NFJ#362 ☀️ Festival 3i: a cobertura jornalística da Amazônia como centro do mundo
A morte de jornalistas na Ucrânia | A exaustão na cobertura de guerra | A desinformação de páginas de entretenimento | Relatório State of Journalism 2022 | Ajor lança podcast
Buenas, moçada!
Moreno aqui, abrindo mais uma news do Farol Jornalismo.
Enquanto em Porto Alegre o céu vai assumindo aquele azul que só o mês de abril nos proporciona (prestem atenção nos banners do topo da newsletter ao longo do mês), lá em Salvador, onde está a Lívia, segue o calor. Não que aqui não esteja. Mas pelo menos não tá mais aquele HORROR que fez nos meses mais CENTRAIS do verão. De qualquer modo, tô de braços abertos para o momento em que Porto Alegre nos oferece o seu melhor clima — o início do outono. Aliás, esta é a última edição da temporada de verão da NFJ. Na próxima semana começamos a temporada de outono. 🍂
A NFJ#362 tem textos meus e da Lívia, que assina o último bloco, este exclusivo para assinantes. Mas antes de começarmos, quero compartilhar uma notícia com vocês:
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Agora vamos nessa.
☀️ Guerra na Ucrânia. Mais de 20 dias após o início do conflito, o saldo é triste também para o jornalismo: pelo menos cinco profissionais foram mortos e mais de 35 ficaram feridos. Perderam a vida o correspondente militar ucraniano Viktor Dudar, o operador de câmera ucraniano Yevhen Sakun, o jornalista americano Brent Renaud, além do cinegrafista Pierre Zakrzewski e da produtora Oleksandra Kuvshinova, da Fox News. O Nieman Lab prestou homenagem a Brent Renaud, que foi fellow da organização de Harvard. A jornalista Marina Ovsiannikova protestou contra a guerra em um telejornal russo, foi presa e depois libertada ao pagar uma multa. Segundo esta matéria de O Globo, ela rejeitou uma proposta de asilo feita pelo presidente francês, Emmanuel Macron. Vocês devem ter visto o vídeo impactante do repórter Yan Boechat, em meio a um bombardeio na Ucrânia. Nesta entrevista a Mauricio Stycer, Boechat destaca que “o objetivo de todo mundo que está aqui não é contar o que está acontecendo nos gabinetes, mas o que acontece na vida real, como impacta a vida das pessoas. Quem está aqui não quer escrever sobre as grandes estratégias do Putin; isso você pode fazer de Moscou ou de São Paulo, numa boa. Evito falar com quem tem poder. Quero falar com quem não tem poder”. A pressão é tão grande que Matthew Chance, um dos principais correspondentes da CNN na Ucrânia, anunciou uma pausa e vai voltar para o Reino Unido. “Estou tão cansado que mal consigo manter meus pensamentos juntos. Tem sido exaustivo”, disse, nesta matéria do WPost. Jornalistas mulheres que cobrem guerras estão atentas ao sofrimento das mulheres, afirma este texto da AP. O Reuters Institute entrevistou Alexey Kovalev, editor do site de notícias independente Meduza, que “pretende ser a única janela para o mundo dos russos”. O editor está reportando do exterior, devido à repressão de Putin à imprensa livre. Enquanto isso, organizações jornalísticas arrecadaram mais de US$ 4 milhões para os jornalistas ucranianos que estão cobrindo a guerra. Mais informações no Nieman Lab. O NYT lançou um canal Telegram para divulgar notícias sobre a guerra. E no GIJN, ferramentas para auxiliar jornalistas a investigar informações sobre a Rússia. (LV)
☀️ Desinformação. Páginas de entretenimento impulsionam imagens fora de contexto sobre guerra na Ucrânia no Facebook. Segundo este texto do Radar Aos Fatos, foram ao menos 188 mil interações em posts que usam imagens falsamente atribuídas ao conflito, volume que representa 46% do engajamento de toda a desinformação sobre a guerra. E vejam que complexo: falsas verificações de fatos estão sendo usadas para espalhar desinformação sobre a guerra. De acordo com o Nieman Lab, pesquisadores da Clemson University e da ProPublica identificaram mais de uma dúzia de vídeos que pretendem desmascarar falsificações sobre a Ucrânia aparentemente inexistentes. Nesta matéria para a Folha, Patrícia Campos Mello destaca que a Rússia, potência em desinformação, vive fracasso na tentativa de manipular a narrativa da guerra. “Considerada imbatível, a propaganda da Rússia não vem resistindo ao ativismo digital dos ucranianos e seu midiático presidente, Volodimir Zelenski, e à operação de desmascaramento preventivo empreendida por EUA, União Europeia e voluntários da comunidade de inteligência de dados abertos, que analisam imagens de satélite e informações públicas para detectar mentiras de Moscou”, afirma. Já o antropólogo Renato Pereira avalia que Putin está vencendo a guerra da comunicação “porque a invasão é a mensagem”. Em entrevista ao blog de Octavio Guedes, ele afirma que “esta guerra não opõe os antimodernos à criação ocidental de modernidade. A mensagem é 'eu não reconheço a ordem ocidental'". Pra fechar o bloco, Christian Perrone, do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro, pede mais transparência das plataformas em caso de guerra. Nesta entrevista ao Nexo, ele analisa como têm agido as empresas de redes sociais após a invasão da Ucrânia pela Rússia. (LV)
☀️ State of Journalism 2022. A plataforma de jornalismo e relações públicas Muck Rack lançou um relatório sobre a situação dos jornalistas em 2022. Foram entrevistados mais de 2,5 mil profissionais — a maioria (53%) está nos EUA, o restante está espalhado por outras regiões do globo, mas apenas 1% disse estar na América do Sul — e os resultados dão um bom panorama de como estão trabalhando os nossos colegas, especialmente lá do norte. O foco do estudo, é importante observar, é a relação entre jornalistas e assessorias de imprensa. Por isso há muitas questões sobre pautas (tamanho da pauta, quantas pautas recebem por dia, troca de emails com sugestões, etc). Alguns highlights da pesquisa:
Jornalistas cobrem, em média, 4 temas/editorias — ano passado eram 3;
64% trabalham full time como jornalistas; 19% são freelancers full time;
A maioria (41%) trabalha para veículos online mas que possuem uma edição impressa ou apenas online (33%);
A maioria disse criar conteúdo prioritariamente para publicar online; mas 74% disseram que também criam conteúdo para um meio secundário mensalmente, como newsletters (17%) e podcasts (15%);
77% usa Twitter como sua principal rede social;
Quem trabalha cobrindo moda e beleza e religião são mais otimistas em relação à profissão. Do outro lado estão os cobrem polícia e clima;
32% considera que a confiança da audiência está está maior na sua editoria de cobertura;
51% publicam 5 ou mais matérias por semana; e 50% recebem de 1 a 5 pautas por dia;
68% preferem receber sugestões de pauta com menos de 200 palavras.
