Buenas, moçada!

Antes de qualquer coisa, as boas-vindas da NFJ para os novos assinantes que chegaram na última semana. Somos uma newsletter sobre jornalismo que desde 2014 acompanha os movimentos da profissão, no Brasil e no mundo. 👋🏼

Moreno aqui, derretendo no verão porto-alegrense. Mas quase de férias! A partir da semana que vem estarei em alguma praia do sul do Brasil acordando cedinho para dar umas braçadas no mar antes do café da manhã. Sim, esse é um dos meus ideiais de férias — e de vida. Mas também tem churrasco e cerveja. Cochilo depois do almoço (se, Santiago, meu filho, permitir, claro). E talvez até uma caipira. 🍹

Torçam para não chover.

Lívia, claro, também vai tirar umas férias. Que talvez sejam emendadas com uma licença maternidade, pois Diego está chegando! E como ela tá na Bahia, praia é rotina e o sol é garantido.

Tudo isso pra dizer que a NFJ para agora e só volta em março. No dia 4, precisamente.

Mas eu, Moreno, volto antes, dia 17/2, na Mirante. Vocês conhecem a Mirante, newsletter da plataforma Headline que entrega, toda sexta-feira, o que de melhor o jornalismo independente brasileiro publicou ao longo da semana. A edição desta sexta já foi enviada e pode ser acessada aqui. Se quiserem recebê-la, a partir da semana que vem, venham aqui. Aliás, nos dias em que eu estiver fora quem vai comandar a Mirante é nada menos do que Gaía Passarelli, referência nacional em newsletters e autora da Tá Todo Mundo Tentando, que, obviamente, eu também indico muito.

Falar em indicar, perdão pela autopromoção, mas preciso indicar o curso de especialização em Comunicação Política oferecido pela PUC-RS. Eu estarei à frente da disciplina de Comunicação Digital. As aulas serão síncronas por Zoom — ou seja, dá pra fazer o curso de qualquer lugar do mundo — e começam em março.

Quem vamos?

Antes de começar, mais uma dica ótima dos nossos parceiros da ServerDo.in. Essa é pra quem está começando o seu site de notícias: quatro dicas para reter anunciantes.

Agora sim. Bora.

MO pra mim. LV pra Lívia.

☀️ Ainda a foto de Gabriela Biló. Vocês acompanharam as discussões sobre a foto de Gabriela Biló que estampou a capa da Folha de S.Paulo na quinta passada. Se por acaso não, sugiro a leitura da compilação que fizemos na edição passada da NFJ.

Bom, como era de se esperar, a discussão seguiu viva. Se nas horas imediatamente posteriores à publicação houve um certo equilíbrio entre posições favoráveis e contrárias — e aqui me refiro a opiniões embasadas de profissionais e pesquisadores da área —, nos dias subsequentes o que prevaleceu foi um viés crítico. A começar pela coluna do ombudsman do jornal, José Henrique Mariante, publicada no domingo. Embora a multiexposição seja um recurso utilizado em fotos de esportes e de eclipses, escreve Mariante, nesses casos fica evidente, para o leitor, que a imagem foi trabalhada. Não é o caso da fotografia da Biló. Leiam um trecho da coluna:

"Para um jornal tão cioso de padrões e fundamentos, que não se permite chamar golpistas de terroristas antes da devida apuração, por exemplo, tal leitura de seu próprio livro de regras soa conveniente."

Mariante também cobra uma abertura do jornal para o diálogo, inclusive com seus leitores — já que apenas a fotógrafa falou, mas não foi só dela a decisão de publicar a foto, ainda mais na capa. Por fim, termina seu texto assim: "Fotojornalismo pode até virar arte, mas nunca dúvida." Preciso.

Ainda na Folha, leiam o artigo de Luara Calvi Anic, jornalista e pesquisadora de fotografia contemporânea. No título do texto, ela pergunta: "Um fato que não existiu é a melhor escolha para a capa do jornal?" O trecho abaixo vem logo após uma breve explicação que Anic faz a respeito da subjetividade inerente ao ato fotográfico. Leiam:

"Isso não quer dizer, no entanto, que a busca pelos fatos não deva estar sempre na mira do fotojornalista, de quem escolhe as fotos para a capa do jornal, daquele que escreve a legenda. Até porque, mesmo que a fotografia não seja a prova definitiva da verdade, ela ainda é usada como tal."

