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NFJ#506 🍂 O editor existencial: notícias para humanos, por humanos

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Cem dias de Trump e a ameaça ao jornalismo | Liberdade de imprensa em baixa | Violência contra a mulher e o papel do jornalismo | A era do conteúdo líquido

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Moreno Cruz Osório
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May 02, 2025
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NFJ#506 🍂 O editor existencial: notícias para humanos, por humanos
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Bom dia, boa tarde.

Moreno aqui, entregando mais uma news na caixa de vocês.

Na semana em que o jornalismo digital completa 30 anos, a Lívia traz a primeira parte de uma análise de um artigo que traça uma linha do tempo com as principais transformações vividas pelo jornalismo nessas três décadas. Só para apoiadores.

Mas como a gente ama todos vocês, os outros cinco tópicos da news estão abertos. Falamos sobre Trump, liberdade de imprensa, o papel do jornalismo ao noticiar violência contra as mulheres e, claro, mais capítulos da nossa relação com a IA.

Para acessar nossas análises, apoie a gente :)

Aquilo que vocês já sabem: eu (MO), Lívia (LV) e Giuliander (GC) assinamos os tópicos.

Antes, no blog dos nossos parceiros da serverdo.in, saiba como medir o interesse real do leitor


Nosso agradecimento de <3 vai para:
Adriana Martorano Vieira, Alexandre Galante, Amaralina Machado Rodrigues Xavier, André Caramante, Andrei Rossetto, Ariane Camilo Pinheiro Alves, Ben Hur Demeneck, Bernardete Melo de Cruz, Bibiana Osório, Bruno Souza de Araujo, Diogo Rodrigues Pinheiro, Edimilson do Amaral Donini, Fabiana Moraes, FêCris Vasconcellos, Filipe Techera, Gabriela Favre, Guilherme Nagamine, João Vicente Ribas, Jonas Gonçalves da Silva, Marcela Duarte, Marco Túlio Pires, Mateus Netzel, Milena Giacomini, Monica de Sousa França, Nadia Leal, Pedro Luiz da Silveira Osório, Priscila dos Santos Pacheco, Rafael Paes Henriques, Roberto Nogueira Gerosa, Roberto Villar Belmonte, Rodrigo Ghedin, Rodrigo Muzell, Rogerio Christofoletti Rosental C Alves, Sérgio Lüdtke, Silvio Sodré, Suzana Oliveira Barbosa, Taís Seibt, Vinicius Luiz Tondolo, Vitor Hugo Brandalise, Washington José de Souza Filho.
Quer fazer parte dessa seleta lista? Apoie o Farol Jornalismo no Apoia-se ou escolha o plano Conselheiros, no Substack. Essas modalidades de apoio dão direito a informar uma URL para inserir um link ativo no seu nome.

🍂 100 dias de Trump e a liberdade de imprensa em risco. Esta semana, duas pesquisas importantes foram lançadas nos EUA. O relatório do Commitee to Protect Journalists, assinado por Katherine Jacobsen, é categórico ao dizer que “os primeiros 100 dias do governo Trump foram marcados por uma série de medidas que criaram um efeito inibidor e têm o potencial de restringir a liberdade de imprensa. Essas medidas ameaçam a disponibilidade de notícias independentes e baseadas em fatos”. Tenso, né? O Comitê notou um aumento significativo no número de redações que buscam aconselhamento, preocupadas com retaliação das autoridades. E por isso o relatório traça um panorama das políticas do governo Trump que afetam diretamente a liberdade de imprensa. Selecionei alguns achados:

  • Mudanças nos procedimentos que regem o acesso à Casa Branca e na composição do pool de imprensa têm o potencial de estabelecer um precedente já que, historicamente, presidentes norte-americanos não selecionam os veículos de comunicação que os cobrem mais de perto (falamos sobre isso na NFJ#499). No caso da Associated Press, sua exclusão de muitos eventos do pool priva seus milhares de assinantes de veículos de notícias.

  • Os principais veículos não sabem como reagir à pressão crescente da Casa Branca. Publishers e jornalistas estão diante da escolha de apaziguar o presidente ou correr o risco de perder o acesso a ele.

  • Críticos acreditam que a Comissão Federal de Comunicações e outras agências reguladoras têm se tornado cada vez mais politizadas. Embora seja comum um presidente nomear chefes de agências que simpatizem com suas opiniões, algumas das nomeações levantaram preocupações de que o governo Trump tenha levado isso a um novo patamar, o que um especialista descreveu ao CPJ como "Nixon sob efeito de esteroides".

