NFJ#359 ☀️ Indústria jornalística deve parar de dizer que melhorar a UX é muito difícil
Desdobramentos do caso Folha | Jornalismo e a Web3 | Ataques a jornalistas e ao jornalismo batem recorde em 2021 | A urgência da acessibilidade no jornalismo | Por que jornalistas devem aprender SEO
Buenas, moçada!
Moreno aqui, abrindo a última NFJ antes das nossas férias de verão. Em fevereiro estaremos de férias — como vem sendo praxe nos últimos anos. Voltaremos depois do carnaval, mais precisamente no dia 4 de março.
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Agora vamos nessa!
☀️ Predictions I. Em pleno 2022, já sabemos bem o quanto as questões técnicas interferem no jornalismo, né? Neste bloco e no próximo, selecionamos textos do especial do Nieman Lab que fazem importantes alertas sobre isso. Nikki Usher, professora na Universidade de Illinois, diz que as redações fracassam ao resolver problemas básicos de UX. Para ela, além de embaraçoso, isso é um exemplo “da incapacidade contínua dos meios de comunicação de perceber que os usuários precisam estar no centro de qualquer tipo de sucesso futuro, e construir a lealdade do seu público dá trabalho”. E ela cita um exemplo de problema comum e “imperdoável”: clicar em um link na rede social, ser levado para um site de notícias e não conseguir fazer o login. Ou seja, neste ano e nos próximos, a indústria jornalística tem que parar de dizer que correções de UX são muito difíceis. E sobre a possibilidade de pagar para ler uma única notícia? Segundo Brian Moritz, diretor na Universidade St. Bonaventure, 2022 é o ano em que publishers podem, vão e devem começar a oferecer passes diários para ler notícias/ reportagens. Ele explica que, ao invés de micropagamentos - cobrar um valor muito pequeno por notícia - as organizações podem dar aos leitores a opção de um passe de um dia. Por exemplo, US$1 dá acesso por 24 horas a todas as histórias em um site. “Como a maioria das redações já está rastreando endereços IP para fins tradicionais de paywall, a tecnologia já existe em grande escala”, argumenta. Por fim, Moritz afirma que, mesmo sendo a assinatura mensal mais vantajosa pro leitor em termos financeiros, tem sempre alguém que vai optar por pagar uma vez só. Assim como na era do jornal impresso, que nunca deixou de ser vendido em banca, com valor unitário. (LV)
☀️ Predictions II. Em 2022, o jornalismo vai abraçar a Web3. Essa é a previsão de Daniel Eilemberg, presidente de Conteúdo do Exile Content Studio. Mas o que isso significa? Ele dá exemplos: uma primeira página do NYT ou fotos históricas da AP sendo vendidas como NFTs, assinaturas de jornais online sendo tokenizadas, dando ao público uma participação no sucesso das organizações que apoiam. Ou ainda players digitais como BuzzFeed e Vox Media se tornando DAOs (Organização Autônoma Descentralizada). Pra tentar resumir, com a ajuda da Wikipedia: as DAOs possibilitam que colaboradores da organização mantenham controle em tempo real dos fundos investidos na empresa, e as regras de governança corporativa podem ser formalizadas e aplicadas automaticamente através de softwares conhecidos como contratos inteligentes, que são executados e validados por uma blockchain. “A capacidade de se organizar em torno de um objetivo comum ou conjunto de princípios e de arrecadar fundos dos membros em troca de um interesse financeiro em seu sucesso pode ser extremamente poderosa”, diz Eilemberg. Mas ele recomenda cautela, já que essas ferramentas podem aumentar a polarização, com indivíduos organizados em torno de ideologias. Neste outro texto, as Chicas Poderosas alertam: acessibilidade no jornalismo é urgente. Elas lembram que um recurso simples como a audiodescrição não está disponível nas principais organizações jornalísticas do mundo. “Devemos tirar vantagem das novas tecnologias em nome da inclusão”, argumentam. E acrescentam que, em 2021, a palavra “diversidade” foi abraçada no nível do discurso, mas ainda não indica mudanças estruturais dentro do jornalismo. (LV)
☀️ Desdobramentos do caso Folha. Semana passada, o Moreno mostrou a repercussão do artigo de Antonio Risério sobre “racismo negro”, publicado pela Folha, que culminou com uma carta crítica de jornalistas do veículo. O debate continuou semana adentro. No domingo, o ombudsman José Henrique Mariante abordou o que chamou de “inédita crise no jornal”, com críticas ao título do artigo e à publicação de outros pontos de vista sobre o assunto, que “gerou acusações de ter montado uma estratégia por audiência”. A escritora Marilene Felinto afirma que a “Folha envelheceu mal” e que o jornal precisa de negros em cargos de direção para ser capaz de enxergar o racismo. Em seu texto, chama atenção o segundo parágrafo, que tem uma crítica ao próprio fazer jornalístico no meio digital:
(E a esta altura, redigido aqui esse primeiro parágrafo, devem linká-lo à versão digital de artigo de algum racista pseudointelectual, para promover o homem, para manter a atmosfera de ringue midiático espetacular que... o quê? Que vende jornal? Por favor, não linkem meu texto a ninguém! Não estou respondendo a artigo de ninguém. Isso não passa de um texto metajornalístico.)
