NFJ#480 ❄️ A newsletter de maior sucesso no Brasil
Uma indústria de trabalhadores desencantados, esforçados e ignorados | Projor lança indicadores de transparência | “Tão longe do Twitter, tão perto da LinkeDisney” | 💎Audiência, confiança e criadores
Hey!
Moreno aqui, novamente debaixo de fumaça, depois de um intervalo duns 3, 4 dias em que deu até pra ver o azul do céu. QUE LUXO, não é mesmo?
Hoje nossos apoiadores aqui no Substack e no Apoia-se (💎) seguem acompanhando nossa leitura do relatório OnPoynt, no Poynter. A Lívia demonstra como faz bem ao jornalismo atender a diversos públicos diferentes, e não apenas ser generalista; mostra que aquela história de fadiga de notícias não é bem assim; e ainda sugere que influenciadores podem ser nossos aliados. Bora nos apoiar para ler a análise?
Nosso diamante custa (por enquanto!) muito pouco: R$ 5,50 por mês para ficar por dentro do que rola de realmente importante no jornalismo.
Antes de começar, aprendam a monitorar grupos de WhatsApp para curadoria de notícias, no blog dos nossos parceiros da serverdo.in.
Hoje estamos eu (MO), a Lívia (LV) e o Giuliander (GC).
Bora. Boa leitura e bom final de semana!
Nosso agradecimento de <3 vai para:
Adriana Martorano Vieira, Alexandre Galante, Amaralina Machado Rodrigues Xavier, André Caramante, Andrei Rossetto, Antonio Simões Menezes, Ariane Camilo Pinheiro Alves, Ben Hur Demeneck, Bernardete Melo de Cruz, Bibiana Osório, Bruno Souza de Araujo, Carlos Alberto Silva, Edimilson do Amaral Donini, FêCris Vasconcellos, Filipe Techera, Gabriela Favre, Guilherme Nagamine, João Vicente Ribas, Jonas Gonçalves da Silva, Marcela Duarte, Marco Túlio Pires, Milena Giacomini, Monica de Sousa França, Nadia Leal, Pedro Luiz da Silveira Osório, Priscila dos Santos Pacheco, Rafael Paes Henriques, Roberto Nogueira Gerosa, Roberto Villar Belmonte, Rodrigo Ghedin, Rodrigo Muzell, Rogerio Christofoletti, Rosental C Alves, Sérgio Lüdtke, Silvia Franz Marcuzzo, Silvio Sodré, Simone Cunha, Suzana Oliveira Barbosa, Sylvio Romero Corrêa da Costa, Taís Seibt, Vinicius Luiz Tondolo, Vitor Hugo Brandalise, Washington José de Souza Filho.
Apoiadores +R$10 no Apoia-se, informem aqui a URL para inserir um link ativo no seu nome.
❄️ A newsletter de maior sucesso no Brasil. Matéria da Inbox Collective fala sobre o sucesso da brasileira The News, boletim diário que tem mais de dois milhões de assinantes, outras sete newsletters temáticas, uma equipe com mais de 30 pessoas e diferentes fontes de receita. Lançada em 2020, a The News galopou num gap de linguagem identificado pelos fundadores Hernane Ferreira Jr. e Bruno Costa. Lá no começo da pandemia, os dois perceberam uma oportunidade. Em mercado dominado pelas newsletters dos veículos tradicionais e iniciativas como o Meio, mantido por jornalistas experientes, Hernane e Bruno criaram um boletim com "informações sobre o que está acontecendo no mundo" com uma escrita "rápida e atual" e "uma abordagem mais moderna sobre como fornecer informações", segundo o texto do Inbox Collective. Somado ao estilo, apostaram em uma estratégia agressiva de crescimento. Leitores que indicavam a The News podiam ganhar desde canecas até iPads. A média de idade da equipe é de 26 anos, sendo que o mais velho tem 35. O time de conteúdo até tem alguns jornalistas, mas não é essencial ter formação na área. A habilidade mais importante é saber entregar conteúdo. “Gostamos de contar histórias de forma leve. Ser jornalista não muda isso, na nossa visão. Na verdade, nenhum dos fundadores é [jornalista]. Isso está de acordo com o nosso tom. Falamos a linguagem do leitor, não a linguagem do jornalismo tradicional”, disse Bruno Costa. Ouch. A cutucada no "jornalismo tradicional" não