NFJ#489 🌱 Quais são as características de um “newsinfluencer”?
Auditorias de conteúdo com o uso de IA | O sucesso digital dos principais jornais argentinos | Vai rolar um "Trump bump" 2? | Para colocar a diversidade em prática – e em rede
Oi, gente! Lívia aqui, na penúltima NFJ de novembro, com o ano quase no fim. E que ano! Daqui a pouco começam a surgir as previsões e projeções para o jornalismo em 2025 - o nosso especial “O Jornalismo no Brasil” está no forno. É também o momento perfeito de desacelerar um pouco, né? Esse é meu convite de hoje, inclusive. Leiam a NFJ no modo “tranquilo”, cliquem nos links para se aprofundarem nos assuntos que mais interessam. O modo “scanner” nos tira muita coisa.
No fim da newsletter há um diamante (💎). Hoje o tema da análise é influenciadores de notícias. Temos falado sobre a ascensão dos newsinfluencers em várias edições da NFJ e, como sugeri ali em cima, a ideia é parar para fazer perguntas básicas e profundas: como podemos conceituá-los? Analisando suas características, como ajudamos a explicar melhor sua atuação? Quais são as tensões que surgem desse novo fenômeno? Exclusivo para apoiadores aqui e no Apoia-se.
Hoje estamos eu (LV) e o Giuliander (GC). O Moreno ficou com a edição e publicação.
Bora!
Nosso agradecimento de <3 vai para:
Adriana Martorano Vieira, Alexandre Galante, Amaralina Machado Rodrigues Xavier, André Caramante, Andrei Rossetto, Antônio Laranjeira, Antonio Simões Menezes, Ariane Camilo Pinheiro Alves, Ben Hur Demeneck, Bernardete Melo de Cruz, Bibiana Osório, Bruno Souza de Araujo, Carlos Alberto Silva, Diogo Rodrigues Pinheiro, Edimilson do Amaral Donini, Fabiana Moraes, FêCris Vasconcellos, Filipe Techera, Gabriela Favre, Guilherme Nagamine, João Vicente Ribas, Jonas Gonçalves da Silva, Marcela Duarte, Marco Túlio Pires, Mateus Netzel, Milena Giacomini, Monica de Sousa França, Nadia Leal, Pedro Luiz da Silveira Osório, Priscila dos Santos Pacheco, Rafael Paes Henriques, Roberto Nogueira Gerosa, Roberto Villar Belmonte, Rodrigo Ghedin, Rodrigo Muzell, Rogerio Christofoletti, Rose Angélica do Nascimento, Rosental C Alves, Sérgio Lüdtke, Silvio Sodré, Suzana Oliveira Barbosa, Taís Seibt, Vinicius Luiz Tondolo, Vitor Hugo Brandalise, Washington José de Souza Filho.
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🌱 Auditorias de conteúdo com o uso de IA. Você já tinha ouvido falar de auditorias de conteúdo? Segundo o Generative AI in the Newsroom, trata-se de um processo de avaliação de todo o conteúdo produzido por um meio de comunicação em relação a um conjunto de métricas sobre a cobertura. “Isso pode incluir analisar o quanto você escreve sobre determinados lugares, quem você escolhe citar, quais outras fontes você vincula, dados demográficos dos seus autores e muito mais”, escreve Rahul Bhargava.
“Pode ser uma maneira útil de reforçar ativos, fazendo perguntas sobre lacunas ou padrões na cobertura e avaliando se as vozes da comunidade estão sendo representadas de forma justa ou se você está contribuindo para estereótipos locais. Ser transparente com os resultados ao publicá-los pode construir confiança e também orientar o planejamento editorial futuro.”