Seguimos com este texto de Wilson Gomes, professor da UFBA, para a revista Cult. Depois de recuperar a polêmica e dividir a discussão entre o uso da técnica de multiexposição no jornalismo e a interpretação do que a foto sugere — e a consequente posição política da Folha, Gomes critica justamente quem denunciou o ataque simbólico sofrido pelo presidente como a única leitura possível da imagem. Leiam um trechinho:

“Sequer se admitiu a fotografia como uma obra aberta e que uma outra interpretação está igualmente autorizada pelos elementos da composição. Houve quem chegasse a declarar, peremptoriamente, mesmo confrontado com o fato empírico de que outras interpretações brotavam ao seu redor, que “essa foto não é polissêmica”. Não, no batalhão de ataque só uma interpretação é possível e a tese sustentada pela fotografia na capa da Folha é, no mínimo, um insulto, provavelmente uma incitação ao crime, certamente um exemplo de mau jornalismo e de fotojornalismo do mal.”

Agora vamos à Fabiana Moraes. Na sua coluna no The Intercept Brasil, a jornalista, professora e pesquisadora sublinha o papel do contexto na sua análise ao perguntar, parafraseando um áudio-meme: "Tu tava fora do Brasil, irmão?"

Ou seja, para Moraes, não tem como analisar a foto de Gabriela Biló na Folha de S.Paulo sem levar em consideração o fato de que vivemos em um país conflagrado onde não apenas há uma naturalização da agressão simbólica e narrativa contra líderes e pessoas de esquerda, mas também há, mais recentemente, uma violência real e brutal direcionada a um determinado tipo de posicionamento político. Em outras palavras: pessoas foram assassinadas por bolsonaristas simplesmente por declararem voto em Lula. É só inserir a foto nesse contexto, segundo Fabiana, que qualquer discussão sobre se a multiexposição é fotojornalismo ou não perde importância.

Tipo, as pessoas sendo mortas lá fora pela extrema direita, incentivadas por um discurso ultraviolento, e aí vem uma foto cuja uma das interpretações é justamente mais uma violência (um tiro!), agora direcionado ao recém empossado presidente da República, depois de ter sido eleito democraticamente, e a gente fica discutindo a hermenêutica da coisa, ou a relação entre jornalismo e arte?

Um trecho:

"Discorrer sobre se a imagem montada é arte ou não é válido e rende um ótimo samba, mas agora, agorinha mesmo, tem uma parcela das Forças Armadas, das polícias e do empresariado brasileiro de olho na cadeira de um presidente eleito democraticamente. E eles mostraram, no dia 8 de janeiro, na bomba instalada em um caminhão que deveria explodir em um aeroporto, nos ataques no dia da diplomação do chefe do Executivo, que não estão brincando. Vi muita gente simplesmente esquecer que os memes e a doidera verde e amarela também matam e espancam. Deve ser o mesmo pessoal que só descobriu a desigualdade social do país durante a pandemia. Sobre tudo isso, tenho apenas uma pergunta: tu tava fora do Brasil, irmão?"

(MO)

☀️ Novo governo, desinformação e regulação. O Ministério da Justiça apresentou a Lula uma proposta de medida provisória para responsabilizar as plataformas pela circulação de conteúdo antidemocrático nas redes sociais. Ainda há poucos detalhes sobre como o pacote será executado, observa o Núcleo. Esta matéria do Poder360 traz trechos da fala do ministro Flavio Dino durante a apresentação do "Pacote da Democracia", que, além da responsabilização das plataformas, abarca outros três eixos. A CBN tem um entenda. Como a proposta é interdisciplinar e foi apresentada ontem, nos próximos dias deveremos ver mais detalhes sobre o eixo da desinformação. Ainda sobre o novo governo, a EBC será comandada pelo jornalista Hélio Doyle, que, além de ser um dos fundadores do PT, teve passagens pela presidência do Sindicato dos Jornlaistas do DF e da Fenaj, e atualmente fazia parte da diretoria da ABI. O Nós, Mulheres da Periferia, conversou com a comunicadora comunitária Gizele Martins, que tem atuação no complexo de favelas da Maré, no Rio de Janeiro, sobre a escolha de Juscelino Filho, do União Brasil, para o ministério das Comunicações. Ela lamenta que Lula tenha deixado o cargo nas mãos da direita e diz que a escolha significará a não priorização de políticas públicas que incidam sobre a comunicação comunitária. "O nosso país, que se diz democrático, precisa garantir a democratização da comunicação, mas infelizmente estamos muito longe disso. Precisamos de um governo que garanta a comunicação comunitária como parte desse projeto político", disse. Pra fechar o bloco, confiram a entrevista que o professor Wilson Gomes deu ao Correio Braziliense. Ele avalia a violência do dia 8 como a ‘’apoteose de um movimento irracional, marcado pelo exibicionismo nas redes sociais’’. (MO)

