NFJ#479 ❄️ O futuro do jornalismo não é tão sombrio
Banalização de ataques a jornalistas marca início da campanha eleitoral | O que fazer quando um candidato não quer conversa? | Quando o ChatGPT atrasa a nossa vida | O ilusionismo em relação à IA
E aí, galera!
Moreno aqui, debaixo de fumaça.
Ó, venho comentando em edições recentes sobre a retomada do conteúdo exclusivo para os nossos apoiadores aqui no Substack e também no Apoia-se. Hoje temos duas análises atrás do bloco diamante (💎).
Na primeira, a Lívia apresenta os principais resultados de um relatório do Poynter sobre o futuro do jornalismo. Um spoiler: a situação não é tão sombria. Um exemplo: todo mundo fala em fadiga de notícias (news avoiding), né? Verdade, mas tem um outro lado da história que ninguém presta a atenção.
Na segunda, Giuliander faz uma leitura do paper Conjuring algorithms: Understanding the tech industry as stage magicians (algo como “Conjurando algoritmos: entendendo a indústria de tecnologia como mágicos de palco”), publicado na revista New Media & Society no fim do mês passado. O argumento dos autores Peter Nagy e Gina Neff é de que estamos sendo iludidos por grandes e poderosas empresas que querem se livrar no escrutínio público.
Ficaram curiosos? Nosso diamante é lapidado à mão e custa muito pouco: R$ 5,50 por mês para ficar por dentro do que rola de realmente importante no jornalismo. Aproveitem enquanto o preço tá esse absurdo de barato.
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Hoje estamos eu (MO), a Lívia (LV) e o Giuliander (GC). Ah, e na semana passada estava conosco a Carolina Cerqueira (CC) – a Carolina é mestranda do PósCom/UFBA e repórter do jornal Correio, em Salvador. Ela escreveu sobre o Congresso da Jeduca, que rolou nos últimos dias 2 e 3. O CC até estava no fim do texto dela, mas eu esqueci de apresentá-la formalmente aqui no início da news. Perdão, Carolina!
Bora. Boa leitura e bom final de semana, moçada!
Nosso agradecimento de <3 vai para:
Adriana Martorano Vieira, Alexandre Galante, Amaralina Machado Rodrigues Xavier, André Caramante, Andrei Rossetto, Antonio Simões Menezes, Ariane Camilo Pinheiro Alves, Ben Hur Demeneck, Bernardete Melo de Cruz, Bibiana Osório, Bruno Souza de Araujo, Carlos Alberto Silva, Edimilson do Amaral Donini, FêCris Vasconcellos, Filipe Techera, Gabriela Favre, Guilherme Nagamine, João Vicente Ribas, Jonas Gonçalves da Silva, Marcela Duarte, Marco Túlio Pires, Milena Giacomini, Monica de Sousa França, Nadia Leal, Pedro Luiz da Silveira Osório, Priscila dos Santos Pacheco, Rafael Paes Henriques, Roberto Nogueira Gerosa, Roberto Villar Belmonte, Rodrigo Ghedin, Rodrigo Muzell, Rogerio Christofoletti, Rosental C Alves, Sérgio Lüdtke, Silvia Franz Marcuzzo, Silvio Sodré, Simone Cunha, Suzana Oliveira Barbosa, Sylvio Romero Corrêa da Costa, Taís Seibt, Vinicius Luiz Tondolo, Vitor Hugo Brandalise, Washington José de Souza Filho.