OK, argumentos bem convincentes (inclusive para pesquisadores). E muitos veículos americanos parece que pensam o mesmo: Philadelphia Inquirer e City NYC são dois exemplos recentes de publishers que realizaram auditorias de seus conteúdos – com o uso de inteligência artificial. Assim como eles, o pessoal do Scope Boston queria entender os lugares, temas e declarações contidos no material que produzem. Já existem soluções tecnológicas desenvolvidas para os dois primeiros itens sem a necessidade de IA, mas não para o terceiro, em que tiveram a ideia de colocar o ChatGPT pra jogo. “Para minha surpresa, o ChatGPT não inventou nenhuma citação ou fonte e acabou custando apenas cerca de US$ 6 no total (por meio de chamadas de API para seu modelo gpt-3.5-turbo)”, disse o autor do trabalho. Descobriram regiões bem mais frequentes na cobertura do que outras e que os temas mais comuns dos textos do jornal foram cultura, política e economia – o que faz sentido de acordo com a missão do veículo. Mas transportes e tecnologia quase não apareceram na cobertura, uma surpresa para os editores. A maioria das fontes era composta por mulheres e muito poucas se tratavam de políticos ou figuras públicas, algo que contraria os estudos gerais disponíveis sobre a cobertura de outros veículos. Resultados interessantes para ajudar a publicação a melhorar no caminho de cobrir as regiões de Boston de forma mais igualitária e não deixar em segundo plano assuntos importantes para os leitores. O autor do estudo, no entanto, considera esse uso do ChatGPT como uma última opção na ausência de outras ferramentas que não usam IA. Os motivos são conhecidos: os impactos do uso dessa tecnologia no consumo de energia, a questão da dependência em relação a plataformas terceiras e potenciais erros estatísticos que são difíceis de perceber, já que os LLMs são campeões em dar respostas plausíveis mas não necessariamente corretas. (GC)
🌱 O sucesso digital dos principais jornais argentinos. Clarín e La Nacion chamaram a atenção do Reuters Institute nessa semana e por bons motivos: contrariando os resultados das amplas pesquisas anuais do Digital News Report que mostram pouca vontade de pagar por notícias e em meio à contínua turbulência econômica do país, ambos alcançaram quantidades surpreendentes de assinantes. O primeiro afirma possuir 700 mil, enquanto o seu concorrente relata mais de 375 mil, superando grandes publicações ao redor do mundo – para se ter uma ideia, o francês Le Monde tem 500 mil assinantes, enquanto o espanhol El País, 300 mil. Segundo o estudo dos casos, o segredo para o sucesso das publicações argentinas está no uso de paywalls em que os leitores comuns têm um limite de matérias que podem acessar por mês – a quota varia de acordo com dados de audiência que as duas empresas conseguem coletar e analisar. Assinaturas flexíveis também estão no pacote. Há conteúdos exclusivos para os assinantes e benefícios para além do jornalismo com clubes de descontos semelhantes aos de alguns jornais brasileiros. Não ter medo de fazer experiências e produzir jornalismo de qualidade são os outros dois motivos importantes para a boa situação de Clarín e La Nacion, aponta o Reuters Institute. Apesar de reclamações dos leitores, ambos os jornais aumentam os preços das assinaturas de três a quatro vezes ao ano em resposta à crônica inflação argentina. Não sei vocês, mas não achei nada muito surpreendente no modelo dos jornais hermanos. O nível de confiança dos argentinos na imprensa é de apenas 30%, bem abaixo do já periclitante padrão brasileiro (43%). Confesso que eu li o texto até o final esperando encontrar alguma menção a um “Milei bump”, ou seja, a atribuição do salto no número de assinaturas digitais dos jornais à subida do polêmico político de extrema direita Javier Milei ao poder no país – fenômeno que ocorreu nos EUA durante o início do primeiro mandato de Donald Trump –, mas esse motivo não foi mencionado pelos editores e executivos dos dois jornais entrevistados pelo Reuters Institute. Blé. De qualquer forma, fica a lição de que talvez fazer bem o básico seja suficiente para construir uma base de assinantes sustentável. (GC)
🌱 Falando em Trump bump… Se aumentar a base de assinantes durante o próximo mandato do bilionário é a principal esperança dos jornais americanos para os próximos anos, eles podem colocar as barbas de molho. Segundo uma pesquisa da INMA, ainda é cedo para antecipar a ocorrência de um novo boom nas assinaturas digitais, apesar de alguns sinais positivos. A entidade afirma que o número de assinantes de publicações americanas realmente cresceu durante períodos de grande interesse por notícias como na época do primeiro governo de Trump, no começo da pandemia de covid-19 e no início da guerra na Ucrânia. Por outro lado, as assinaturas costumam aumentar durante e cair logo após o resultado final de torneios esportivos como a Olimpíada e a Copa do Mundo e campanhas eleitorais em que o candidato incumbente vence. “Desta vez, nos Estados Unidos, o incumbente perdeu. O novo presidente anunciou uma série de mudanças em políticas relacionadas à defesa, comércio, impostos, imigração e gastos do governo. Isso impactará milhões, tanto nos EUA quanto internacionalmente. Então, pode-se esperar vários picos na demanda”, escreve Greg Piechota, pesquisador-chefe da INMA. Porém, ah, porém, o autor lembra que, embora diversos veículos de notícias membros da entidade tenham relatado aumento de tráfego em seus sites durante a campanha eleitoral, a alta demanda por notícias não se converteu em mais assinantes. “No terceiro trimestre