  • A investida da Casa Branca de privar as emissoras públicas NPR e PBS do financiamento governamental abriu a possibilidade de que milhões de americanos que dependem dessas estações, especialmente nos crescentes "desertos de notícias", percam o acesso à notícias. (LV)


🍂 Liberdade de imprensa em baixa. Já o relatório do Pew Research Center entrevistou 40.494 pessoas em 35 países sobre liberdade de expressão, liberdade de imprensa e liberdade na internet. Esta matéria do Nieman Lab, que repercutiu o estudo, destacou uma mudança na percepção dos estadunidenses:

“O Pew fez as mesmas perguntas em abril de 2024 e fevereiro/março de 2025 – antes e depois da posse de Trump. A mudança na percepção das pessoas é notável. Entre os republicanos, a parcela que descreveu a imprensa como ‘completamente livre’ subiu de 29% para 42% – enquanto para os democratas, o número caiu de 38% para 25%. Em relação à liberdade de expressão, os republicanos que viram liberdade total subiram de 19% para 35% – enquanto os democratas caíram de 36% para 30%. E quando se trata de ver liberdade ‘completa’ online, os republicanos dispararam de 35% para 60%, enquanto os democratas ficaram basicamente estáveis ​​(47% para 49%)”.

Na média dos 35 países, outra discrepância foi observada neste texto do Poynter: 61% afirmam que a liberdade de imprensa é muito importante, mas apenas 28% consideram sua mídia totalmente livre. Os autores chamam isso de “freedom gap”. Há uma lacuna semelhante para a liberdade de expressão: 59% a consideram muito importante, mas apenas 31% afirmam que a liberdade de expressão é totalmente exercida em seu país. (LV)


🍂 O Editor Existencial: notícias para humanos, por humanos. Na semana passada eu escrevi sobre um artigo da New Yorker sobre como a IA pode melhorar as notícias – ou melhor, o ato de se informar. Joshua Rothman, o autor, compartilhou como vem usando plataformas de IA para complementar a sua rotina informacional diária. Antes, fez uma crítica à lógica do ecossistema jornalístico informacional atual. Para Rothman, redundância, negatividade e bombardeio de estímulos fazem o público se afastar dos jornalistas e do jornalismo. Pois bem. Logo depois li um artigo de Line Vaaben para o Nieman Reports sobre a função que ela exerce no jornal Politiken, um dos maiores veículos da Dinamarca. Vaaben é a Editora Existencial do jornal. A função não tem nada a ver com Kierkegaard ou Sartre. Não se trata de escrever sobre filosofia, e sim dar espaço para reportagens centradas nas pessoas com um cuidado narrativo que privilegie os aspectos humanos das histórias.

“Nosso foco é explorar o que significa ser meramente e gloriosamente humano. Mas nosso trabalho vai além de simplesmente inserir histórias carregadas de emoção no ciclo diário de notícias. Nossas histórias devem estar enraizadas ou conectadas a algo relevante nas notícias ou no zeitgeist cultural. Nosso objetivo é que nosso jornalismo pareça urgente e significativo para o nosso público.”

Que grande cargo, não? Ainda mais em tempos de IA e em meio a um bombardeio de notícias que, se te perguntassem, talvez tu nem quisesse receber. Vaaben conta que um dos focos da, vamos dizer, Editoria Existencial, é falar sobre “etapas da vida”. São reportagens sobre nascimento, menopausa, tratamentos de doentes terminais, divórcio, aposentadoria, desemprego. Feminicídio, medo da guerra, segredos de família, ansiedade climática, satisfação no trabalho e epidemia de solidão também são temas para a equipe de Vaaben, que, além dela, conta com quatro jornalistas e um estagiário. Reportagens centradas nos seres humanos, argumenta, promovem uma reflexão necessária para fornecer “um contrapeso ao ritmo acelerado do noticiário”.

Um bálsamo.

“Nossas matérias também se esforçam para destacar a intersecção entre o indivíduo e a experiência humana compartilhada. Frequentemente usamos técnicas de jornalismo imersivo, com um personagem central conduzindo a história, mas também nos dedicamos ao jornalismo explicativo e investigativo. Através da lente do ‘jornalismo existencial’, convidamos nossos leitores e ouvintes a se aprofundarem na vida de outras pessoas, explorando conceitos como fé, poder, traição e esperança. Nosso objetivo é ajudar nosso público a compreender melhor os outros — e, consequentemente, a si mesmo.”

Sempre que uma história “existencial” é publicada, o sucesso. é garantido Segundo Laaben, leitores permancem mais tempo nessas matérias, compartilham mais nas redes sociais e geram mais assinaturas para o jornal do que outros tipos de conteúdo. “Em uma época em que a fadiga de notícias se tornou a norma e a confiança na mídia está diminuindo, o jornalismo existencial pode ser o antídoto.” A IA que lute. (MO)


🍂 Violência contra a mulher e o papel do jornalismo. A partir da análise da cobertura da imprensa de referência sobre o feminicídio da estudante da USP Bruna Oliveira da Silva, de 28 anos, no mês passado, a doutoranda da UFSC Raphaelle Batista faz uma reflexão necessária no objETHOS:

“Tragédias como essa não podem ser tratadas como o caso isolado de violência de gênero do mês ou da semana. Se, em um primeiro momento, a notícia é capaz de nos entristecer e indignar, na medida em que é atualizada como um mero folhetim, sem qualquer contextualização ou responsabilização do poder público e da própria sociedade, ela não serve para nada além de satisfazer o interesse mórbido de parte da audiência e a sanha algorítmica por engajamento das empresas jornalísticas, que dependem cada vez mais das plataformas.”