Emboscada. Leiam esta reportagem de Vasconcelo Quadros na Pública sobre o caso de Alexandre Aprá, jornalista do Mato Grosso que seria alvo de uma armação que poderia "complicar a vida do governador bolsonarista Mauro Mendes". A matéria é longa e o caso é complexo. Mas vale a pena. Em resumo, o que a Pública fez foi localizar e ouvir um jornalista que se infiltrou na trama ao ser contratado pelo detetive que fora contratado para "investigar" Aprá. O detetive, por sua vez, teria sido contratado por pessoas próximas ao governador. Este, por sua vez, estaria insatisfeito com as reportagens desfavoráveis que Aprá vinha publicando em seu site, o Isso É Notícia, de Cuiabá. O interesse desse jornalista, denominado A.P., era, em princípio, jornalístico. Mas depois que ele descobriu a intenção de prejudicar Aprá, decidiu permanecer inserido na trama para conseguir ajudar o colega. A.P. gravou conversas com esse detetive e as repassou para a Pública (e para a polícia). De acordo com esses registros, "o plano era prendê-lo [Aprá] sob alegação de falso envolvimento com tráfico de drogas ou pedofilia", segundo escreveu Quadros. (MO)

☀️ Plágio no Estadão. Vocês devem lembrar. Em março do ano passado, o site Grande Prêmio, especializado na cobertura de automobilismo, acusou o Estadão de reproduzir sem autorização pelo menos 47 textos do portal. Victor Martins, diretor-executivo do GP, afirmou na época que o material teria sido plagiado pelo Estadão Conteúdo e repassado a cerca de 40 veículos de mídia. O Estadão afirmou ao Poder 360 que iria apurar o caso e afastou um funcionário. Esta semana, a Comissão de Ética do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo emitiu um parecer sobre o caso. De acordo com esta matéria do Grande Prêmio, a comissão afirmou que “a ocorrência de plágio é inequívoca e recorrente” e “trata-se de flagrante infração ao Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros”. Leiam um trecho do parecer da comissão: “O depoimento do editor, assim como o do repórter, deixa evidente, que a instituição não garantiu condições para que a equipe de trabalhadores pudesse cumprir etapas básicas do bom jornalismo: de um lado, a redução da equipe ao longo dos anos; de outro, a exigência da produção de cada vez mais conteúdo, em prazos reduzidos, resultando em profissionais acumulando funções, jornadas extenuantes, conteúdos publicados sem adequada checagem ou edição e produções de baixa qualidade”. Foram aplicadas três penalidades: impedimento definitivo de ingresso no quadro social do sindicato ao repórter autor do plágio, advertência ao editor da Agência Estado e advertência ao diretor de redação do Estadão. Neste fio no o Twitter, o editor Victor Martins afirma que “o GP move processo contra o Estadão pelo plágio de 47 matérias e pelas 901 reproduções em mais de 40 parceiros da citada instituição”. A pedido do Farol Jornalismo, o Estadão, por meio de sua área jurídica, se pronunciou sobre o caso:

“O Grupo Estado entende que o parecer da Comissão de Ética dos Jornalistas do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo está totalmente equivocado ao atribuir ao jornal a responsabilidade por uma infração ética perpetrada por um único jornalista, não condizente com os valores da empresa e inédita nos 148 anos de história do diário. Por essa razão a decisão será objeto de recurso perante a instância competente da Federação Nacional dos Jornalistas.”

(LV e MO)

