Crise climática vai atravessar o jornalismo e exigirá cobertura atenta e abrangente em 2024
Oitava edição do projeto realizado pelo Farol Jornalismo e pela Abraji indica que, em 2024, o público vai contar com o jornalismo para compreender e agir diante das mudanças climáticas
Em 2023, os brasileiros perceberam que as mudanças no clima não são uma preocupação para o futuro. Seca histórica na Amazônia, ondas de calor no sudeste, Pantanal em chamas e enxurradas no sul evidenciaram não apenas que a catástrofe é real, mas que ela já está acontecendo. E quando uma crise bate à porta, as pessoas recorrem ao jornalismo para tomar decisões melhores. É o que está acontecendo com a emergência climática.
Em 2024, o jornalismo vai precisar incorporar a crise climática no seu discurso.
As eleições municipais de outubro podem ser uma boa oportunidade. Em geral despreparados para lidar com temas que exigem prevenção, as autoridades públicas estarão expostas ao escrutínio de uma população que está sofrendo na pele as consequências de um problema multidimensional, e portanto escorregadio no que diz respeito à atribuição de responsabilidades. Ligar os pontos será o nosso trabalho.
A desinformação, como sempre, será um dos maiores desafios. Especialmente porque é longe dos centros urbanos e nas periferias das grandes cidades onde os desertos de notícias se mostram mais áridos. E são nesses lugares, quando o calor sufoca ou a água chega na porta, que as notícias falsas se aproveitam para tomar o lugar das informações precisas e da ação do poder público, ou da falta dela.
Uma das saídas para o jornalismo — como temos observado nos últimos tempos — é se aproximar das audiências. Talvez esteja aí um desafio geracional. Porque tal tarefa exige não apenas ser transparente e de fato perguntar o que lhe interessa. Para isso, é preciso ter redações mais diversas e capazes de conquistar uma parcela da sociedade que nunca foi efetivamente contemplada pelo nosso discurso: as crianças e os jovens.
O desafio será narrar, sim, o que está acontecendo, mas também incorporar uma temporalidade que se afasta da batida diária (instantânea!) das notícias, de modo a oferecer uma compreensão mais complexa dos eventos cotidianos. A cobertura de segurança pública é um exemplo. Em uma dimensão mais ampla, os saberes dos povos originários — e as narrativas produzidas por eles — também serão cruciais. Em 2024, o jornalismo precisará estar mais atento à comunicação indígena e aos profissionais que a produzem.
É uma tarefa gigante. Não bastasse ter de dar conta de um cenário global cada vez mais complexo, ainda precisaremos entender como a inteligência artificial pode beneficiar o nosso trabalho. O primeiro passo é incorporá-la aos processos da profissão de maneira a colocá-la a serviço do jornalismo, e não o contrário. O mesmo vale para a discussão sobre as plataformas de rede social, cuja regulação deve avançar no ano que vem.
É o que projetam os 11 autores e autoras convidados por Farol Jornalismo e Abraji para esta edição d’O jornalismo no Brasil, especial que há oito anos reúne jornalistas e pesquisadores para refletirem sobre o que esperar do jornalismo no ano que se aproxima.
Assinam as projeções para 2024 Ana Regina Barros Rêgo Leal, Ariene Susui, Cristina Tardáguila, Fausto Salvadori, Gabi Coelho, Giovana Girardi, Jamile Santana, Juliana Doretto, Maurício Ferro, Sanara Santos e Thaís Helena Furtado.
Abaixo, estão os todos os textos. Leia e reflita sobre a ideias de cada um deles. Compartilhe com amigos e colegas. Sozinhos não conseguiremos dar conta da complexidade imposta pelo mundo. O convite é para que, em 2024, pensemos juntos o jornalismo que queremos ter e fazer.
Bom final de ano a todos e todas!