NFJ#507 🍂 Brasil sobe 19 posições em ranking de liberdade de imprensa
A situação global, no entanto, se deteriora, e alcança pior nível da história | Audiência está pessimista sobre o impacto da IA no jornalismo | Análise: 30 anos de jornalismo digital no Brasil
Bom dia!
Moreno aqui, numa sexta-feira chuvosa e gosmenta em Porto Alegre.
Dica para o final de semana: deletem as redes sociais, assinem newsletters e ouçam (e assistam ao) novo álbum de Natalia Lafourcade.
"Para brillar como el sol en la playa/ Necesito un poquito de calma/ Y andar ligera sobre la arena/ Sin maquillaje y sin equipaje/ Dejar a un lado los calendarios/ Las aerolíneas, redes sociales”
Roubei esse trecho da música Cocos en la Playa da obrigatória – para quem gosta de boa música (latino-americana) – newsletter Canciones para Despertar em Latinoamérica, do jornalista e amigo João Vicente Ribas.
Falando em newsletter, outro boletim obrigatório é a Tudo É Gênero, newsletter assinada pela jornalista Marcela Donini – uma das fundadoras desta newsletter aqui, aliás. Na edição de hoje, que chega apenas aos assinantes da Matinal Jornalismo, ela escreve sobre o silenciamento das ambivalências da maternidade.
“Assim que nasce um bebê, nasce uma mãe, é certo. Mas essa nova identidade vai sendo construída dia a dia, entre uma troca de fralda e outra, nos intervalos das mamadas, entre um plano abandonado e um novinho em folha, com o café frio sobre a mesa e o colo aquecido onde se aninha uma pequena criaturinha em formação.”
Duas newsletters para ler (três com a nossa), um álbum para ouvir. O que mais vocês precisam para o final de semana? Talvez dormir um pouco mais.
Aquilo que vocês já sabem: eu (MO), Lívia (LV) e Giuliander (GC) assinamos os tópicos.
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Nosso agradecimento de <3 vai para:
Adriana Martorano Vieira, Alexandre Galante, Amaralina Machado Rodrigues Xavier, André Caramante, Andrei Rossetto, Ariane Camilo Pinheiro Alves, Ben Hur Demeneck, Bernardete Melo de Cruz, Bibiana Osório, Bruno Souza de Araujo, Diogo Rodrigues Pinheiro, Edimilson do Amaral Donini, Fabiana Moraes, FêCris Vasconcellos, Filipe Techera, Gabriela Favre, Guilherme Nagamine, João Vicente Ribas, Jonas Gonçalves da Silva, Marcela Duarte, Marco Túlio Pires, Mateus Netzel, Milena Giacomini, Monica de Sousa França, Nadia Leal, Pedro Luiz da Silveira Osório, Priscila dos Santos Pacheco, Rafael Paes Henriques, Roberto Nogueira Gerosa, Roberto Villar Belmonte, Rodrigo Ghedin, Rodrigo Muzell, Rogerio Christofoletti Rosental C Alves, Sérgio Lüdtke, Silvio Sodré, Suzana Oliveira Barbosa, Taís Seibt, Vinicius Luiz Tondolo, Vitor Hugo Brandalise, Washington José de Souza Filho.
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🍂 Brasil sobe 19 posições em ranking de liberdade de imprensa. A Repórteres Sem Fronteiras (RSF) divulgou, no último dia 2, o Ranking Mundial da RSF 2025. O índice traz uma boa e uma má notícia – no caso, a boa é para nós, brasileiros. O Brasil subiu 19 posições desde o ano passado e 47 desde 2022, último ano do governo Bolsonaro. Estamos na 63º posição; em 2024, estávamos na 82º. “Essa evolução reflete a percepção de um clima menos hostil ao jornalismo e o país se destaca como um dos poucos a melhorar seu indicador econômico”, diz a análise da RSF. “O novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva traz de volta uma normalização das relações entre as organizações estatais e a imprensa, após o mandato de Jair Bolsonaro marcado por uma hostilidade permanente ao jornalismo. Mas a violência estrutural contra jornalistas, um cenário midiático marcado pela alta concentração privada e o peso da desinformação representam desafios significativos para o avanço da liberdade de imprensa no país”, segue o texto. Ao UOL, Artur Romeu, diretor da RSF na América Latina, acrescentou que “o governo atual tem colocado no centro da sua agenda o debate sobre integridade da informação e a preocupação com o caos desinformacional”. O indicador econômico citado na análise da RSF sobre o Brasil é um dos cinco que compõem a classificação dos países. O nosso subiu 2,61 pontos em um ano (44,68 em 2024; 47,29 neste ano). Mas vamos combinar que está mais para uma estabilidade do que para uma alta relevante. O texto da RSF, na real, é bem realista: a coisa segue bem mais ou menos.