Dá pra acessar os resultados na íntegra aqui. (MO)
☀️ Notícias do Festival 3i. Tá rolando do Festival 3i, vocês sabem. Começou na terça e vai até o dia 25 de março, sempre online. Deem uma olhada na programação. Como programação tá espalhada ao longo de 10 dias, dá bem para acompanhar — de casa, em meio ao trabalho, filhos, rotinas, etc — sem aquela correria (e ansiedade) de eventos cheios de coisas num mesmo dia. A abertura foi uma conversa de Natalia Viana, presidente da Ajor, com o jornalista Jon Lee Anderson. Em sua fala, Anderson alertou para a magnitude do conflito entre Rússia e Ucrânia e disse que, para cobrir uma guerra não basta tirar fotos e fazer vídeos para o TikTok. “É preciso reportagem. Além de aprender as capacidades básicas de contar uma história e do ofício do jornalismo, é preciso saber como fazer uma reportagem”. Na quarta, Rosental Alves, Alison Bethel McKenzie e Janine Warner debateram os avanços e desafios para a mídia independente. Warner falou sobre o diretório da Sembra Media e contou a história e as características de alguns dos veículos que fazem parte dele — especialmente no que diz respeito à sustentabilidade financeira. E ontem foi a vez de Eliane Brum falar sobre a Amazônia, sobre o seu livro mais recente, Banzeiro òkòtó, uma viagem à Amazônia Centro do Mundo, e sobre como o jornalismo deve encarar a cobertura da ambiental e climática. Para Brum, a Amazônia deve ser vista não apenas como um espaço geopolítico. "Reivindicar a legítima centralidade da Amazônia significa demandar a legitimidade da centralidade dos enclaves da natureza [...] porque é deles [dos biomas], e da geração de pensamento que vem desses biomas, dos povos que se mantiveram como natureza, que a gente pode ser capaz de enfrentar o colapso climático e a extinção em massa como espécie", afirmou. A programação de quinta ainda teve uma mesa sobre redes sociais e eleições. Tatiana Farah, da Abraji, citou o relatório sobre violência de gênero produzido pela associação (NFJ#361). "Me chamou a atenção um ponto do relatório que diz que os agressores não só escolhem a gente porque somos mulheres, [...] eles nos escolhem porque, infelizmente, a nossa palavra ainda vale menos que a do homem". Jamile Santana completou: "Parece que a violência cobre qualquer perfil de mulher. Se você é mulher, você já está numa vitrine pronta para ser atacada". O evento segue hoje e no final de semana. E ainda dá pra se inscrever — é de graça! A cobertura do evento está sendo feita por estudantes de jornalismo e pode ser conferida aqui e na hashtag #FocaNo3i. (MO)
☀️ Links diversos. A GIJN anunciou que sua conferência global só vai acontecer em 2023. | As melhores ferramentas para fazer mapas. | Dicas para saber qual a melhor duração para vídeos de redes sociais. | Coletivo de Mulheres Jornalistas do DF realiza pesquisa sobre assédio. | O Master em Produção Jornalística e Audiovisual da Universidade da Coruña está com inscrições abertas e tem bolsas para iberoamericanos. | A Pública vai organizar uma série de eventos para debater as eleições deste ano. | A Ajor lançou o podcast Como Cobrir. No primeiro episódio tem dicas sobre como cobrir ciência. | O pesquisador do Instituto Reuters Luiz Teixeira está produzindo um artigo sobre diversidade nas redações brasileiras. Dá pra participar do levantamento preenchendo este forumulário. | O Instagram está com vaga aberta para gerente de políticas de comunicação. (MO)
☀️ 💎 Concatenações teóricas. Este bloco é exclusivo para subscribers. Se você é assinante da versão free, a edição termina aqui. Mas fique tranquilo, você sempre terá acesso à grande parte da NFJ. Mas que tal acompanhar nossas reflexões sobre jornalismo? Cliquem no link abaixo e juntem-se a nós em pequenas análises semanais!