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NFJ#510 🍂 Jornalismo zero

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Novo relatório investiga a relação entre jornalismo e IA | Dois textos didáticos sobre direitos humanos e liberdade de expressão | Trump x NPR | O desafio das TVs produzirem vídeos verticais

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Moreno Cruz Osório
,
Lívia Vieira
, and
Giuliander Carpes
May 30, 2025
∙ Paid
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NFJ#510 🍂 Jornalismo zero
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Boa tarde!

Moreno aqui, num dia ensolarado e frio em Porto Alegre, en la mitad de la carretera.

Tantas encrucijadas quedan detrás / Ya está en el aire girando mi moneda / Y que sea lo que / Sea

Aquilo que vocês já sabem: eu (MO), Lívia (LV) e Giuliander (GC) assinamos os tópicos.

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Semana passada, na NFJ…

NFJ#509 🍂 30 anos de jornalismo digital: onde estamos e para onde vamos?

NFJ#509 🍂 30 anos de jornalismo digital: onde estamos e para onde vamos?

Moreno Cruz Osório, Lívia Vieira, and Giuliander Carpes
·
May 23
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Nosso agradecimento de <3 vai para:
Adriana Martorano Vieira, Alexandre Galante, Amaralina Machado Rodrigues Xavier, André Caramante, Andrei Rossetto, Ben Hur Demeneck, Bernardete Melo de Cruz, Bibiana Osório, Bruno Souza de Araujo, Diogo Rodrigues Pinheiro, Edimilson do Amaral Donini, Fabiana Moraes, FêCris Vasconcellos, Filipe Techera, Gabriela Favre, Guilherme Nagamine, João Vicente Ribas, Marcela Duarte, Marco Túlio Pires, Mateus Netzel, Monica de Sousa França, Nadia Leal, Pedro Luiz da Silveira Osório, Priscila dos Santos Pacheco, Rafael Paes Henriques, Roberto Nogueira Gerosa, Roberto Villar Belmonte, Rodrigo Ghedin, Rodrigo Muzell, Rogerio Christofoletti Rosental C Alves, Sérgio Lüdtke, Silvio Sodré, Taís Seibt, Vinicius Luiz Tondolo, Vitor Hugo Brandalise, Washington José de Souza Filho.
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🍂 Direitos humanos e liberdade de expressão. São dois temas fundamentais para o jornalismo, mas muitas vezes a sua conexão com a nossa prática profissional não é evidente – especialmente para estudantes de graduação. Não basta chegar em uma sala de aula dizendo apenas que o jornalismo é pilar da democracia e precisa defender os direitos humanos. Os alunos podem se perguntar: por quê? É preciso um certo raciocínio para entender o que são, afinal, os direitos humanos e qual o papel do jornalismo ao abordá-los (ou defendê-los). Nos últimos dias rolaram dois textos muito úteis para percorrermos rapidamente o caminho entre um conceito e outro. Primeiro, em coluna publicada no Estadão e republicada pelo Observatório da Imprensa, Eugênio Bucci explica, com a clareza de quem tem anos de sala de aula, o que é liberdade de expressão e por que alguns atores sociais não têm direito a ela. Bucci diz que liberdade de expressão é um direito da pessoa humana. Logo, corporações não são sujeitos de liberdade de expressão. “Não obstante, quase todos os dias, os maiores grupos econômicos do planeta se esmeram em manipular a opinião pública e depois alegam que fazem isso porque exercem o direito humano de se exprimir livremente”, escreveu, para em seguida emendar a crítica à big techs. Quando uma dessas empresas vai a público tentar convencer as pessoas de seu ponto de vista, não se trata de um cidadão fazendo o uso da palavra, e sim de uma grande corporação cometendo um abuso – um abuso de poder e tecnológico. “É preciso cuidado. Muitas vezes, estes que falam muito em nome da liberdade de expressão só querem abafar as vozes discordantes.” No segundo texto, a professora e pesquisadora Magali Moser explica no ObjETHOS por que, afinal, o jornalismo precisa defender os direitos humanos e ressalta a importância dos DH estarem presentes nos currículos das escolas de jornalismo do Brasil – tal como indica as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs), implantadas em 2013. Ela lembra que os direitos humanos são uma conquista histórica e ao mesmo tempo progressiva – seguem sendo produzidos, em etapas sucessivas, a partir de embates sociais e avanços políticos. Cabe ao jornalismo dar visibilidade às demandas sociais por dignidade e justiça (pilares da sociedades democráticas). Ora, se as sociedades democráticas preveem a igualdade de direitos entre seus cidadãos, ou seja, que todas as pessoas precisam ter certos direitos básicos (humanos) assegurados, e se o jornalismo é filho desta mesma democracia, cabe a ele fiscalizar se essa forma de organização social está cumprindo o seu objetivo mais essencial. “Os meios de comunicação têm um papel crucial não apenas ao divulgar as violações de direitos, mas também ao informar de maneira qualificada e educar o público sobre a importância desses direitos. A prática jornalística pode, assim, ser agente de difusão das ideias, ajudando a ampliar a conscientização sobre direitos e cidadania, além de atuar como vigilante dos abusos”, escreveu Moser. No final do artigo, a pesquisadora reflete sobre a melhor forma de falar sobre isso com as pessoas, sugerindo a emoção e a empatia como formas de convidar o público a se “identificar com seus sofrimentos, desejos e dilemas cotidianos” das vidas dos seus semelhantes. Mas sempre cuidando para não resvalar no sensacionalismo. Professores, fica a dica para trabalhar esses textos em sala de aula. (MO)