“As transformações da última década no setor, sobretudo devido ao surgimento de grandes plataformas digitais e à redistribuição das receitas publicitárias, levaram ao fechamento de veículos de comunicação. Os grandes grupos de mídia estão tentando reinventar seus modelos econômicos diante da crise global da imprensa causada pela chegada das plataformas online. Estão também diversificando seus investimentos em muitos outros setores, aumentando o risco de conflitos de interesse e minando a já desgastada independência editorial. A imprensa local, por seu lado, está cada vez mais enfraquecida e os meios digitais independentes enfrentam problemas de viabilidade. As estações de rádio comunitárias sofrem um estrangulamento financeiro que põe em perigo a sua autonomia.”
A alteração maior, para o Brasil, foi no índice de segurança – mais de 15 pontos em um ano. Isso se deve, provavelmente à melhora do contexto político, já que, com a saída de Bolsonaro, os jornalistas deixaram de ser alvos oficiais do Estado, o que incentivava a violência social contra o jornalismo e seus profissionais. Ao falar sobre a questão da segurança, a RSF sublinha que o Brasil é o segundo país mais perigoso das Américas para jornalistas (o primeiro é o México), observa que a vulnerabilidade maior está na cobertura política em pequenos e médios municípios e que a violência e o assédio online seguem crescendo, especialmente contra as mulheres. Além disso, volta a citar o caso Dom Phillips, assassinado na Amazônia em 2022. (MO)
🍂 Liberdade de imprensa no pior nível da história. O Ranking Mundial da RSF chegou a 54,7, pontuação que coloca a liberdade de imprensa global em uma situação “difícil” – quando o ranking fica abaixo de 55 pontos – pela primeira vez na história. Em nível mundial, o índice Econômico caiu para 44,1, ante 46,4 do ano passado. O índicador Político teve uma queda parecida (47,3 em 2025; 49,2 em 2024), enquanto os outros três indicadores se mantiveram estáveis (Social, Legislativo e Segurança). Isso significa que a deterioração da liberdade de imprensa no mundo teve, do ano passado pra cá, dois fatores principais: perseguição política e pressão econômica. Como era de se esperar, os EUA tiveram um destaque negativo, caindo duas posições em relação a 2024. Sob o segundo mandato de Trump, o país perdeu 14 pontos em dois anos no índice econômico, com consequências especialmente para o jornalismo local. A Argentina, por sua vez, teve uma queda ainda maior. Nossos vizinhos caíram nada menos do que 21 posições, indo da 66º em 2024 para a 87º neste ano. Ambos ainda estão em situação “problemática” (assim como o Brasil), um pouco acima, portanto, da “difícil” média mundial. Pior do que isso só se o mundo chegar à situação “muito grave” – realidade de 23% dos países analisados pelo ranking. Menos de 4% (3,89%, pra ser preciso) dos países têm uma situação de liberdade de imprensa “boa”. São apenas 7 nações, todas europeias). Em 2024 eram 4,44% – uma queda de mais de meio ponto percentual em um ano. A coisa fica feia mesmo quando olhamos um pouco mais pra trás: em 2015, 11,67% dos países desfrutavam de uma “boa“ liberdade de imprensa. Naquele ano, a Finlândia ocupava o primeiro lugar do ranking, seguindo pela Noruega. Dez anos depois, a Noruega (92,31 pontos) assumiu a primeira posição, seguido pela Estônia (89,46 pontos). Completam o topo do ranking Holanda, Suécia, Finlândia, Dinamarca e Irlanda. E quem tá na lanterna? Eritreia. Há dois anos seguidos, inclusive. Mas o país africano conseguiu piorar a nota do ano passado pra cá (16,64 para 11,32). O país é uma ditadura desde 2001 e os únicos “meios de comunicação” permitidos são os controlados estado. “Muitos jornalistas definham nas prisões do regime, sem acesso à família ou a um advogado, alguns sem nunca terem sido julgados. Vários deles são os jornalistas presos sem julgamento há mais tempo no mundo”, diz o texto da RSF. (MO)