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❄️ Banalização de ataques a jornalistas marca início da campanha eleitoral. A corrida eleitoral começou pra valer, a cobertura também. E, claro, os ataques à imprensa. A Fenaj alertou para “um quadro de disseminação e banalização de ataques a jornalistas e meios de comunicação em todo o país” nas duas primeiras semanas de campanha. Entre os dias 15 e 28 de agosto, mais de 30 mil postagens ofensivas ou depreciativas à imprensa foram publicadas no X/Twitter. O levantamento é o primeiro relatório divulgado pela Coalizão em Defesa do Jornalismo (CDJor), iniciativa que vai monitorar X/Twitter e Instagram durante 12 semanas – até o segundo turno – buscando visibilizar a violência digital contra o jornalismo e seus profissionais. O segundo relatório, publicado ontem e que abrange o período entre 29 de agosto e 4 de setembro, observou uma diminuição no volume de postagens ofensivas devido ao bloqueio do X, mas o "padrão dos ataques a jornalistas e meios de comunicação se mantém". Andréa Sadi e a GloboNews são a jornalista e o veículo mais atacados, respectivamente. Ainda sobre violência, vocês sabem que o candidato à prefeitura de São Paulo Pablo Marçal esteve no Roda Viva na semana passada. Pedro Borges era um dos entrevistadores. O diretor de redação do Alma Preta registrou boletim de ocorrência depois de ter sido alvo de ataques racistas nas redes sociais após sua participação no programa. A Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo (Cojira -SP) e a Comissão Nacional de Jornalistas pela Igualdade Racial da Federação Nacional dos Jornalistas (Conajira-FENAJ) repudiaram o episódio. No Observatório da Imprensa, Francisco Fernandes Ladeira argumenta que a mídia ajudou a criar Pablo Marçal. Para Ladeira, embora “articulistas da mídia hegemônica” estejam se mostrando “perplexos com o radicalismo de Marçal”, ele lembra que “boa parte das fake news que o ex-coach diz tem origem nos próprios noticiários da grande mídia”. (MO)
❄️ O que fazer quando o candidato não está disposto a conversar? Confiram a provocação que a jornalista Fabiana Moraes faz, no podcast Pauta Pública, em relação à cobertura de políticos como Pablo Marçal. Ela argumenta que a maneira como o jornalismo costuma operar não funciona mais, e sugere que o campo repense o exercício da prática em tempos de simulacros de políticos (a apresentadora Clarissa Levy, aliás, observa que estamos revivendo as mesmas questões que enfrentamos durante a primeira (e a segunda) eleição de Bolsonaro). Vejam:
"Eu acho que a gente pode lidar com elementos da ficção que são importantes, a gente pode lidar com elementos da dramaturgia, do humor, do deboche. Não dá pra tratar a extrema direita a partir do cercadinho fazendo perguntas pra um comediante vestido de presidente e perguntar se ele tem uma proposta pro Brasil. […] é [preciso] repensar que tipo de pergunta se faz a um Milei com uma metralhadora em cima de um carro. Como eu, jornalista, faço uma pergunta para esse candidato? Esse candidato não tá interessado em conversar comigo. O momento é de aprendizado."
Além disso da reflexão proposta por Fabiana, negócio é ficar de olho em recursos e estratégias. O Comprova, por exemplo, lançou um pacote de recursos para apoiar os jornalistas envolvidos na cobertura das eleições: uma caixa de ferramentas, um manual sobre IA e consultorias gratuitas para quem precisar de ajuda para investigar conteúdos suspeitos ou falsos. Outro recurso útil nesse começo de cobertura é o Manual de Jornalismo Local, lançado pelo Projor em um evento online na semana passada. Na oportunidade, Francisco Belda, diretor de operações do Projor, afirmou que “o manual funciona como um guia norteador para o entendimento das questões críticas dos municípios e auxilia os profissionais envolvidos na cobertura das eleições e no entendimento das políticas públicas e da governança dos municípios”. E ainda vale dar uma olhada na cartilha que o TSE produziu para ajudar os jornalistas a endenterem o funcionamento do órgão. (MO)
❄️ Quando o ChatGPT atrasa a nossa vida. Atenção para o relato em primeira pessoa: vou fazer um concurso para professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (o Farol, infelizmente, ainda não paga as minhas contas). Embora a prova seja numa área que tenho afinidade, precisava saber se estou atualizado nas leituras. Qual foi a ideia revolucionária (risos) que eu tive? Pedir para o ChatGPT me ajudar na tarefa de indicar bibliografia relevante. Fiz o upload do edital do certame na ferramenta, caprichei no prompt e voilá: rapidamente o assistente pessoal me veio com uma lista de dois livros para cada um dos nove pontos do concurso. Legal, mas as sugestões eram todas de obras estrangeiras e a mais recente, de 2017. Pedi uma bibliografia mais atual. O conteúdo sugerido permanecia apenas em inglês – e só livros. Pedi também artigos científicos e recebi novas sugestões, todas na língua de Shakespeare again. Tudo bem, mas impossível não haver bibliografia relevante sobre o tema em português, né? Ajuda aí, ChatGPT. Não é que quando eu fui mais específico o danado me deu uma lista aparentemente muito rica de livros e artigos escritos por pesquisadores