Não adiantou. Já no resumo, a Folha inseriu o link para o artigo de Risério. Além de endossar a carta dos profissionais, o professor Thiago Amparo criticou o “jornalismo reverso” do veículo: “Pergunto se o jornal publicaria anedotas de crimes por mulheres ou por LGBTs para desacreditar o crime de feminicídio ou o de LGBTfobia”. No Intercept, João Filho afirma que a “Folha lucra com debate falso sobre ‘racismo reverso’ em ano de revisão da lei de cotas pelo Congresso Nacional sob um governo racista” e, apesar das críticas internas, não pensa em mudar de rumo. Em sua tradicionalíssima coluna na Folha, Janio de Freitas afirma que a publicação do artigo pareceu-lhe correta e que “não houve intenção viciosa (...) porque o texto não oferecia o conveniente para tanto”. Ele acrescenta que a turbulência fez um bem incalculável ao jornalismo brasileiro: “o manifesto com cerca de 200 signatários da Folha, questionando os espaços dados a posições racistas e outras de semelhante indignidade, as escolhas de colaboradores de vezo antidemocrático, já é um marco (...). Os manifestantes vêm dizer que são jornalistas com vida, são gente, não são robôs. São pessoas, são jornalistas que querem jornalismo”. (LV)
☀️ Violência contra jornalistas. Ataques a jornalistas e ao jornalismo mantêm patamar elevado e somam 430 casos em 2021 (em 2020, foram 428). Essa é uma das principais conclusões do Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa – 2021, publicado na quinta pela Fenaj. Pelo segundo ano consecutivo, esse é o maior número desde que a série histórica começou a ser feita, na década de 1990. Segundo a presidente da Fenaj, Maria José Braga, isso “está claramente associado à ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência da República”. Sozinho, ele foi responsável por 147 casos (34,19% do total). Chama atenção o aumento dos casos de censura, que chegou a passar a descredibilização da imprensa, violência mais comum nos últimos relatórios. E ela foi concentrada: das 140 ocorrências de censura, 138 foram cometidas dentro da EBC. O relatório aponta ainda que o DF é recordista de casos no país e profissionais de TV são os mais agredidos. De acordo com o texto que apresenta os principais resultados, “a presidente da Fenaj diz que a entidade teme pelo aumento das violências em 2022, ano de eleição, e cobrou a agilização da tramitação pelo Congresso Nacional do projeto de lei de federalização da apuração dos crimes contra jornalistas, na tentativa de combater a violência que cresce ano a ano”.
☀️ Links diversos. Um mix do que vimos essa semana: inscrições abertas até domingo para vaga de coordenador de projetos na Ajor. [Novo em Folha] | Os 30 maiores projetos de crowdfunding em jornalismo desde 2012 [Press Gazette]. | Como tirar o máximo proveito de videoconferências de imprensa. [Journalism.co.uk] | Interpretando dados: dicas para ter certeza de que você sabe ler números. [GIJN] | O que disseram as pesquisas sobre inovação jornalística em 2021 [blog do prof. Jose Avilés] | Quatro lições de um advogado que trabalhou duas décadas em redações. [Nieman Lab] | O que a Atlantic descobriu após dois anos estudando o que leitores e ouvintes precisam. [Nieman Lab] | Como a BBC conseguiu superar 20 milhões de seguidores no Instagram. [Clases de Periodismo] | Lições do jornalismo brasileiro na cobertura ambiental. [ijnet] | Por que jornalistas devem aprender SEO. [Journalism.co.uk]. (LV)
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