🍂 Audiência está pessimista sobre o impacto da IA no jornalismo. Incomoda-me ser com frequência o mensageiro de más notícias para o jornalismo e os jornalistas, mas lá vamos nós de novo. O Pew Research Center publicou esses dias um relatório a partir de pesquisa realizada com 5.410 americanos sobre o impacto da inteligência artificial nas notícias. E a real é que a audiência está tão ou até mais pessimista sobre o assunto do que os próprios jornalistas. Metade dos respondentes acredita que a IA terá um impacto muito (24%) ou relativamente (26%) negativo nas notícias que as pessoas recebem nos EUA nos próximos 20 anos. Apenas 10% afirmam que terá um efeito muito (2%) ou relativamente (8%) positivo.
A pesquisa também perguntou sobre o impacto da IA nos jornalistas e, para surpresa de ninguém, 59% responderam que haverá menos empregos para os profissionais das notícias nas próximas duas décadas. Apenas 5% afirmaram que ocorrerá geração de empregos no jornalismo e 17% disseram que a IA não fará muita diferença. Gostaria muito de estar nesse bonde. Segundo o pessoal que participou do estudo, o jornalismo está no grupo de profissões que devem ser mais afetadas pela expansão da inteligência artificial, assim como professores, músicos e engenheiros de software. As profissões que os americanos consideram menos vulneráveis à IA são advogados (23%), médicos (28%) e psicólogos (29%). Vai nessa.
Sobre a qualidade das notícias escritas por IA, 41% dos respondentes acham que a IA teria um desempenho pior na redação de notícias do que as pessoas. Já 19% acreditam no contrário. Outros 20% imaginam que a IA teria um desempenho semelhante. E 20% deram uma de Glória Pires e preferiram não opinar. Sei não, só eu fiquei surpreso com esse total de quase 40% das pessoas achando que a IA tem condições de fazer um trabalho tão bom ou melhor do que o nosso nas redações? Achei que esse número seria menor. E também acredito que a tendência é ele crescer conforme as pessoas vão se acostumando com a inteligência artificial – o que me parece contraditório nas respostas do estudo porque, se metade do pessoal que tem alguma opinião acha que a IA tem condições de fazer um trabalho no mínimo tão bom quanto o dos jornalistas, por que o seu impacto nas notícias seria negativo como pensa a maioria? Fica o questionamento. (GC)
🍂 Vencedores do Pulitzer 2025. Foram anunciados nesta semana os vencedores da maior honraria do jornalismo americano. O New York Times recebeu a maior quantidade de troféus (quatro, incluindo jornalismo explicativo, reportagem local em conjunto com o Baltimore Banner, fotografia de notícias de última hora e reportagem internacional). Esse último chamou particular atenção porque o jornal foi acusado recentemente de parcialidade na cobertura do conflito entre Israel e o Hamas que ocasionou a destruição quase total de Gaza. Vale lembrar que, segundo o Intercept, o NYT instruiu seus jornalistas a restringir o uso de termos como “genocídio” e “limpeza étnica” e a evitar o uso da expressão “território ocupado” ao se referir a terras palestinas. Um artigo acadêmico publicado no periódico Israel Affairs constatou uma série de erros e omissões e falta de transparência na cobertura. Segundo os autores do estudo, os problemas revelam uma pobre supervisão editorial. O Pulitzer vencido pelo jornal neste ano, no entanto, foi relacionado à “investigação reveladora do conflito no Sudão, incluindo reportagens sobre a influência estrangeira e o lucrativo comércio de ouro que o alimenta, e relatos forenses assustadores sobre as forças sudanesas responsáveis por atrocidades e fome”. A segunda colocada em número de estatuetas foi a revista New Yorker com três: comentário, fotografia de feature e reportagem em áudio. Talvez a categoria mais nobre do prêmio, reportagem investigativa foi vencida pela agência Reuters “por uma denúncia ousada sobre a regulamentação frouxa nos EUA e no exterior que torna o fentanil, uma das drogas mais mortais do mundo, barato e amplamente disponível para usuários nos Estados Unidos”. Vale a pena a leitura e observação dos trabalhos vencedores e os demais indicados. (GC)
🍂 Links diversos
A Abraji está com inscrições abertas para o 20º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, que acontece de 10 a 13 de julho, em São Paulo. Nesta edição, não haverá atividades pré-gravadas ou exclusivamente online, apenas transmissões de algumas mesas. E para celebrar os 20 anos do evento, serão homenageados, em conjunto, nomes já reconhecidos nas edições anteriores.