☀️ Previsões IV. Bora pra última seleção de textos com análises sobre o jornalismo em 2023. Nossa fonte é o já tradicional Predictions for Journalism, do Nieman Lab. Para Mário García, professor da Universidade de Columbia, mais redações vão priorizar os dispositivos móveis este ano. A maioria da audiência navega verticalmente em seus smartphones, diz ele, esperando um envolvimento mais dinâmico com áudio e vídeo, não apenas fotos ou gráficos estáticos. Embora reconheça um progresso nesse sentido, García destaca que ainda é um desafio criar histórias para consumo móvel. Duas ações são importantes para essa mudança: reestruturar os gerenciadores de conteúdo e incorporar nativos digitais entre os que tomam decisões de conteúdo. Jaden Amos, editora de Audiência na Axios, prevê que mais repórteres criarão perfis no TikTok, como já acontece no Twitter, para explicar suas reportagens. “Devemos atender o público onde ele está e fornecer notícias de maneira fácil de entender — e hoje isso está no TikTok. As pessoas estão exigindo (e recebendo) cada vez mais acesso e transparência das figuras públicas, e isso se estenderá também aos jornalistas”, afirma. Pra fechar, o professor da Universidade de Utah Jacob Nelson afirma que, apesar de tudo, as pessoas ainda vão querer ser jornalistas. Ele argumenta que, embora o baixo salário, a desconfiança do público e a falta de estabilidade sejam uma realidade, as universidades dos EUA estão registrando um número consistente e crescente de matrículas em seus currículos de jornalismo. “Minha esperança é que os educadores de jornalismo atendam a essa demanda fazendo o que gostaríamos que mais jornalistas fizessem em suas redações: refletir honesta e abertamente sobre como temos feito nosso trabalho e fazer mudanças significativas para atender melhor o público”, afirma. (LV)

☀️ Links diversos. O Eficientes, veículo que dá voz às pessoas com deficiência, acaba de lançar o Carreiras Eficientes, um banco de currículos que conecta candidatos com deficiência a empresas com oportunidades de trabalho. | Acaba de nascer o Faria Lima Journal, portal de notícias econômicas e políticas. | O ICFJ e a Meta, com apoio da Ajor, anunciam a nova edição do programa de aceleração de negócios digitais, que quer contribuir com a melhoria nos modelos de negócios e com a sustentabilidade financeira de organizações de mídia brasileiras. Inscrições até 26 de fevereiro. | Esta matéria do UOL mostra o impacto do rombo da Americanas na indústria de mídia. A empresa é o oitavo maior anunciante do país. | No ijnet: Inscrições abertas até 9 de fevereiro para o concurso mundial de jornalismo One World Media Award | O WPost extinguiu 20 cargos e deixará de preencher outras 30 vagas, informa o Poder 360. Nesta reportagem para a New Yorker, Clare Malone questiona: “O que aconteceu com o Washington Post? Após uma década de crescimento, o jornal está demitindo funcionários e, segundo informações, estava prestes a perder dinheiro no ano passado”. | O NYT está agora no TikTok. O Nieman Lab analisa neste texto as primeiras publicações. A BBC News, que lançou sua conta na rede social em março do ano passado, tem 802 mil seguidores e elencou o TikTok como uma de suas principais prioridades para 2023. Leiam mais nesta matéria do PressGazette. | No Núcleo, mais de 10 jeitos de usar o ChatGPT para ajudar na rotina. Para saber mais sobre essa ferramenta de IA, leia a NFJ #403. | E vejam só: o BuzzFeed vai começar a usar o ChatGPT para escrever quizzes e outros conteúdos. Os investidores gostaram da ideia. (LV)

É isso, pessoal!

Bom final de semana e até MARÇO! Cuidem-se e se joguem no Carnaval — o que quer que isso signifique para cada um de vocês.

Paz ✌🏼

Moreno e Lívia

Nosso agradecimento de <3 vai para:

Adriana Martorano Vieira, André Caramante, André Roca, Andrei Rossetto, Antonio Napole, Ariane Camilo Pinheiro Alves, Barbara Nickel, Ben Hur Demeneck, Bernardete Melo de Cruz, Bibiana Osório, Caio Maia, Cristiane Lindemann, Daniel Sá Fortes Gullino de Faria, Davi Souza Monteiro de Barros, Diego Freitas Furtado, Diego Queijo, Edimilson do Amaral Donini, Elizabeth Belleza Cortes, FêCris Vasconcellos, Filipe Techera, Gabriela Favre, Guilherme Nagamine, João Vicente Ribas, Jonas Gonçalves da Silva, Luiza Bandeira, Marcela Duarte, Marco Túlio Pires, Mateus Marcel Netzel, Nadia Leal, Pedro Luiz da Silveira Osório, Priscila dos Santos Pacheco, Rafael Paes Henriques, Regina Bochicchio, Roberto Nogueira Gerosa, Roberto Villar Belmonte, Rodrigo Ghedin, Rodrigo Muzell, Rogerio Christofoletti, Roogério Lauback, Samanta Dias do Carmo, Sérgio Lüdtke, Sérgio Spagnuolo, Silvio Sodré, Suzana Oliveira Barbosa, Sylvio Romero Corrêa da Costa, Tai Nalon, Tais Seibt, Vinicius Luiz Tondolo, Washington José de Souza Filho.

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NFJ#405 ☀️ "Tu tava fora do Brasil, irmão?"