para por aí. Ao comentar a expansão do conteúdo para outras newsletters, Bruno falou que a audiência – formada por Millennials e Geração Z – começou a pedir por conteúdo que fosse inovador e de qualidade, mas que não tivesse a "chatice" do jornalismo tradicional. A The News é free, mas outros boletins são pagos. Como a The Jobs, newsletter sobre carreira cuja inscrição custa R$ 199 por ano. A recomendação de produtos é outra fonte de receita do Waffle Group – marca por trás da The News. Nos planos de expansão está o investimento em vídeo e áudio. Pra fechar, uma dica do chefe de marketing do Waffle, Eduardo Kaloustian, para os criadores de newsletters: "Seja qual for o assunto, o formato exige consistência. Comece e não pare. Dê tempo ao processo e preste atenção a cada um dos menores detalhes. Os detalhes importam". Ok, anotado. (MO)
❄️ Uma indústria de trabalhadores desencantados, esforçados e ignorados. Um dos mais citados pesquisadores em jornalismo da atualidade, Mark Deuze (Universidade de Amsterdã) tem publicado em seu LinkedIn alguns posts sobre o seu próximo livro, em reta final de produção, que trata sobre a saúde mental, o bem-estar e a felicidade dos profissionais que trabalham nas diversas indústrias da mídia. O último deles particularmente me pegou. Espero que não arruine seu final de semana. "A indústria da qual as pessoas escolhem fazer parte é a mesma que as deixa doentes", afirmou Deuze, que no post anterior havia feito piada com o fato de estar finalizando o trabalho em um raro domingo de sol em Amsterdã. O pesquisador disse que detesta ter de escrever algumas partes do livro como essa aqui: "a maioria dos profissionais responde (ao amor não correspondido pelo trabalho) se esforçando ainda mais para fazer as coisas funcionarem. O medo de perder oportunidades, de ser visto como causador de problemas, de perder um salário parece superar não apenas respostas eficazes — ele está sendo usado pelo setor para justificar e perpetuar sua indiferença. Isso é especialmente perceptível na tendência das empresas e firmas de mídia de não ver os problemas de seus trabalhadores como se fossem seus." Se é triste assim para o profissional que (ainda) tem um trabalho fixo (embora completamente instável), imagina para um freelancer, que precisa correr atrás de trabalho praticamente todo dia. Pensando neles, o IJNet publicou um texto com sete dicas para controlar a ansiedade. Em suma, são elas: enfrentar os próprios medos, estabelecer objetivos financeiros estratégicos e alcançáveis, focar no presente, escrever sempre, fazer parte de um grupo de apoio, ter uma rotina e fazer pausas. Boa sorte para a gente. (GC)
❄️ Projor lança indicadores de transparência. Nesta semana, o Projor – Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo anunciou uma iniciativa que visa melhorar o comprometimento do jornalismo brasileiro com a sua audiência, o Programa de Indicadores de Compromissos com o Público. São 11 indicadores que, ao serem adotados por veículos jornalísticos, oferecem uma transparência maior em relação ao funcionamento da organização, bem como sua postura editorial. Nesta primeira etapa, que vai até o fim de novembro, o objetivo é certificar 200 organizações mapeadas pelo Atlas da Notícia e afiliadas à AJOR, ANJ e Aner. Quem implementar ao menos 8 dos 11 indicadores receberá um selo com a inscrição "veículo comprometido com o público". Depois de novembro, a adesão estará aberta a qualquer veículo que quiser participar. Até lá, sugere o Projor, as organizações jornalísticas interessadas podem preparar os seus sites a partir das informações reunidas em um manual de boas práticas. O documento explica o que é cada indicador e sugere formas de aplicação.