Raphaelle cita estudos que mostram como o Brasil é um país mais perigoso para as mulheres do que a média mundial para pedir uma mudança na cobertura do problema. Um exemplo desses dados: segundo pesquisa do Datafolha para o Forum Brasileiro de Segurança Pública, 21,4 milhões de brasileiras sofreram algum tipo de violência nos últimos 12 meses. “Há um contexto em torno da violência de gênero que passa por segurança pública, justiça, desigualdade social, machismo estrutural, cultura do estupro e uma série de outras questões que precisa ter lugar na cobertura desses casos. Isso inclui apontar e cobrar os atores políticos e sociais envolvidos, saindo da superfície normalizadora da linha do tempo e da mera reprodução da fala do delegado responsável pela investigação", escreve. Ela menciona dois veículos de comunicação com uma abordagem mais responsável: Portal Catarinas e revista AzMina, mas ressalta que não é necessário ser uma organização jornalística feminista para fazer melhor. Raphaelle sugere que os jornalistas utilizem as orientações do grupo de pesquisa Transverso – Estudos em Jornalismo, Interesse Público e Crítica, do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UFSC, que tem se dedicado a investigar os feminicídios na cobertura jornalística a partir da realidade de Santa Catarina. Trata-se de uma espécie de checklist para avaliar e rever procedimentos na cobertura de feminicídios. Fica a dica. (GC)


🍂 A era do conteúdo líquido. É assim que Sonali Verma, líder da iniciativa de IA generativa da International News Media Association (INMA), define o momento atual, em que a inteligência artificial pode mudar a linguagem e o formato do conteúdo jornalístico sem esforço. “Agora é o consumidor de notícias quem decide qual será sua experiência com as notícias, não o editor”, resume Verma. A síntese é resultado de uma masterclass em que especialistas da Time Magazine, JP/Politikens Group, The Telegraph, Scroll.in e Google Labs compartilharam como a IA está sendo usada para interagir com o público. O “slider de contexto” da Scroll.in, por exemplo, permite que o público ajuste a profundidade das informações de uma matéria com base em seu conhecimento ou no seu nível de interesse. Já o Google Labs está desenvolvendo uma ferramenta que aumenta ou diminui o tamanho das matérias de forma dinâmica, basta deslizar uma barra horizontal para direita ou para a esquerda para alterar o tamanho do texto – do tamanho original até um resumo contendo apenas duas palavras. Achei a ideia interessante porque ela conversa com um dos principais resultados do relatório sobre jornalismo local produzido na UFSC – que foi nossa análise da semana passada. Para os pesquisadores, as pessoas não se importam muito com o formato das notícias, e sim com a capacidade que o jornalismo têm para fazer diferença em suas vidas. Com a IA assumindo o trabalho de adaptar o conteúdo a formatos distintos com a simplicidade de apertar um botão, a gente ficaria – em tese – mais livre para produzir um jornalismo que seja útil para as pessoas. (MO)


💎 30 anos de jornalismo digital no Brasil. 2025 marca três décadas desde o surgimento dos primeiros jornais na internet, então chamada de “nova mídia”. Hoje, chega a ser um pleonasmo falar em jornalismo digital, já que veículos impressos, emissoras de rádio e de TV têm pelo menos parte de suas operações na internet. Mas há 30 anos, a revolução nas redações seria arrebatadora. Nesta análise, vamos viajar no tempo por meio deste capítulo que relata a trajetória do jornalismo digital brasileiro, publicado no livro “Histories of Digital Journalism: The Interplay of Technology, Society and Culture” (2024). Suzana Barbosa, professora e minha colega de UFBA; e Otávio Daros, da PUC-RS, assinam o texto.

Antes de destrinchar o material para nossos apoiadores, aproveito o gancho pra fazer uma propaganda: nos próximos dias 21, 22 e 23 de maio, o GJOL, grupo de pesquisa do Póscom/UFBA pioneiro no estudo do jornalismo digital no Brasil, promove um seminário para celebrar esse marco dos 30 anos. O evento será semipresencial (o que possibilita maior participação) e, além de apresentação de trabalhos acadêmicos, haverá mesas e palestras com gente muito boa: João Canavilhas, Paula Miraglia, Maia Fortes, Marília Moreira e Nina Santos. Como vice-coordenadora do GJOL, fica aqui meu convite para todos (as) vocês. (LV)

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