de 2024, as organizações de notícias americanas venderam em média apenas 71 assinaturas digitais para cada 1 milhão de usuários online, enquanto venderam 203 assinaturas quatro anos antes”, alerta Piechota. Os números do último trimestre do ano ainda vão demorar a chegar e ainda temos todo o início de 2025 para acompanhar. A imprensa já pode prever dificuldades para cobrir o segundo governo de Trump. Segundo texto do Nieman Lab, o Freedom of Informaction Act (FOIA), a Lei de Acesso à Informação (LAI) deles, não deve ser alterada, mas existe uma tendência de aumento das barreiras burocráticas ao processamento de pedidos. Normal para governos antidemocráticos. O Press Watch abordou a busca pelas melhores palavras para descrever as medidas do governo Trump. Muitos jornais, por exemplo, usaram a palavra unconventional (não convencional) para se referirem aos primeiros membros anunciados para a próxima administração – o que, segundo o blog, foi um grave eufemismo. Dan Froomkin classificou Matt Gaetz, Robert F. Kennedy Jr., Pete Hegseth, and Tulsi Gabbard como “agentes do caos, totalmente desqualificados, completamente inaptos” e não como “leais combatentes” ou “incendiários”, palavras muito utilizadas pela mídia tradicional. “Dois deles são teóricos da conspiração completos. Nenhum tem experiência em gestão. Três deles são predadores sexuais”, escreveu. Outro membro do governo Trump será Elon Musk, dono do X/Twitter. O reflexo disso é que mais organizações de imprensa anunciaram a saída da rede social e a migração para o BlueSky depois do Guardian. (GC)
🌱 Para colocar a diversidade em prática – e em rede. Esta matéria da LatAm Journalism Review dá um ótimo panorama sobre os esforços de conexão entre jornalistas negros e negras na América Latina. O exemplo mais recente é a Rede de Jornalistas Afro-Latinos, lançada em agosto. “Certos acontecimentos nos cruzam ao redor do mundo da mesma forma”, destaca Marcelle Chagas, coordenadora da Rede e também fundadora da Rede de Jornalistas Pretos pela Diversidade na Comunicação que, desde 2018, amplia a representatividade de jornalistas negros nos meios de comunicação brasileiros. Nosso país, aliás, é referência quando comparado com outros países da AL. Denise Mota, colunista da Folha e editora na AFP, afirma que alguns coletivos têm mais de 200 pessoas e que, por isso, temos “responsabilidade objetiva” frente a nossos vizinhos. Outra iniciativa brasileira para aumentar a diversidade no jornalismo é a TransMídia, primeira organização que cobre pautas trans no Brasil. Em entrevista à Abraji, o jornalista transmasculino Caê Vatiero explica que, além de ser um “lugar de afeto e sobre a importância de construir uma memória do que são as pessoas transexuais fazendo comunicação”, a iniciativa quer preencher uma lacuna. “Existe um olhar muito enviesado sobre a pauta trans. Os jornais só abordam a pauta quando é algo benéfico para si ou quando se trata de violência”, diz. Nos EUA, outra lacuna: estudo do Pew Research Center mostra que dois terços dos influenciadores de notícias são homens – e a maioria nunca trabalhou para uma organização de notícias. De acordo com esta matéria do Nieman Lab, a porcentagem de influenciadores de notícias homens foi maior no Facebook (67%) e no YouTube (68%) e a diferença de gênero foi menor no TikTok (50%). (LV)
🌱 Prêmio, guia e indicações de leitura.
A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) inscreve, até o próximo dia 29, no prêmio de jornalismo que reconhece reportagens sobre educação básica e ensino superior no Brasil.
Se você é um jornalista tímido, este guia vai te ajudar: o consultor Phil Clark criou um guia de networking para jornalistas introvertidos, com dicas para dominar os medos e desenvolver o hábito de fazer conexões.
Jogos de atualidade: diversos veículos jornalísticos têm quizzes com perguntas e respostas sobre notícias, e eles podem ser uma ferramenta eficaz de engajamento dos leitores.
Jornalismo no YouTube: vale ler esta reflexão do jornalista Ricardo Missão sobre as especificidades da plataforma, se comparada à TV. Uma delas? A audiência com poder de escolha.
Bastidores do Washington Post: para quem gosta de saber como funciona a indústria por dentro, esta matéria da New York Magazine conta como Jeff Bezos está interferindo no Post e as consequências disso na cultura da redação. (LV)
💎 Um mergulho conceitual em torno do “newsinfluencer”. Pesquisas recentes têm mostrado a ascensão dos influenciadores de notícias, vocês têm acompanhado. Vou citar apenas duas, das quais já falamos aqui na NFJ: O Digital News Report 2024, que sublinhou que “a grande mídia é significativamente desafiada por uma série de influenciadores, criadores e personalidades, bem como por meios de comunicação alternativos menores e pessoas comuns”; e também um estudo do Knight Center sobre criadores de conteúdo e jornalistas – e a redefinição das notícias. Nas Olimpíadas deste ano, vimos a força de influenciadores como Casemiro, da Cazé TV, fazendo frente aos grandes veículos de comunicação. Sem dúvida, trata-se de um “hot topic” que, por isso mesmo, merece uma investigação conceitual mais profunda.
É o que faz este artigo do pesquisador australiano Eduardo Hurcombe, publicado na Digital Journalism. Além de criar quatro dimensões que ajudam a explicar os newsinfluencers, ele analisa se as características ditas “autênticas” dos influenciadores de notícias podem ajudar o jornalismo ou se elas batem de frente com valores caros à nossa profissão. Bora fazer esse mergulho? (LV)
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