Os 11 indicadores são os seguintes:
Expediente
Princípios editoriais
Política de correção de erros
Afiliação a associações setoriais do jornalismo
Acesso aos profissionais da Redação
Propriedade do veículo
Identificação clara de conteúdos patrocinados
Transparência de financiamento
Identificação de autoria
Política de privacidade
Acessibilidade
Fiquei curioso quanto ao indicador 8, transparência de financiamento. O manual diz o seguinte: “Em qualquer atividade econômica, inclusive a jornalística, quem ‘paga a conta’ tem o poder de influenciar o resultado final do produto ou serviço prestado. No caso do jornalismo, isso se refere ao conteúdo publicado. Logo, a transparência sobre as fontes de financiamento de um veículo jornalístico demonstra o seu nível de compromisso com a integridade noticiosa e independência editorial.” Em seguida, sugere que o veículo, em uma seção sobre financiamento disponível no site, descreva suas diferentes fontes de receita, como “publicidade, assinaturas, contribuições voluntárias de leitores, promoção de eventos”. Por fim, dá exemplos de veículos que já adotam a prática, dentre eles AzMina, Ponte e GZH. “Olha que interessante”, disse eu pra mim mesmo, “a GZH divulga suas fontes de financiamento”. Fui lá ver. E encontrei o seguinte: “Em 2019, cerca de 5% da verba de publicidade foi estatal e 95% teve origem privada”. Que detalhado! (Não vou nem comentar que a página não é atualizada há cinco anos.) O texto ainda diz que o GrupoRBS anuncia, em suas coberturas, quando há “potenciais conflitos de interesse”. Que estranho, nunca vi. Mas beleza, vou ficar de olho nas próximas matérias sobre urbanismo (via de regra elogiosas a mega empreendimentos) e sobre as discussões envolvendo o plano diretor de Porto Alegre, já que a mesma família que controla o jornal possui uma incorporadora – e tem, historicamente, várias outras entre seus anunciantes. Por isso, lindo mesmo seria ver de onde vem os 95% de verba publicitária privada e depois comparar com o tipo de cobertura que o grupo faz ou não faz. Nunca vai rolar. (MO)
❄️ “Tão longe do Twitter, tão perto da LinkeDisney”. E essa volta “involuntária” do X, hein? Esta matéria do G1 afirma que a rede ficou parcialmente acessível nesta quarta-feira devido a um problema técnico. Nada explicado com transparência, as usual. Em tom de crítica ao posicionamento da rede de Elon Musk no país, mais de 50 estudiosos das plataformas digitais e de seus impactos na economia assinaram uma carta exigindo respeito à soberania digital brasileira. “Exigimos que as Big Techs cessem suas tentativas de sabotar as iniciativas do Brasil voltadas para a construção de capacidades independentes em inteligência artificial, infraestrutura pública digital, governança de dados e serviços de nuvem”, diz o documento. Este texto de Gretel Khan no Reuters Institute ouviu editores do Núcleo, Agência Pública e Poder 360, para “medir a temperatura” da ausência do Twitter/X para o jornalismo. A matéria começa com uma contextualização importante: os mais de 21 milhões de usuários no Brasil representam uma das maiores bases da plataforma no mundo, embora o uso para notícias tenha diminuído nos últimos anos. De acordo com o Digital News Report 2024, o TikTok (14%) inclusive ultrapassou o X (9%) no uso para notícias. Os números do Núcleo – site que se dedica à cobertura das plataformas – seguem essa tendência: quando o site começou, em 2020, mais de 16% do tráfego vinha do X. Depois da compra por Musk, em 2022, o tráfego caiu mais da metade, para 8,6%. Quando houve o bloqueio, apenas 3% do tráfego vinha da plataforma. Sérgio Spagnuolo, diretor executivo do Núcleo, disse que já haviam tomado a decisão de sair do X e que iriam anunciar isso em setembro.
“Íamos dizer que o X não é mais uma boa plataforma para conversas, não alcança muitas pessoas, não gosta de links, tem muito conteúdo tóxico e não moderado e muitas mensagens radicais de direita. Íamos sair do Twitter para sempre ou até que melhorasse. No meio desse processo, o Twitter foi bloqueado”.
