coletivamente, eles forneceram respostas incorretas para mais de 60% das consultas. Em diferentes plataformas, o nível de imprecisão variou, com a Perplexity (ferramenta usada para criar os pontos de vista diferentes do Insights do LA Times) respondendo incorretamente a 37% das consultas, enquanto o Grok 3 teve uma taxa de erro muito maior, respondendo incorretamente a 94% das consultas”. Como diria aquele narrador de futebol, que beleeeeeza! (GC)


☀️ E mais umas coisas legais com IA.

  • Dois John S. Knight fellows que se encontraram em Stanford e criaram juntos um laboratório de consultoria em inteligência artificial desenvolveram uma ferramenta que ouve uma grande quantidade de áudio e gera transcrições com marcações de tempo, tópicos principais abordados, declarações mais importantes e sugestões de passagens que precisariam ser checadas. Eles nomearam a ferramenta como Roganbot em alusão ao podcast de Joe Rogan, que lança três ou quatro episódios por semana com cerca de 2 horas e meia de duração cada – ouvir os quase 2.300 episódios já publicados levaria mais de 240 dias sem interrupções e, ao final do trabalho, Rogan já teria colocado no ar outros 120 programas. O Roganbot é o que os dois criadores chamam de “ferramentas de visibilidade”, que dão aos jornalistas olhos e ouvidos onde seria impossível tê-los e são capazes de multiplicar a capacidade de uma redação.

  • E Sara Beykpour, a co-fundadora e CEO do Particle, um aplicativo que sumariza notícias com base em modelos de IA e ajuda os leitores a entenderem qual o viés político de uma publicação, deu uma ampla entrevista ao Twipe, onde explicou o funcionamento da ferramenta. Ao contrário da maior parte dos buscadores que utilizam IA, o aplicativo dirige os leitores para as fontes originais de informação. No início do ano passado, duas iniciativas jornalísticas que giravam em torno da IA (o serviço de notícias Messenger e a ferramenta de personalização Artifact) fecharam as portas levantando questões sobre a sustentabilidade de produtos jornalísticos baseados em IA. O Particle ainda não tem um plano de financiamento claro – ou pelo menos não um que a sua CEO pudesse compartilhar. “Eles começaram alguns anos antes da IA ​​realmente decolar e tínhamos a vantagem de já tê-la nativamente construída em nossa plataforma. O que todos esses aplicativos e produtos mostram é que há essa necessidade que os usuários ainda estão procurando, uma experiência que combine com suas vidas e onde eles estão. Vamos continuar a nos esforçar para isso”, afirmou Beykpour. (GC)


☀️ Links diversos.

  • A Abraji e o Pulitzer Center promovem, no próximo dia 27, às 13h, o curso online “Introdução à Reportagem sobre IA”, ministrado por Mago Torres, especialista em jornalismo investigativo e dados. O curso terá duração de 90 minutos e oferecerá um panorama inicial sobre IA para jornalistas.

  • Após encerrar o programa de verificação de fatos, a Meta vai começar a testar nos Estados Unidos, no próximo dia 18, o Notas da Comunidade no Facebook, Instagram e Threads. Segundo comunicado da empresa, cerca de 200 mil potenciais colaboradores se inscreveram nos três aplicativos. “Esperamos que o Community Notes seja menos tendencioso do que o programa de verificação de fatos de terceiros, porque permite que mais pessoas com mais perspectivas adicionem contexto às postagens”. Quem avisa?

  • Novo relatório da WAN-IFRA destaca as disparidades na representação de gênero em funções de liderança na mídia em países da África, Região Árabe e Sudeste Asiático. Os dados mostram que as mulheres agora ocupam 24% dos cargos de liderança, uma melhoria em relação aos 21% de 2022. “No entanto, o caminho para a paridade de gênero continua longo e desigual”, diz o relatório.

  • Almar Latour, CEO do Dow Jones e editor do Wall Street Journal: “O futuro do jornalismo passa pela oferta de conteúdo exclusivo e de alto valor agregado, ao mesmo tempo em que se estabelecem regras claras com as grandes plataformas tecnológicas e ferramentas de inteligência artificial”. (LV)


💎 Como convencer negacionistas de que o aquecimento global é uma realidade? Aquecimento global é um fato, a gente sabe. Sabemos também que trata-se de um fenômeno causado pela humanidade. Mas há quem não acredite em nada disso. E um dos desafios do jornalismo é fazer essa galera entender que a situação é grave. Este estudo publicado na Journalism pelos pesquisadores Esther Thorson, Renita Coleman, Samuel M. Tham e Adam Glenn testou a seguinte hipótese: será que a aceitação é maior entre os negacionistas se mudarmos o enquadramento das notícias sobre o tema? Apoiadores seguem com a gente.

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