🍂 Trump x NPR. O clima está tenso entre a mídia pública dos EUA e o presidente Donald Trump. A rádio pública NPR decidiu processar o governo após uma ordem pública que proíbe o uso de fundos aprovados pelo Congresso para veículos como a NPR e a PBS. A medida não veio de surpresa. Trump vem batendo de frente com veículos há tempos, acusando-os de serem parciais e imprecisos. No comunicado, a NPR afirma que o decreto de Trump é um ataque à liberdade de imprensa e à própria democracia e afeta o acesso da população à informação pública, gratuita e de qualidade. Defendem também que o corte é inconstitucional, ferindo tanto a Primeira Emenda, que protege a liberdade de expressão, quanto outros princípios de acesso à informação pública. E mais: segundo a NPR, o decreto foi claramente motivado por vingança política, já que Trump nunca escondeu seu ódio pela mídia pública. Este texto do Nieman Lab afirma Trump é “um lobo sem pele de cordeiro”, pois nem sequer se preocupa mais em disfarçar os ataques à imprensa. Joshua Benton destaca que isso pode abrir um precedente perigosíssimo, não só nos EUA, mas em qualquer lugar onde governos autoritários queiram calar veículos independentes. Para entender o impacto do corte, esta matéria de O Globo lembra que rádios e TVs públicas não produzem apenas notícias. Elas transmitem cultura, educação e informação local - coisas que, muitas vezes, a mídia privada não cobre adequadamente. (LV)


🍂 Como emissoras de TVs estão aprendendo a produzir vídeos verticais. O avanço das plataformas digitais e a consolidação dos smartphones como principal meio de acesso à informação têm desafiado as emissoras de TV tradicionais a repensarem suas estratégias distribuição. Este artigo de Nevena Madžarević, fellow do Reuters Institute, mostra como as organizações estão aprendendo a produzir conteúdo em vídeo no formato vertical, adequado às dinâmicas de redes sociais como TikTok, Instagram e YouTube Shorts. Utilizando o conceito de “broadcast bilíngue” como metáfora para essa transformação, a autora afirma que as redações precisam manter a linguagem tradicional da televisão, ao mesmo tempo em que criam uma nova linguagem voltada para a audiência das redes sociais. Isso não se resume apenas à mudança de enquadramento ou formato, mas implica repensar a narrativa, a estética e o modo de engajar audiências.

Na prática, a produção de vídeos verticais exige abordagens específicas, desde roteiros mais ágeis até o uso de legendas, cortes rápidos, linguagem acessível e elementos gráficos que facilitem o consumo rápido da informação. Além disso, há uma preocupação em compreender como os algoritmos das plataformas impactam a distribuição e a visibilidade dos conteúdos jornalísticos. Tarefa difícil, diante da opacidade das plataformas, concordam? O relatório ainda mostra que as redações que estão investindo em equipes especializadas para produção de conteúdos digitais têm conseguido ampliar seu alcance, especialmente entre públicos mais jovens, que consomem informação majoritariamente nas redes sociais.

No entanto, essa transição não acontece sem desafios. Nevena Madžarević afirma que emissoras de TV precisam equilibrar a busca por engajamento com a manutenção dos princípios jornalísticos, evitando que o conteúdo seja superficial ou sensacionalista. Há também dilemas sobre monetização e sustentabilidade desse modelo de produção. O artigo conclui que as emissoras que não se adaptarem ao ambiente digital correm o risco de perder relevância. Por outro lado, aquelas que conseguem dominar essa nova linguagem multimodal – que combina vídeo vertical, interatividade e narrativa adaptada – estão mais bem posicionadas para manter sua influência no ecossistema de mídia contemporâneo (LV).


🍂 Lições para o jornalismo investigativo em crise. Semana passada, repórteres investigativos e editores europeus se reuniram em Londres para o Truth Tellers Summit 2025, evento que honrou o legado de Harry Evans, o já finado repórter que, entre outras coisas, revelou as anomalias que a talidomida causava em bebês no século passado. A GIJN publicou uma lista com lições tiradas do evento, que debateu o financiamento para a função mais nobre do jornalismo e também a resistência frente a governos cada vez mais autoritários:

  1. Para cobrir questões nos Estados Unidos, os jornalistas estão cada vez mais utilizando estratégias que antes eram aplicadas apenas em países notoriamente perigosos para esses profissionais, como Arábia Saudita e Filipinas (por exemplo, telefones descartáveis). Foi discutido se o jornalismo devia lutar ou se curvar diante do autoritarismo e os relatos são de que existem profissionais dentro da mesma organização tomando ambas posições e mesmo outros que defendem que o compromisso da imprensa é apenas com a audiência – e aí a ideia aqui seria dar um jeito de permanecer vivo e atuante;

  2. Os jornalistas investigativos estão assumindo cada vez mais riscos para conseguirem suas histórias. De um lado, existe um orgulho muito grande sobre essa coragem; de outro, uma enorme preocupação sobre esses perigos que, muitas vezes, acabam vitimando profissionais e até acabando com suas vidas;

  3. Os jornalistas reconhecem que as investigações são realmente caras, mas o valor para a sociedade e para as próprias organizações de imprensa que as financiam é imensurável;

  4. Técnicas modernas permitem que mesmo as chamadas “caixas pretas”, atividades encobertas, por exemplo, por paywalls como as assinaturas do OnlyFans, sejam investigadas;

  5. Engajar audiências com o jornalismo investigativo continua sendo um grande desafio. Um dos grandes paradoxos apontados no evento foi que o jornalismo hoje em dia consegue integrar cada vez mais formatos inovadores, porém isso não significa encontrar o interesse do público;

  6. Plataformas “alternativas” podem ser uma via. O Youtube, uma das mencionadas no evento, no entanto, dificilmente poderia ser considerada como tal;

  7. Muitas vezes, as melhores histórias simplesmente chegam ao jornalista investigativo sem que necessariamente ele vá ativamente atrás dela. Ele só precisa estar pronto. (GC)


🍂 Links diversos

  • Um britânico baixou, se logou e ativou as notificações de breaking news em 61 aplicativos de notícias. Através de um script, essas notificações têm sido catalogadas em tempo real num perfil do BlueSky onde é possível analisar as particularidades delas em relação a cada organização e também suas regiões de atuação (NiemanLab).

  • Uma pesquisa aponta que o BlueSky dobrou a quantidade de “influenciadores de notícias” na plataforma quatro meses depois do dia da última eleição americana, mas a quantidade deles que não tem X (ex-Twitter) segue baixa, enquanto quase metade ainda usa apenas a rede social comprada e bagunçada por Elon Musk (Pew Research Center);

  • Projeto transnacional “Até a Última Gota” investiga os impactos da exploração petrolífera no maior bioma tropical do planeta, a floresta amazônica. O trabalho resultou em seis reportagens (LatAm Journalism Review);

  • O IJNet publicou mais um guia com conselhos para os jornalistas administrarem estresse e burnout no trabalho. (GC)


💎 Jornalismo zero: como publishers e plataformas estão navegando pela IA. Semana passada saiu mais um daqueles importantes relatórios do Tow Center sobre a situação do jornalismo. Com o Journalism Zero, temos uma tetralogia da relação contemporânea entre a nossa profissão e a tecnologia – ou melhor, com as plataformas. Ela começa, vocês sabem, com o paradigmático Jornalismo pós-industrial, publicado no Brasil pela revista da ESPM. Isso foi em 2014. Depois, em 2017, saiu o Imprensa nas plataformas, que mostrou como o Vale do Silício remodelou o jornalismo. Era o ponto culminante da aposta do jornalismo na web social, quando todos acreditamos que os nossos problemas e desafios (envolvendo tecnologia, distribuição, monetização) seriam solucionados pelas big techs. Mas não, claro que não. Estávamos errados. Essa percepção foi documentada em 2019, com o relatório o Fim de uma era. De lá pra cá a relação só azedou. Nos últimos anos, aqueles que se diziam nossos BFFs não apenas nos deram as costas. As plataformas estão de mãos dadas com forças que querem destruir o jornalismo. Não bastasse o ambiente desfavorável, o cenário se complexifica com a entrada em campo de um ambiente de plataformas “anabolizadas”: chegamos à era da IA generativa. E mais uma vez estamos vivendo o dilema de como nos relacionar com essa força. O problema é que, assim como antes, essa relação é baseada em desigualdade enormes – política, técnica, econômica. É disso que trata o mais recente relatório do Tow Center. Nem de longe é uma situação simples. E como disse um executivo entrevistado por Peter Brown e Klaudia Jaźwińska, autores do estudo, “a indústria de notícias tende a não aprender muito bem com nossas experiências e erros passados”.

Nesta e nas próximas semanas vamos ler e analisar este relatório para os nossos apoiadores. O documento está estruturado em seis capítulos. Na introdução, Brown e Jaźwińska traçam o histórico da relação jornalismo – plataformas, mais ou menos como fiz nas linhas acima, mas, claro, de maneira mais completa. No capítulo 2, os autores contam como a IA gen começa a “deixar sua marca nas organizações de notícias”. Mas ao invés de se dedicar a cases ou nas mudanças de fluxo de trabalho, o foco está “nas atitudes dos entrevistados em relação à utilidade da IA ​​generativa”.

É este capítulo que analisaremos hoje. Apoiadores seguem conosco. (MO)

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