Natália Viana, cofundadora e editora da Agência Pùblica, afirma que o X já havia se tornado uma plataforma irrelevante pós-Elon Musk. Mateus Netzel, diretor executivo do Poder 360, explica que menos de 3% da audiência vem das redes sociais, com até 90% dos leitores chegando ao site diretamente ou por meio de pesquisa. Por isso, não houve impacto em termos de tráfego, mas ele reconhece que o X tinha relevância no debate público porque políticos e jornalistas estavam lá.
Com três vezes mais usuários que o X no Brasil, o LinkedIn tem uma lógica específica de funcionamento, que acabou criando uma cultura digital bem diferente da do Twitter. Esta matéria de Manu Barem na Piauí descreve muito bem os meandros da LinkeDisney – “apelido dado pelos brasileiros para criticar o comportamento de quem usa a plataforma como se vivesse em um mundo paralelo, com cenários coloridos e histórias de contos de fadas”. Barem conta que há um mercado específico em agências de relações públicas e assessorias de imprensa, e que também movimenta a vida dos jornalistas freelancers: os ghost-writers de C-levels – ou escritores fantasmas dos chefões, que ajudam executivos a construirem engajamento e conquistarem o selo “top voice”. Confesso a vocês que preferia o clima “fumódromo” do Twitter pré-Musk. (LV)
❄️ Notícias da indústria e links diversos. A Internet substitui a TV como a fonte de notícias mais popular do Reino Unido pela primeira vez (The Guardian) | The Economist oferece o Espresso, seu aplicativo de notícias diárias de formato curto, gratuito para estudantes em todo o mundo (The Economist Group) | O Texas Tribune está lançando uma rede de redações comunitárias para envolver mais texanos com informações locais confiáveis (The Texas Tribune) | LSE lança o The JournalismAI Innovation Challenge, novo programa de bolsas com a Google News Initiative (JournalismAI) | IA para jornalistas e redações: The Fix lança curso gratuito por email (The Fix) | Pesquisa mostra que ativismo, transparência e democracia impulsionam adoção de tecnologias no jornalismo de dados na América Latina (Latam Journalism Review) | Nova plataforma digital Boom pretende ‘sacudir as estruturas’ do jornalismo nas Américas (Latam Journalism Review) | Sete dicas para fazer reportagens em quadrinhos (Latam Journalism Review) | Período eleitoral expõe agressões à imprensa de apoiadores da extrema direita (Coalizão em Defesa do Jornalismo) | Inscrições abertas para o 1º Encontro Nacional de Mulheres Jornalistas (SinjorBA) | Jornalistas são trancados durante debate da cadeirada e confusão acaba em queda em escada e presença da PM (Terra) | Cadente, embora não estrela: uma reflexão sobre a cadeirada de Datena e o jornalismo (Come Ananás). | Eugênio Bucci, Tai Nalon e Érico Firmo serão recebidos no segundo webinar do Observatório da Imprensa. O tema é eleições municipais e desinformação. Vai ser no dia 24, terça, às 19h. Inscrições aqui. (GC)
💎 OnPoynt: audiência, confiança e criadores. Semana passada, começamos a destrinchar para nossos apoiadores o novo relatório do Instituto Poynter, que prevê um futuro não tão sombrio para o jornalismo. O argumento principal é que, para navegar no terreno escorregadio de crises, é imperativo que as redações se adaptem, inovem e redefinam seu valor. Mas como? É o que vamos contar a seguir, a partir da análise dos três primeiros capítulos do relatório, que exploram as questões sobre audiência, confiança e criadores. Três argumentos guiam os autores em cada capítulo:
O melhor jornalismo atende a muitos públicos diferentes – não apenas ao público em geral
A confiança nas organizações de mídia é maior do que você pensa
Influenciadores de alta qualidade dão energia à indústria de notícias
Na próxima semana, prosseguiremos com a discussão dos tópicos sobre notícias locais, produtos, receita, IA e inovações.
Seja nosso subscriber e não perca os detalhes do relatório. (LV)
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