conhecidos da comunicação em português?! Textos de João Canavilhas, Marcos Palacios, Suzana Barbosa, Raquel Recuero, entre outros. Perfeito, pensei. Enquanto fechava o computador para voltar às tarefas de pai, mandei uma mensagem para minha esposa: "tô feliz por isso (o ChatGPT ter me ajudado) e puto por não ter dado o prompt (em português) antes. Perdi um tempão baixando coisas em inglês que talvez nem vá usar". Pois bem, no dia seguinte, fui atrás das obras em português sugeridas pela ferramenta da OpenAI. Digitei os nomes de algumas delas no Google: nada. Google Acadêmico: nada também. Perfil dos autores no Google Acadêmico: depois de conferir tudo que publicaram, zero ocorrências. Ué. Entrei nos sites das editoras e as obras não estavam lá. As livrarias mais populares da internet também não tinham os livros. Sim, Brasil, o ChatGPT INVENTOU uma lista de livros e artigos em português sobre os pontos do concurso! Uma lista absolutamente plausível com nomes de autores que eu reconhecia - embora os títulos (bem genéricos) fossem uma novidade (em princípio, boa) para mim. O problema é que só percebi a invenção (ou alucinação, como se convencionou chamar) depois de horas de checagem. Perdi um tempo valioso em que podia estar estudando. E fiquei particularmente irritado porque não sou assim de comprar fácil as ideias que as plataformas de IA vendem (ver bloco mais abaixo) – por exemplo, de ganhos enormes de eficiência. Minha auto-estima de expert em IA (risos de novo) também ficou arranhada. Esse tipo de erro, inclusive, até é bem conhecido: quando o usuário pede para o ChatGPT fazer uma pesquisa ampla em toda a internet, a chance de alucinação cresce bastante. Ele é bem mais confiável quando apresentado a bancos de dados menores. Mas como a ferramenta tinha feito um trabalho decente em me apresentar uma bibliografia real em inglês, acabei me iludindo. Por sugestão da minha colega Lívia Vieira, alertei o ChatGPT sobre o erro e mostrei minha insatisfação. Como um bom tio do zap, ele pediu desculpas e… INVENTOU outra lista. E, depois, outra. Um mentiroso incorrigível. Dessa vez, a experiência me custou caro (inclusive porque pago o ChatGPT Plus e o dólar tá cada vez mais alto. Já mencionei que tô me sentindo um completo otário?). (GC)
❄️ Notícias da indústria e links diversos. Para onde estão indo os jornalistas que estavam no X? [ijnet] | A ANJ se manifestou contra as restrições ao trabalho da imprensa diante da proibição do STF de acesso ao X mesmo por meio de VPNs, e da ameaça de multa a veículos que precisam monitorar o que ocorre dentro da plataforma. [ANJ] | “É hora de as redações irem além das pageviews”, defende a professora Adriana Lacy. [LinkedIn] | Quatro coisas para lembrar ao lançar assinaturas digitais.[The Fix] | Quer combater a desinformação? Ensine às pessoas como os algoritmos funcionam. [Nieman Lab] | A colaboração ajuda a manter o jornalismo independente vivo na Venezuela. [Nieman Lab] | Dicas para comunicar o impacto de sua produção jornalística. [RJI] | A.G. Sulzberger, publisher do New York Times, cita casos de silenciamento da imprensa por líderes em diversos países - incluindo o Brasil - para dizer que “a guerra silenciosa contra a liberdade de imprensa pode chegar à América”. [WPost] | Campanha de difamação contra a mídia intensifica ameaças à liberdade de imprensa na Hungria. [IPI] | Violência de gênero nas redações: estudo revela impunidade e falta de protocolos na América Latina. [LJR] | Inscrições abertas para o Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados 2024. [Portal dos Jornalistas]. (LV)
💎 OnPoynt: o futuro não é tão sombrio. A história do jornalismo e da indústria de notícias em declínio é incompleta e desatualizada. Há coisas novas surgindo e não estamos ouvindo o suficiente sobre elas. O novo relatório do Instituto Poynter coloca uma lupa nessa perspectiva, oferecendo “uma visão de futuro sobre o estado do jornalismo e da indústria de notícias que impulsiona a história, considerando tendências relacionadas a ideias criativas de produtos, estratégias de crescimento de audiência e receita, bem como iniciativas de inteligência artificial e inovação”. Em sua newsletter, Ismael Nafría afirma que o relatório do Poynter é otimista e ressalta aspectos positivos do setor. Eu diria que essa análise é um pouco simplista, pois não se trata de otimismo ou pessimismo. O que vocês acham?
Ao longo das próximas semanas, vamos destrinchar os 7 capítulos do relatório, aprofundando cada um deles para nossos assinantes pagos: Audiências, Confiança, Criadores, Notícias Locais, Produtos, Receita, IA e Inovações.
Hoje, vamos adiantar as conclusões do OnPoynt, que traz cinco lições importantes; e também explorar uma entrevista com Neil Brown, presidente do Poynter e líder do projeto. Na conversa com Tom Jones, Brown diz que o objetivo da pesquisa não é negar a realidade, mas ampliá-la. Além disso, chama os executivos de mídia à ação: “liderem mais, lamentem menos”. Seja nosso subscriber e continue a ler nossa análise sobre o relatório e, em seguida, a análise do Giuliander para o artigo Conjuring algorithms: Understanding the tech industry as stage magicians. (LV)
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