Mais um evento pra anotar na agenda: o Festival 3i 2025 - Jornalismo Inovador, Inspirador e Independente, que será realizado de 6 a 8 de junho, no Rio de Janeiro. Em pauta, a sustentabilidade do ecossistema e os melhores caminhos em busca do fomento ao jornalismo inovador. Os ingressos já estão à venda.
A partir de amanhã (10/5), estarão abertas as inscrições para a 47ª edição do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, um dos mais importantes e tradicionais do jornalismo brasileiro. Até 10 de junho, podem ser inscritos trabalhos produzidos entre 2023 e 2025, nas áreas de texto, foto, vídeo, áudio, arte, multimídia e livro-reportagem. Este ano, há uma categoria extra: Defesa da Democracia, criada para marcar os 50 anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog e destacar trabalhos que abordem a política nacional, os ataques ao Estado democrático de direito e a atuação das instituições brasileiras na proteção da democracia. Nesta categoria, dá pra se inscrever até 23 de setembro.
Jornalistas que atuam em veículos de imprensa ou como freelancers podem concorrer a bolsas de reportagem do edital Seleção Petrobras de Jornalismo, com foco em pautas sobre ciência e diversidade. Serão concedidas 15 bolsas, três para cada uma das cinco regiões do país, com o valor de R$ 20 mil cada. Inscrições somente até este domingo, dia 11.
E pra não dizer que não falamos do papa, vale ler este texto sobre o primeiro conclave papal do TikTok, publicado no The Cut, antes da fumaça branca. Um trecho: “Talvez o momento atual do conclave diga menos sobre a Igreja Católica do que sobre nossa relação coletiva com o mistério. Numa era em que tudo está disponível, analisado e arquivado, o conclave continua sendo uma das últimas verdadeiras caixas-pretas. Por mais que desejássemos, não há câmeras lá dentro, nenhum vazamento (em teoria) e nenhum influenciador ou comentarista narrando o momento em tempo real. E, no entanto, paradoxalmente, essa ausência de informação apenas intensifica o desejo da internet de preencher o vazio”. (LV)
💎 30 anos de jornalismo digital no Brasil (II). Semana passada, elencamos alguns marcos das últimas três décadas, a partir do capítulo “Digital journalism in Brazil: s history of diversity in products and research”, que integra o livro “Histories of Digital Journalism: The Interplay of Technology, Society and Culture” (Routledge, 2024). Assinado por Suzana Barbosa e Otávio Daros, o texto mostra como a tecnologia esteve atrelada à evolução do jornalismo digital, mas também sublinha as tranformações na cultura e nos modelos de negócio. Já resgatamos a origem dos primeiros sites jornalísticos e a emergência dos blogs. Hoje, concluímos com a convergência jornalística, tablets, podcasts, redes sociais, modelos de negócio e arranjos alternativos. Nossos apoiadores seguem conosco. (LV)
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